Sávio Hackradt faz duras críticas à classe política do Estado

No centenário do Jornal O Mossoroense, o Editor de Política, Bruno Barreto, fez uma entrevista com o pré-candidato ao Senado pelo PCdoB, o jornalista Sávio Hackradt. 

O Mossoroense: Quem é Sávio Hackradt?

Sávio Hackradt: Eu sou natalense, nascido na Rua Trairi, em Petrópolis. Estudei minha vida inteira em Natal até terminar o curso de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Trabalhei nos principais veículos de comunicação do Estado. Comecei minha militância política na UFRN no PC do B na década de 1970. Comecei a trabalhar em campanhas políticas do Rio Grande do Norte na disputa pelo Senado em 1978, entre Jessé Freire e Radir Pereira, fiz campanha para Aluízio Alves em 82, Garibaldi em 85, Geraldo Melo em 86, Lavoisier em 90 no segundo turno, enfim sempre tive envolvido em política. Também fui presidente do Sindicato dos Jornalistas, fundei a Cooperativa dos Jornalistas de Natal. Saí daqui em 85 e fui morar em Brasília e em São Paulo e voltei ao aceitar convite do PC do B para esse desafio de ser candidato ao Senado.

OM: O senhor sendo candidato ao Senado e tendo uma vida ligada ao marketing político com certeza vai tirar proveito disso. Como será um "marketeiro" candidato?

SH: Eu já comecei a usar meus conhecimentos de marketing quando aceitei o desafio. Eu tenho conhecimento da política do Rio Grande do Norte. Já fiz muitas campanhas aqui. Conheço pesquisas aqui desde 1986, na campanha de Geraldo Melo, eu tenho conhecimento sobre as disputas eleitorais do Rio Grande do Norte. Isso me ajudou a aceitar quando foi feito o convite. O Rio Grande do Norte está precisando e esperando uma renovação na política. Digo isso com base em pesquisas. Esse mesmo eleitor que quer renovação é cauteloso porque tem medo de trocar seis por meia dúzia. O que não é o nosso caso. Queremos realmente renovar. Não vamos cair nesse discurso fácil de eu sou o novo, eu sou a renovação. Isso não é suficiente. É preciso apresentar propostas para que a sociedade acredite nisso. E nós temos propostas para as principais questões do desenvolvimento econômico do Estado para colocar na hora certa no debate político.

OM: Na visão do eleitor, os políticos do Rio Grande do Norte estão ultrapassados?

SH: Estão ultrapassados. Isso não é só a minha visão. As pesquisas mostram isso. Quer queira quer não a nossa elite política está completando um ciclo que eu classifico de viciado e vicioso de 40 anos. São as mesmas pessoas se repetindo nas principais funções públicas do Estado. Então não tem como não se desgastarem com o eleitor, até mesmo pelo tempo. Além do desgaste do tempo há o desgaste da ausência deles para colocar o Rio Grande do Norte num novo trilho, num novo rumo… Os problemas do Rio Grande do Norte são os mesmos de 30, 40 anos atrás. Repetem-se historicamente. Quem são os responsáveis por isso? São os que estão se revezando nas cadeiras do poder.

OM: Por que eles não resolvem esses problemas?

SH: Só quem pode responder são eles que ocuparam os principais cargos do Rio Grande do Norte. Como é que eles propõem a renovação? De pai para filho, de pai para filha, para parente. A renovação política no Rio Grande do Norte se dá meramente por DNA. Pode até ser assim, mas não só dessa maneira. É preciso que haja um arejamento da política em todas as áreas. Isso está ocorrendo em vários Estados brasileiros e por que não no Rio Grande do Norte? Não há justificativa para isso.

OM: Por que estrear na política disputando o Senado?

SH: Primeiro, porque o convite foi para isso. Segundo, porque são duas cadeiras para o Senado. Então o eleitor do Rio Grande do Norte tem a oportunidade de dar dois votos para o Senado. Além do mais o Senado brasileiro é uma grande vergonha. Vai ocorrer uma grande renovação do Senado brasileiro e não é possível que isso não ocorra no Rio Grande do Norte. Não é possível que o Rio Grande do Norte seja um dos poucos Estados do Brasil que compactue com tudo isso que aí está.

OM: O seu partido, o PC do B, acabou se aliando a um partido que tem como candidato ao Governo do Estado Carlos Eduardo, que é um legítimo representante desse ciclo viciado e vicioso da política do Rio Grande do Norte que o senhor citou no começo da entrevista. Qual a explicação?

SH: Carlos Eduardo é "Alves". É a sua origem familiar, mas Carlos Eduardo rompeu com a família e não é de agora. Esse rompimento vem desde de quando ele foi prefeito de Natal e saiu do PMDB. Não é por causa dessa candidatura que ele está rompendo tanto é que os primos dele não o apoiam. O senador Garibaldi (Filho) está com uma candidata (a senadora Rosalba Ciarlini) e o deputado (federal) Henrique está com outro candidato (o vice-governador Iberê Ferreira de Souza). Ele sequer tem o apoio da família dele. Está fora, enquanto candidatura, da estrutura oligárquica do Estado. A gente enxerga Carlos Eduardo como um excelente prefeito e não somos só nós que enxergamos isso: é a população de Natal e da Grande Natal. Todas as pesquisas apontam que Carlos Eduardo foi o melhor prefeito da história recente de Natal. Ele é até comparado a Djalma Maranhão, da década de 1960, que foi o melhor prefeito para muita gente. Até os adversários o reconhecem como um grande administrador. Ele tem “handicap” para entrar numa disputa eleitoral do Rio Grande do Norte.

