Miguel Silva – Bienal da UNE no Ceará: desafios e possibilidades

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Li na última sexta-feira (19/02) no Portal Vermelho, com informações da Coordenadoria de Imprensa do Governo do Ceará, que o nosso estado vai sediar a 7ª Bienal da UNE, evento que teve início em 1999, com a sua primeira edição realizada em Salvador-BA, oportunidade em que participei como diretor da UNE no Ceará.

De lá pra cá foram seis bienais em diversos estados brasileiros. Na sua última edição, que voltou à Bahia, a Bienal de Arte, Cultura e Ciência da UNE consolidou-se como um evento que abre espaço para a produção estudantil da universidade brasileira que, muitas vezes, mão tem espaço para se expressar. A partir da primeira Bienal em Salvador, surgiram os CUCA's (Centros Universitários de Cultura e Arte) como espaços permanentes de discussão e produção cultural nas universidades brasileiras, a partir da iniciativa dos estudantes.

Na sua 7ª edição, penso que a Bienal da UNE poderia inovar ainda mais, com atividades desenvolvidas não só na capital, Fortaleza, mas também espalhadas nas principais regiões do estado, principalmente naquelas que abrigam universidades e faculdades. Nesta perspectiva, a Bienal deveria se estender ao Cariri, à Região Norte e ao Sertão Central, pois nestas regiões há um significativo número de Instituições de Ensino Superior e uma produção artística, cultural e científica muito rica.

Na Região do Cariri, por exemplo, temos uma Universidade Estadual (a URCA) no Crato; um Campus da Universidade Federal do Ceará (UFC), com cursos em Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha e ainda um Campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) em Juazeiro do Norte; além de algumas faculdades particulares. Em Sobral, na Região Norte, temos Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA); um Campus da UFC; um Campus do IFCE e duas faculdades particulares; além do Campus da Universidade Estadual do Ceará (UECE) em Itapipoca. Já no Sertão Central, temos um Campus da UECE, um Instituto Centro de Ensino Tecnológico (CENTEC); um campus do IFCE, além de algumas faculdades particulares.

Estas três regiões do Estado do Ceará, portanto, concentram a maior parte dos estudantes de nível superior do nosso estado, fora da capital, apresentando assim todas as possibilidades de sediar ações da 7ª Bienal da UNE, apresentando ao Brasil toda a força da arte, da cultura e da ciência produzidas pelos estudantes do interior do Estado do Ceará neste evento da maior entidade estudantil da América Latina.

Desdobrar a 7ª Bienal da UNE para os quatros cantos do nosso estado, creio ser o grande desafio da UNE, do Governo do Estado e dos estudantes cearenses, que por diversas vezes já deram demonstrações de coragem e ousadia para enfrentar e vencer desafios, mesmo quando a própria vida estava em jogo. Os estudantes cearenses não vacilaram e foram à luta para permitir que pudéssemos viver num ambiente democrático e plural. Para fazer uma justa homenagem à coragem e destemor dos estudantes cearenses, que proponho que a 7ª Bienal da UNE, receba o nome de Bergson Gurjão Farias, estudante cearense morto pela ditadura militar e que só no final de 2009 conseguiu se reencontrar com a família e os amigos e descansar em paz. Só agora, depois de 30 anos após a sua morte, seus restos mortais foram identificados e trazidos ao Ceará para ser enterrado na terra que o gerou.

Creio que além da 7ª Bienal da UNE receber o nome de Bergson, deve-se na sua abertura fazer-se uma intensa e marcante homenagem a este jovem herói da juventude e do povo cearense e brasileiro.

Miguel Silva é ex-diretor da UNE e professor do Curso de Matemática/UVA

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