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Rússia: Comunistas festejam resultados eleitorais

No dia 14 de março foram realizadas na Rússia eleições para diferentes órgãos de governo regionais. Em oito regiões foram renovados os parlamentos. O Partido Comunista da Federação Russa participou de todas elas. Iván Mielnikov, vice-presidente do Comitê Central do PCFR e coordenador de campanha, reuniu a imprensa do país em uma coletiva para comentar os resultados obtidos pelos comunistas.

"Faziam parte destas eleições de 14 de março algumas regiões não muito cômodas para o PCFR. Em fevereiro deste ano, o Centro de Investigações Sociológicas "Opinião Pública" — que trabalha para o governo — nos dava alguns resultados que oscilavam entre 4% e 12%.

Por Iván Miélnikov, para o site do Partido Comunista da Federação Russa

Evidentemente eram cifras rebaixadas, para provocar, mas, em todo caso, sabiamos que nossos resultados nessas regiões da Federação Russa eram nada deslumbrantes.

Não obstante, ao fazer uma avaliação conjunta das oito regiões, em geral não só melhoramos em relações a eleições anteriores como nosso partido se elevou a um nível de apoio qualitativamente superior. E obtivemos esse resultado não só porque houve menos fraudes, cujo número segue alto, mas conseguimos isso apesar da máquina administrativa.

Em 7 das 8 regiões ocupamos o segundo lugar, confirmando o status de pólo alternativo, de principal oponente à ação do governo. A única exceção foi a região de Yamalo-Neniets, mas é uma exceção pouco relevante para o mapa política da Rússia. Os resultados oficiais, que geraram satisfação, são os seguintes:

Na região de Kurgán, que nas eleições anteriores obtivemos 10,9% e nas legislativas para o parlamento, de 20017, perto de 21%, agora conquistamos 25,21% dos votos

Na república de Altai, na qual obtivemos 8,8% dos votos na eleição anterior e 7,99% para a Duma (parlamento nacional), agora chegamos a quase 25%.

Na região de Sverdlovsk, tivemos 12,2% e 7,65% para a Duma, agora chegamos a quase 22%.

Em Kaluga, vinhamos de 13,4%, repetidos em 2007. Agora obtivemos 21,5%.

Na região de Riazán, nas eleições anteriores obtivemos 15,2%, 15,6% para a Duma em 2007 e 19% agora.

Em Khabárovsk, nas regionais chegamos a 15,5% e para a Duma 10,98%. Agora obtivemos 19% dos votos.

Em Voróniej, de 13,7% e 16,7% para a Duma, passamos a 18,6% neste domingo.

Tampouco fomos mal em Yamalo-Neniets, apesar de termos "cedido" a segunda posição para o Partido Liberal Democrata (de Jirinóvski). Nas eleições anteriores obtivemos 7%, enquanto que para a eleição da Duma o resultado foi de 4,15%. No domingo chegamos a 8,57%.

É muito importante assinalar que o auemnto não foi somente porcentual, mas também do número real de membros e simpatizantes do partido.

Por exemplo, somente na região de Sverdlovsk, cerca de 20 mil pessoas a mais apoiaram os comunistas.

De acordo com estes resultados podemos constatar três claras tendências.

Primeira: a queda no apoio ao partido Rússia Unida (governista) é notável. Foi generalizado. Em apens uma região, em Voroniéj, o partido situacionista conseguiu superar o já supreendente resultado obtido nas eleições para a Duma em 2007. Na época, obtiveram 57,5% dos votos. No domingo chegaram a 62%.

Em geral, podemos dizer que eles obtiveram resultados mais ou menos comparáveis com os que conseguiram nas eleições regionais anteriores, mas significativamente piores que nas últimas legislativas de 2007. E a palavra "significativamente" é aqui muito importante: é uma queda de 15% a 20% de média.

Vejamos alguns exemplos:

Em Kurgán eles tinham mais de 64% e agora obtiveram 41%. Em Khabárovsk, haviam passado de 60% e agora mal chegaram a 48%. Na república de Altai tinham quase 70% e agora somente 44%.

Em uma das regiões, Sverdlovsk, obtiveram o pior resultado dos últimos anos, contando todas as eleições. Chegaram a 39,8% dos votos, quando sempre rondavam os 60%.

Las eleições de 14 de março mostraram que estamos diante de uma "Rússia Unida" em declínio. Seguem contando com a mesma quantidade de barreiras agressivas, embora sejam cada vez menos efetivas e estejam em queda livre. Passaram do ponto de "não retorno" na confiança das pessoas, aquela marca que permite continuar mantendo uma dinâmica positiva. De um modo mais rápido ou mais lento, a tendência é continuar em queda.

E o uso da máquina administrativa ainda permite a eles seguir flutuando, ocupando os primeiros postos, alguns índices altos, mas que já não são expressivos. A aposta política socio-econômica antes das eleições de "morder e soprar" fracassou, já que só sobraram alguns dentes quebrados. A principal notícia destas eleições não foi sequer seus resultados, mas o fato de que, durante um longo momento, não houve notícia alguma sobre as próprias eleições.

