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É hora de definição e de construção programática

Na reunião da Comissão Política Nacional do PCdoB na última sexta-feira, 26, o presidente do PCdoB analisou aspectos da conjuntura internacional e nacional e acentuou a necessidade de construir o programa da candidatura de Dilma Roussef à presidência da República. Vermelho apresenta os principais pontos da intervenção de Renato Rabelo.

É importante, disse ele, levar em conta a decisão tomada pelo Congresso dos EUA em relação ao problema da universalização da saúde. A sociedade americana, entretanto, está dividida. Foi uma vitória importante do presidente Barack Obama, que capitaliza essa decisão com ganhos políticos internos. Na política externa, no entanto, não há mudanças de essência na ação do imperialismo norte-americano, mas fundamentalmente de fachada. No Oriente Médio, Israel mantém sua ofensiva radicalizada contra o povo palestino, criando algumas contradições com a tentativa americana de simular um acordo de paz. O Brasil procura jogar papel no sentido de estabelecer pontes entre as partes em conflito, posição violentamente criticada pela grande mídia reacionária tupiniquim.

A crise na Europa revela suas fraquezas

A crise na Europa, por seu turno, se profunda. O problema da Grécia, lembrou Renato, por exemplo, é a ponta do iceberg, que atinge também a Espanha (com desemprego recorde e massivo), Portugal, Irlanda e Itália. A Grécia não tem recursos para saldar seus compromissos com a banca internacional. A situação grega é o resultado de uma unidade comercial e monetária entre desiguais na Zona do Euro, na qual a grande beneficiária é a Alemanha. Ao déficit grego corresponde parte do superávit alemão. Aconselha-se à Grécia, argumentou Renato, um maior endividamento – com a venda de títulos do governo no mercado de capitais – e corte de gastos sociais. A Alemanha e França discordam sobre a participação do FMI no pacote de ajuda. Procura-se uma solução, ainda não encontrada, propriamente européia.

Enquanto isso, a prioridade da cúpula dominante mundial é o Irã. Israel pode tudo: possuir armas atômicas, desrespeitar as decisões da ONU, manter mais de 11 mil presos políticos, matar os palestinos e utilizar a tortura diuturnamente em sua atividade repressiva. No Brasil, a grande mídia apóia os EUA e sua política, contra a posição avançada do governo brasileiro. Renato destaca que a crítica da mídia conservadora promove é contra a política externa brasileira em bloco. A política do Brasil quanto ao Irã é independente, soberana e correta. E a pressão internacional sobre o país é enorme. Uma questão parecida com esta é a campanha que o imperialismo desencadeou mundialmente contra Cuba, alegando problemas no trato de direitos humanos por parte do governo cubano. Neste ponto há também o esforço continuado da mídia para dar projeção às mentiras e desinformações propaladas pela propaganda anticomunista.

A luta eleitoral e o projeto do PCdoB

Não podemos perder de vista nosso projeto nacional de eleger Dilma Rousseff – dando continuidade ao ciclo político inaugurado por Lula — e consagrar uma bancada de mais de 20 deputados federais e a eleição de três a quatro senadores e senadoras, insistiu Renato Rabelo. A campanha eleitoral chega ao ponto decisivo com as desincompatibilizações no início de abril. É hora de definições. Dilma Rousseff deve deixar suas funções e assumir plenamente a campanha ainda como pré-candidata do PT. O governador de São Paulo José Serra se prepara para sair e lançar sua pré-candidatura no dia 10 de abril próximo em Brasília. Chegou o período de definições. O próprio Partido Comunista do Brasil deverá anunciar seu apoio a essa postulação de Dilma no dia 8 de abril, em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

A luta pré-eleitoral – que não permite realizar formalmente as campanhas e onde as normas não são totalmente explicitas. O presidente Lula já foi multado várias vezes e José Serra inaugura obras várias vezes e até agora não foi autuado

O papel oposicionista da grande mídia

A grande mídia se torna cada vez mais o principal pólo de oposição ao governo, inclusive com caráter claramente obscurantista, reacionário, de direita. Se mostra revoltada e até desesperada, com os sucessivos resultados das pesquisas de opinião sobre o presidente Lula, seu governo e a candidata Dilma. Os principais eixos são: a política externa do governo, o denuncismo de corrupção (requentando denúncias como a contra o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto), a falácia do “crescimento”dos gastos públicos, que incluem a tentativa de rotular o PAC como “ineficiente”etc. A grande mídia desde 1989 adota o mesmo comportamento, diante das pesquisas de opinião favoráveis ao Governo, à candidata e ao próprio Lula, tentando desmontar a candidatura proposta por Lula. É a santa aliança da mídia contra o Governo e seus aliados.

A frente de apoio a Dilma se consolida com as iniciativas do PT, PMDB, o PCdoB, o PDT, o PRB. O vice do PMDB, ao que tudo indica, deve ser Michel Temer – atual presidente da Câmara dos deputados. Nos Estados as candidaturas se firmam, e em muitos casos existem dois palanques. Em Rondônia existem três palanques e a tendência é haver certa decantação. As coisas vão se definindo. No Rio Grande do Sul poderá haver dois palanques com José Fogaça e Tarso Genro. Em Minas Gerais a situação ainda está indefinida, com impasses. Em São Paulo o PT vai se organizando em torno da candidatura do senador Aloísio Mercadante e o PSB tende afirmar sua opinião em torno de Paulo Skaf como candidato. Ciro Gomes está sem clareza política e programática.

Serra criou arestas com o governador Aécio Neves e os mineiros. Sua estratégia tem sido procurar apagar as diferenças entre Lula e Fernando Henrique Cardoso, despolitizar o pleito, querendo comparar os “perfis”das candidaturas, zerando as comparações programáticas. No pós-Lula tudo se iguala, o que decide são os “perfis”dos candidatos.

As questões programáticas

O Partido vem estabelecendo vários debates sobre as bandeiras e o programa de campanha. Essas discussões devem levar em consideração algumas questões-chave, como a piora das contas externas brasileiras – o déficit em conta corrente esperado para este ano é de cerca de US$ 50 bilhões com perspectiva de agravamento. Esta situação é fruto da política de juros e do câmbio. Com as forças de mercado liberadas – internas e externas – tem havido uma continua valorização da moeda brasileira, com consequencias nefastas para a produção industrial do país. Os juros reais estão no patamar mais alto do mundo, com consequências nefastas para a produção industrial do país. Os juros reais altos permitem que se promova uma grande especulação permanente contra o Real. A gestão da política cambial, disse Renato, é historicamente um elemento central da política econômica das nações. As estimativas indicam que apenas 1% das operações de taxa de câmbio está atrelada a operações de exportação e importação de bens e serviços. Ou seja, 99% da taxa de câmbio são determinadas pelo mercado de ativos financeiros.

Nossa posição tem rumo, tem caminho. O PCdoB sempre teve independência desenvolveu sua concepção estratégica e tática em seu último 12º. Congresso. O. PT tende mais à esquerda e a pré-candidata Dilma se mostra como liderança avançada. 2010 não permite aventuras, são dois projetos e o povo quer continuar e ir adiante. Avançar, avançar e avançar – é o caminho, como diz Dilma. Não se trata de simples continuidade.

Pedro de Oliveira, de São Paulo
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