Messias Pontes – Sem proposta, tucanos apelam para ética udenista

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Insatisfeito com o seu isolamento pelos próprios tucanos, o ex-presidente Coisa Ruim (FHC) propôs comparar os seus oito anos com os do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Talvez para se vingar do então governador de São Paulo, José Serra, que quer tudo, menos que a campanha eleitoral para presidente da República seja plebiscitária, ou seja, ligá-lo ao desgoverno tucano-pefelista, e Dilma Rousseff ao presidente Lula.

Agora, ao deixar o governo paulista, o tucano José Serra afirmou com ênfase udenista “não ser governante que cultiva escândalos e roubalheiras”. Isto também interessa e muito à pré-candidata petista Dilma Rousseff. Ela e seus aliados querem, e muito, fazer a comparação ética entre os dois períodos de governo, embora pretendam mesmo apresentar propostas viáveis para dar continuidade ao que foi conquistado nos últimos oito anos e avançar mais ainda no rumo de um Brasil desenvolvido e socialmente justo.

É oportuno lembrar que a velha UDN, da qual o demotucanato é legítimo herdeiro, sempre apostou no falso moralismo e se deu mal. Levaram o presidente Getúlio Vargas ao suicídio em agosto de 1954, acusando-o de manter um mar de lama no Palácio do Catete e depois foram totalmente desmoralizados, tendo de recuar, pois nenhuma acusação se confirmou, pelo contrário, ficou provado que Getúlio era um político honesto.

Jânio Quadros, um dos principais líderes da UDN, fez sua campanha contra o marechal Henrique Teixeira Lott dizendo combater a roubalheira, tanto que usou como símbolo da sua campanha a vassoura “para varrer a sujeira da corrupção. Renunciou com nove meses de mandato e, depois de morto, seus filhos foram brigar na Justiça pelos milhões de dólares ilegalmente depositados em paraísos fiscais, dinheiro esse roubado dos cofres públicos.

E quem não se lembra do Fernando Collor de Mello, em 1989, verberando ao ponto de quase romper a jugular chamando o presidente José Sarney de ladrão? Toda a sua campanha foi feita sob o manto da ética e acabou sendo o primeiro presidente da história a ser escorraçado do Poder justamente por corrupção.

Se o demotucanato baixar demais o nível da campanha, toda a roubalheira do período de 1995 a 2002 vai ser mostrada com vídeos e fotos. Inclusive com Serra entregando as ambulâncias superfaturadas no escândalo conhecido como sanguessuga. Os escândalos da reeleição, da privataria, do DNER, do Sivam, da Pasta Rosa, do Proer, do grampo do BNDES, da Sudam, da Sudene e muitos outros também vão ser expostos para desmascarar os falsos moralistas.

Essa “ética tucana” irá rapidamente para o esgoto quando José Serra quiser se apresentar como o pai dos remédios genéricos, já que está gravado o desabafo do ex-presidente Itamar Franco desmascarando o ex-ministro da Saúde do desgoverno tucano-pefelista: “O Serra está mentindo, pois os genéricos foram criados pelo ministro Jamil Haddad, no meu governo”.

É sempre oportuno lembrar o que enfatizou o jurista Modesto Carvalhosa, ex-membro da Comissão Especial de Investigação criada no governo Itamar Franco para apurar denúncias de corrupção e que foi extinta por decreto do Coisa Ruim no primeiro mês do seu desgoverno:

“O governo Fernando Henrique Cardoso, para decepção geral do País, apresentou o mesmo comportamento de antigos governantes que julgavam ser a corrupção problema dos governos anteriores e que não ocorreria no seu. Essa atitude, ao mesmo tempo ingênua e perversa, foi assumida pelo governo Fernando Henrique Cardoso que se julgou acima do bem e do mal, achando que nenhum dos agentes da corrupção que se infiltraram no poder federal sistematicamente há muitas décadas iria fazê-lo. Infelizmente, verifica-se que no governo FHC a corrupção grassou de forma nunca vista antes”.

O também jurista Antonio Carlos Biscaia desmascara o falso moralismo dos neo-udenistas: “Os casos relatados por Larissa Bortoni e Ronaldo de Moura em O Mapa da Corrupção no Governo FHC possibilitam aos leitores analisar o comportamento dos corruptos e refletir sobre o que deve ser feito. É nosso dever enfrentar a corrupção, o que significa enfrentar a criminalidade sofisticada, intelectualizada e poderosa, encastelada nos estamentos superiores de nossa sociedade”.

Duas perguntas apenas: por que José Serra não quer o Coisa Ruim no seu palanque, e por que não tira uma foto com ele para o seu cartaz de candidato?

Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE

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