George Câmara: Zé Arruda, a Corrupção e o "Mensalão do DEM"

Muita gente foi surpreendida com a prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM. Preso antes do carnaval por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a medida foi necessária pelo fato do governador, junto com seu grupo político, estarem agindo com o objetivo de apagar provas, comprar testemunhas e prejudicar a investigação do esquema de propinas e corrupção sob o seu comando e revelado pela operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.

Folhedo do PCdoB distribuído em Brasília

Único governador eleito no país em 2006 pelo “Partido Democratas”, Zé Arruda já havia estado às voltas com situação parecida quando ainda era filiado ao PSDB e, como Senador, foi desmascarado no conhecido episódio da quebra de sigilo do painel de votação do Senado, junto com o então Presidente daquela Casa, Antônio Carlos Magalhães, famoso e controvertido expoente também do PFL/DEM.

Longe de ser o começo do fim da impunidade ou da corrupção entranhada na máquina pública, a prisão de Arruda representa, entretanto, uma medida exemplar e um fôlego para a credibilidade das instituições democráticas que, como o Poder Judiciário, estavam com a imagem bastante arranhada em nosso país.

Por outro lado vale ressaltar que a decretação da prisão, com amplo apoio dos ministros do STJ, é por si só uma garantia de que as instituições federais de controle estão atentas aos desmandos praticados por políticos que transformam a administração pública em negócio particular.

O senador Agripino Maia, também do DEM, confessou: "a prisão (do governador) constrange toda a classe política". Mas é preciso ressalvar que "toda a classe política" a que se refere o senador são aqueles que, em maior ou menor grau, fazem uso de práticas ilícitas. Pois quem tem a consciência tranquila de exercer sua função pública com empenho e honestidade não tem motivos para constrangimento. Muito pelo contrário, o desmascaramento dessa conduta vergonhosa não deixa de ser um importante elemento de diferenciação entre os bons e os maus políticos.

A prisão do governador e seu afastamento do governo do Distrito Federal não encerram o assunto. Já está mais do que provado que quase toda a estrutura de governo da capital federal, incluindo boa parte do legislativo, está envolvida no chamado "Mensalão do DEM". É preciso, portanto, ir até o fim nas investigações e punir todos os implicados. A começar pelo afastamento do vice-governador, Paulo Otávio (DEM), também suspeito de participação no mesmo esquema.

Desde quando vieram a público as insuspeitas imagens do “Mensalão do DEM”, toda a sociedade brasileira e, particularmente, todo o povo do Distrito Federal estavam acompanhando com perplexidade e indignação os movimentos e a desenvoltura com que o governador Zé Roberto Arruda, o vice-governador Paulo Otávio e a quase totalidade do Poder Legislativo vinham manobrando na busca de uma saída nos marcos da impunidade.

Mas a julgar pela mobilização da sociedade organizada, o episódio da prisão de Arruda pode ser o estímulo que faltava para que o quadro político da capital federal tome novos rumos. Em recente nota, os partidos de esquerda do Distrito Federal salientavam que é preciso "permanecer nas ruas mobilizando a população contra a corrupção e pela instauração de um governo ético, democrático e republicano no Distrito Federal".

É este o desafio que as forças populares e progressistas devem tomar para si, principalmente até outubro de 2010, quando os eleitores do DF terão finalmente a oportunidade de afastar da vida pública a quadrilha que tomou de assalto o governo da capital. Sob os olhares e a efetiva participação de toda a sociedade brasileira.

George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB (18/02/10) www.georgecamara.com.br