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FHC ataca outra vez: 'O coração Dilma está mais para a esquerda'

Desta vez foi em Miami que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso achou eco para suas opiniões sobre a eleição deste ano. Ali, no Miami Herald, que o vê como "o arquiteto da recuperação econômica e uma das mais respeitadas vozes da oposição", FHC chama Dilma Rousseff de "autoritária", "dogmática", uma radical esquerdista que "vai ter dificuldades" para vencer José Serra. Veja a íntegra.

Por Bernardo Joffily


O entrevistador foi o jornalista americano (nascido na Argentina) Andres Oppenheimer. Ele é autor de livros como Salvar as América, o perigoso declínio da América Latina e o que os EUA têm de fazer; A mentira populista e a esperança da América Latina; ou A hora final de Castro. Em sua coluna, muito reproduzida na mídia latino-americana, elegeu como o vilão número um Hugo Chávez (à frente de toda "uma corrente de presidentes narcisistas-leninistas"); e Álvaro Uribe como o exemplo a seguir.

O jornal, Miami Herald, aspira influir sobre os acontecimentos ao sul do Rio Grande. Em 2006, seu diretor, Jesús Díaz, demitiu três jornalistas por considerar antiético terem um bico em que ganhavam do governo George W. Bush para fazer propaganda contra Cuba; no final da crise os jornalistas ficaram e foi Díaz que acabou na rua.

Nesta companhia, FHC sente-se prestigiado e à vontade. Esquece que no sábado chamou Dilma de 'boneco' do 'ventrícoquo' Lula, e apressa-se a concordar com Oppenheimer que o governo da ministra "seria mais próximo da esquerda radical" e "do radical esquerdista Hugo Chávez".

Mas, se FHC compra sem pensar duas vezes as teses de seu entrevistador, Oppenheimer não faz o mesmo. No final da coluna, recomenda "certas cautelas" na hora "de ler a retórica de ambos os lados". Veja o que ele escreveu, e o que FHC falou:

Eleição no Brasil oferece um nítido contraste

Com a presidenciável apoiada pelo governo do Brasil, Dilma Rousseff, subindo nas pesquisas, alguns de seus mais proeminentes críticos levantam o espectro de que o maior país da América do Sul vai se aproximar da esquerda radical caso ela vença as eleições de outubro.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, arquiteto da recuperação econômica do Brasil e uma das vozes mais respeitadas da oposição, certamente pensa assim. Em uma entrevista esta semana, ele me disse que Dilma é mais dogmática", "autoritária'' e mais próxima da esquerda radical da Venezuela que o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.

Dilma, uma economista e ex-ativista guerrilheira, tem sido a chefe da equipe de Lula desde 2005. Nos últimos meses, o presidente desfilou com ela por todo o país, inaugurando obras públicas, na esperança de seu índice de popularidade de 80% e o esperado crescimento econômico do país, de 5% este ano, beneficiarão sua candidata.

Uma pesquisa recente do instituto brasileiro Sensus mostra que o apoio a Dilma Roussef subiu para 22% (sic), e os analistas dizem que vai continuar a subir na medida em que seu nome se torna mais conhecido. Seu principal adversário, o governador de São Paulo e ex-prefeito da capital paulista, José Serra, tem 32% dos votos. Nenhum dos dois declarou oficialmente sua candidatura.

"Dificilmente ganhará"

Será que ela vai ganhar?. perguntei a Cardoso, que apóia Serra.

Fernando Henrique Cardoso: Acho que ela vai ter dificuldades. Vai subir nas pesquisas… porque o presidente Lula acelerou o início da campanha, a oposição ainda não escolheu oficialmente um candidato e, assim, ela vai ganhando visibilidade na mídia. Mas acho que, no final, quando as pessoas forem votar e ver qual candidato inspira mais confiança, as coisas vão mudar.

Oppenheimer: Por quê?

FHC: Dilma Rousseff ainda não tem qualquer experiência em liderança. Ela nunca foi líder de coisa alguma. Ela não foi governadora, nem prefeita, nada. É difícil pensar que o povo depositará sua confiança em alguém que é uma funcionária pública, não é um líder, enquanto no outro campo você tem líderes com um histórico provado.'

Oppenheimer: Ela será controlada por Lula?

FHC: Não sei se alguém sobe ao poder permitiria que outra pessoa a controle. Eu não diria isso. E também por suas características pessoais. Ela é uma pessoa muito difícil, autoritária.

Oppenheimer: Seria o governo dela mais próximo da esquerda radical que o governo Lula?

FHC: Ela está mais próxima do Partido dos Trabalhadores. Lula tem maior independência em relação ao partido. Ele transcendeu seu partido. Lula é um negociador hábil, um [ex-] sindicalista. Não é um homem de confronto, é um negociador. Ele tem a capacidade de mudar de idéia… Não acho que Dilma faria isso, porque ela é muito mais – talvez isso seja um pouco duro – dogmática. Ela tem uma visão um tanto ultrapassada, a favor de uma maior interferência do Estado [na economia].

Oppenheimer: Dilma Rousseff se aproximaria do radical esquerdista presidente da Venezuela, Hugo Chávez?

FHC: Provavelmente. No entanto, você deve levar em conta que as instituições do país são fortes e as pessoas no poder não podem fazer o que bem entenderem. Ela pode querer, mas os líderes de outros grupos políticos, a existência da liberdade de imprensa, empresas fortes, universidades, etc, tudo isso funciona como um contrapeso. Mas, dito isto, o coração Dilma está mais para a esquerda.

Cautelas

Minha opinião [prossegue Oppenheimer]: a disputa presidencial no Brasil está a todo vapor, e temos de ler a retórica de ambos os lados com certas cautelas.

A estratégia eleitoral do campo de Serra – conforme foi verbalizada por Fernando Henrique Cardoso, enquanto o próprio Serra mantém-se à distância – será a pintar Dilma como uma candidata inexperiente, radical, que aproximaria o Brasil de um caos econômico no estilo venezuelano. A estratégia do campo de Dilma será pintar Serra como um político do velho estilo, cujo governo cortaruia os programas sociais e seria insensível aos pobres.

Na verdade, Dilma Rousseff terá que se voltar para o centro se quiser vencer. Seu PT perdeu as eleições de 1989, 1994 e 1998, quando apresentou plataformas de esquerda radical, antes que Lula se deslocasse para o centro, em 2002. E Serra é dificilmente um fanático do mercado livre – ele é mais conhecido no Brasil por combater os laboratórios farmacêuticos quando era ministro da Saúde e criar uma indústria de medicamentos genéricos para os pobres.

Mais importante ainda, como reconheceu o próprio Fernando Henrique Cardoso, o Brasil tem um forte sistema de freios e contrapesos que torna difícil para qualquer presidente destruir os ganhos econômicos do país dos últimos 15 anos. Apesar da repulsiva política externa de Lula – que está abraçando às piores ditaduras do mundo – o Brasil é provavelmente continuará como um modelo latino-americano de comportamento econômico responsável e redução da pobreza.

O original em inglês pode ser checado no site do Miami Herald. Clique aqui.