OM: Existe espaço para que Carlos Eduardo repita o feito de Wilma em 2002 e ser eleito pela chamada terceira via?

SH: Carlos Eduardo é o grande fato novo dessa eleição. Não se trata de repetir o feito de Wilma porque a história não se repete dessa forma. O cenário é outro. Wilma quando construiu a candidatura foi em outro cenário político. Carlos está construindo num cenário diferente do dela com outras forças. O cenário nacional está completamente diferente. O Brasil está em outro rumo, em outra direção, caminhando para o patamar de país desenvolvido. Tudo isso mostra que estamos em outra conjuntura. Cada eleição tem que ser analisada de acordo com a conjuntura política, econômica e social.

OM: Tanto a sua candidatura como a de Carlos Eduardo vinham sendo ignoradas. A união PDT e PC do B mudou isso?

SH: É natural que sim. Esse povo que está no poder há 40 anos quer se perpetuar e qualquer fato novo ou novidade eles preferem ignorar. Só que eles não são donos da cidadania e esse novo caminho que está sendo construído no Rio Grande do Norte via a aliança PDT/PC do B vai apresentar no decorrer desse processo aos potiguares um novo caminho fora dessa discussão tradicional e eles vão ter que olhar para a gente.

OM: A política do Rio Grande do Norte sempre fica no que o deputado estadual Fernando Mineiro classifica de "nhe-nhe-nhem". Não falta um debate em torno do propostas?

SH: Falta. Porque eles querem se perpetuar no poder. Quanto mais eles deixarem de fora a discussão principal e ficar nesse "nhe-nhe-nhem", nesse "tró-ló-ló", nessa fulanização de só falar em nome de A, B ou C com a apoio de D e E. Ficar nessa discussão boba interessa à elite política, mas não à cidadania. A população chegou a um padrão de nível de informação que hoje em qualquer ponto do Rio Grande do Norte temos Internet, rádio e televisão. Então o cidadão e a cidadã estão se informando e sabendo cada vez mais que não adianta mais ficar nisso porque eles querem mais. Nós estamos do lado dessa sociedade que quer construir um novo mundo. Está em construção no mundo uma nova sociedade e o Brasil já embarcou nisso no governo Lula. O Rio Grande do Norte precisa embarcar nesse trem.

OM: Fico à vontade para fazer essa pergunta porque a senadora Rosalba Ciarlini já me disse em entrevistas que não é o momento de falar em propostas. Mesmo assim ela é tida como líder nas pesquisas. Será que o povo do Rio Grande do Norte está acompanhando essas mudanças?

SH: Esse é um estilo velho de política. Eu e Carlos Eduardo nos propomos a um novo estilo. A uma nova perspectiva que em todas as horas, em todos os minutos, todos os dias iremos discutir propostas com a sociedade. Quem não está nesse campo vai ficar atrás, é coisa velha. Estar liderando pesquisa hoje significa pouca coisa, muito pouca coisa. Em 2006, por exemplo, era candidato a governador e às vésperas das eleições tinha sessenta e tantos por cento de intenção de votos e perdeu a eleição. Ninguém aqui disparou para o Governo do Estado. O mesmo vale para o Senado. Os chamados três grandes estão todos na casa dos 30%. O eleitorado está na dele aguardando o momento das discussões lá na frente, mas nós vamos começar a discutir agora com a sociedade e lá na frente no horário eleitoral ele vai saber a diferença entre aqueles que têm proposta e aqueles que não têm.

OM: É correto afirmar que Rosalba é o novo na política do Estado como muitos apregoam?

SH: Não. Efetivamente ela não é o novo. Novo por quê? O que ela tem de novo? Ela já foi prefeita, está com um mandato de senadora e participa de um grupo político que está há tanto tempo no poder que a gente perde na memória. Tem nada de novo. Fato novo na política do Rio Grande do Norte é Carlos Eduardo que muitos diziam que não ia ser candidato.

OM: O que o PC do B e PDT têm de propostas?

SH: Desde antes do carnaval instalamos um grupo de professores e intelectuais que estão discutindo grandes temas do Rio Grande do Norte na área de desenvolvimento social e econômico, infraestrutura, saúde, educação, segurança… Estão elaborando teses e propostas.

OM: O que o senhor poderia adiantar?

SH: Não posso adiantar agora. Isso é um processo em construção porque além dessa parte técnica queremos travar um diálogo com a sociedade civil através de suas entidades como sindicatos, associações, igrejas. Esse processo está em desenvolvimento porque não vamos simplesmente reunir um número de técnicos e apresentar um programa de governo. Precisamos levar uma base para discutir com a sociedade. Essa será a nossa diferença em relação aos outros. Temos uma base de um programa de governo que será discutido com a sociedade civil.

OM: Além de PC do B e PDT, quais são os partidos que estão sendo convidados para conversarem com o seu grupo?

SH: Temos o PRB, PSDC, PCB. Existem partidos que estão em fase de diálogo com a gente.

 

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