Ivina Carla – Caso Nardoni: Resolvemos a violência no Brasil?

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Acabou o julgamento do casal Nardoni. Claro que o desfecho nós já sabíamos, condenados por homícidio, ocultação, fraude nas investigações entre outras questões. A mídia passou a semana fazendo a cobertura de todo o processo e as edições, fontes que falavam sobre o momento no Fórum foram decisivos para despertar a ira popular. Inclusive, os espectadores, curiosos e defensores da justiça, não se pouparam nas tentativas de palicar o Código de Hamurabi, ao cruzar com a família dos acusados, com o advogado, tive medo de que os filhos dos Nardoni chegassem no local e as pessoas fizessem justiça com as próprias mãos.

Ao noticiar o fato, a mídia conseguiu arrancar dos brasileiros o que eu considero uma característica forte do ser humano, que é a capacidade de se indignar. Pois bem, essa palavra indignação não pode ser somente fruto de uma emoção, tem que ser razão também. O que os grandes veículos de comunicação tentaram e conseguiram com esse fato foi mostrar que cumpriram seu dever de casa, tornando o caso "relevante", os justiceiros prévios atingiram o objetivos de fazer com que as pessoas amargassem a dor da perda de uma inocente e com isso tomassem atitudes, como nós vimos esta semana, cidadãos que sairam de suas casas, para no mínimo gritar a palavra "assassinos", como forma de tentar fazer justiça. E mais, a mídia "competente” prova que suas veículações e espetacularizações é um serviços para a sociedade de cunho positivo, e vive da "eterna falta do que falar" alimentando seus programas com propostas que abalam a opinião pública.

Agora pergunto, resolvemos o problema da violência? O que tornou o caso da Isabella Nardoni chocante foi a abordagem em torno do fato, a veiculação dada centenas de vezes ao dia fez com que a Teoria da Agulha Hipodérmica se concretizasse, sem nenhum tipo de barreira. O Brasil engoliu o caso e o estímulo- resposta foi imediato, com uma sentença definida desde a suspeitas do crime. Me permito dizer que nos morros e comunidades, a violência do Estado contra o cidadão é frequente e acontece todos os dias, crianças estão morrendo e vão continuar, porque a violência é um mal arraigado dentro dessa sociedade e faz parte do projeto capitalista, é um problema nas relações sociais, devido a dinâmica destruidora do sistema. Não vamos cair na "besteira" de pensar que ir ao Fórum gritar "assassino, assassino" vai resolver a violência no Brasil. A medida em que o capitalismo exige da sociedade meios para a sua sobrevivência, ele joga o ônus dos seus males para o povo. O capitalismo só propõe a degradação humana e a falta de reflexão sobre algumas questões que são essenciais para o indivíduo como o "saber para transformar", que estão sendo deixados de lado, como algo secundário e assim a mídia vai cumprindo seu papel como propagadora das ideias dominantes.

Pedir justiça pra mim, não é exigir a criação de novos presídios, de policiamento "para distúrbios sociais" (aqueles que descem do carro chamando Deus e a humanidade de vagabundos) ou desmerecer a nossa Carta Magna afirmando, que ela não serve para nada. Para exigir justiça é necessário compreender a realidade, observar e propor transformações para amenizar essa agnosia vivida no mundo. Se nós não antentarmos a responsabilidade de que é preciso mudar o rumo da sociedade, outras meninas vão morrendo e morrerão das formas mais absurdas. Essas anomias devem ser entendidas e repugnadas com a atenção de, não alertar essa indignação somente quando os horrores acontecem, mas lutar para vencer um mal criado nessa sociedade e que precisamos nos libertar. Essa mídia não nos serve, pois deturpa e aplica a Teoria do Agendamento em nossas vidas, esse grande veículos de comunicação não estão preocupados se morreu A, B ou C, o papel deles na sociedade é imunda, eles precisam desses apelos para afastar a sociedade de discussões que direta ou indiretamente podem influenciar e apontar outra dinâmica para as relações sociais, para que isso não aconteça, eles continuaram movendo o indivíduo pela emoção. Precisamos denunciar esses atos de covardia, mas também ensaiar um embate bem maior que é a superação dessa sociedade fracassada que dissemina a violência e a miséria humana.

Fonte: Blog da Ívina Carla