Em 11 de outubro de 2009 (quando foram realizadas eleições em outras regiões), todos os canais de televisão mostravam as celebrações, os festejos nos locais onde se comemoravam os resultados. Nesta ocasião houve apenas o silêncio.

Os "russounidos" pareciam não ter nenhum comentário a fazer, especialmente depois de conhecer a massacrante vitória de nosso candidato à prefeitura de Irkutsk, onde a correlação de forças tornou-se 60% a 30%, aproximadamente.

A segunda tendência é que o programa do PCFR começa a receber apoio cada vez maior. E não só em palavras. Assim, por exemplo, com a denúncia do aumento selvagem das tarifas comunais (calefação, água, eletricidade, gás e esgotos), acertamos em cheio com nossa tese de que o pagamento desses serviços não deve ser nunca superior a 10% da renda familiar.

Essa é uma proposta que conduzimos a muito tempo, e que nesta ocasião se converteu em uma de nossas armas propagandísticas decisivas, que sem dúvida jogou um papel importante no 14 de março. Importante também foi a participação das ações de protesto, a ativação dos atos de rua, a condução de protestos em defesa dos direitos dos cidadãos. Os eleitores começam a entender que os problemas na economia, o aumento do desemprego, tem sua origem na atual correlação de forças políticas. Também teve influência a recente publicação atualizada dos ativos da oligarquia russa.

As pessoas puderam comparar a que interesses servem as "medidas anticrise" do governo: as fortunas dos principais magnatas duplicaram neste ano de crise.

Nesta campanha eleitoral, na qual nos apresentamos muito ativos, o partido situacionista se mostrou extremamente nervoso, cansado e até cômico. Concentraram todos os seus esforços em dois momentos. Um, a propaganda contra a oposição, recorrendo aos métodos mais sujos, com uma sanha especial em Riazán. E, por outro lado, pretenderam jogar toda a responsabilidade pelo fracasso de suas políticas nas costas de alguns supostos "funcionários locais", sem nenhuma relação com o Rússia Unida.

Mas, todas essas artimanhas sobre a atual realidade só podem ser eficazes com os que estão de acordo que o resultado da soma de dois mais dois seja cinco.

Terceira tendência: a tática de equiparar artificialmente nossos resultados com os do PLDR e o "Rússia Justa" com o fim de evitar uma enfrentamento cara a cara. Isso é algo que não podemos ignorar, não podemos deixar de considerar que estão no nosso espelhor retrovisor.

Tivemos uma distância cômoda nos resultados oficiais em Voroniéj, Kurgán e Kaluga, com uma distância entre 8% e 10% aproximadamente. No restante das regiões os resultados foram mais aproximados.

E, se a presença do PLDR historicamente foi relevante em uma série de regiões, e era de se esperar que com os protestos de rua a sua situação pudesse melhorar um pouco, é mais comlicado explicar o crescimento do "Rússia Justa". Há várias causas para isso.

Em primeiro lugar, eles foram os receptores dos votos daqueles que se decepcionaram com o "Rússia Unida". São votos de alguns eleitores que no momento ainda não estão preparados para votar nos comunistas, mas que já não votam mais no Rússia Unida.

O "Rússia Justa" representa para eles uma espécie de compromisso interno, mais ainda se pensarmos que entre esses dois partidos há um pacto, uma coalizão. Nossa tarefa é conseguir que esse compromisso seja temporário, para conquistar esses eleitores no futuro.

Em segundo lugar, é um reflexo de uma decisão governamental, uma diretriz aos governos regionais, celebrada em janeiro, para conseguir colocar o Rússia Justa nos parlamentos regionais a qualquer preço.

Não podemos duvidar do nosso papel como principal alternativa de governo, mas não podemos deixar de continuar a explicar às pessoas qual é o principal rosto do "Rússia Justa"

Especialmente quando em vários desses parlamentos regionais eles se coligarem com o Rússia Unida, para manter a maioria dos situacionistas.

Em relação às fraudes, volto a sublinhar: as eleições de 14 de março, primeira eleição após a reunião do Conselho de Estado em janeiro, demonstram que o problema continua sendo grave, embora o arsenal de métodos tenha diminuído.

A maior carga de infrações e violações se deslocou do centro para as áreas rurais, onde é mais difícil para fiscalizarmos.

Ao mesmo tempo, estamos recolhendo dados de todos os casos que vamos denunciar e vamos preparar novos materiais que entregaremos às instâncias judiciais. Especialmente aqueles que são claríssimos, como os cartões de felicitação que um dos governos regionais divulgou por causa do dia 8 de março, onde era possível ler um pedido para que se votasse no Rússia Unida.

Estamos seguros de que se as eleições tivessem sido limpas, nossos resultados seriam notavelmente superiores. "

Fonte: La Conquista de la Civilización Socialista