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Presidente do PT diz que governo Dilma fortalecerá o Estado

Em entrevista publicada nesta terça (9) no jornal Valor, o presidente do PT José Eduardo Dutra diz que num eventual governo Dilma Rousseff haverá o fortalecimento do Estado e não uma estatização da economia, conforme interpretação vigente na mídia. Segundo ele, forças políticas como PT, PMDB, PDT, PCdoB e, inclusive o PSB, que pode apontar a candidatura de Ciro Gomes à Presidência, participarão da elaboração do programa de Dilma.

Na opinião dele, a candidatura de Marina Silva (PV) tira mais votos de José Serra (PSDB) do que da candidata petista. Confira trechos da entrevista:

As diretrizes do PT para o programa de governo de Dilma Rousseff fortalecem a presença do Estado na economia. O PT quer um governo mais à esquerda?

Dutra: Não cabe esse conceito de esquerda ou direita no governo Lula. Com a crise, foi se buscar exatamente o Estado para salvar bancos, totens do capitalismo mundial. Todos os países estão atentos para reforçar organismos estatais que, em caso de crise, sejam necessários. É uma mera decorrência da evolução da economia mundial.

Que coincide com o pensamento do partido.

Dutra: Essa crise confirmou os pressupostos que nós tínhamos. Não significa estatização da economia ou que vamos retomar um processo de desprivatização. Não estamos propondo estatizar mais nada. Esse fortalecimento do Estado a que nos referimos é fortalecer os instrumentos estatais que já existem. Desde o início do governo Lula dizíamos que a Petrobras, por exemplo, que eu presidi, iria voltar a ter papel indutor da economia nacional. Quando adotamos a política de se exigir conteúdo nacional nas encomendas de plataforma diziam que seria impossível, que a indústria nacional não teria capacidade de atender e que ia ficar mais caro. Nada disso aconteceu. A indústria nacional vem se capacitando cada vez mais para atender às encomendas da Petrobras.

Então não há necessidade de uma nova versão da "Carta aos Brasileiros" para acalmar o mercado?

Dutra: Não temos que combater tantos preconceitos como na época do Lula. O governo da Dilma vai ser um governo da continuidade, de aprofundamento das conquistas e de avanços sociais. Não há necessidade de uma ação tão clara para acalmar alguns setores, como foi naquele caso.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), afirmou que um governo tucano mudaria os pilares da política econômica. O governo Dilma deve fazer mudança na economia?

Dutra: A economia não é um fim em si mesmo. É um meio para você realizar um projeto. E os fundamentos da economia brasileira hoje estão absolutamente sólidos. Prova disso é que sofremos menos do que a maioria dos países a crise econômica. Se os tucanos vão mudar deviam dizer o que vão mudar e o que vão botar no lugar. Eu, particularmente estou muito curioso para saber o que os tucanos vão mudar e botar no lugar. Nós vamos manter.

A política de estímulo à criação de corporações nacionais vai continuar?

Dutra: Isso é uma coisa inexorável do capitalismo. Empresas tendem a se fundir para poder aumentar sua competitividade no mercado, cada vez mais globalizado. Precisamos ter empresas brasileiras fortes, capazes de competir no mercado internacional.

O PMDB aderiu ao governo Lula com ele em andamento. Agora, coligando com Dilma ainda na campanha, a participação e a influência serão maiores. O PT está preparado para uma divisão – de fato – de poder?

Dutra: O governo da Dilma , da mesma forma que o governo do Lula, vai ser um governo de coalizão, que muitas vezes tem disputas internas. Nós vamos tirar no Congresso do PT, dia 18, diretrizes para o programa de governo, que é uma proposta do PT. Não significa que o programa de governo da Dilma vai ser o programa do PT. A partir do nosso congresso, vamos ter um grupo com pessoas do PT, do PMDB, do PDT, do PC do B e espero que do PSB, enfim, todos os partidos da coligação para fazer o programa de governo da Dilma. Vai ser o programa da coligação, que não vai ser igual ao do PT, nem ao do PMDB. Vai ser uma convergência de idéias e propostas.

Não vai ser complicado para Dilma, sem o capital político de Lula, administrar as contradições da coalizão?

Dutra: Essa imagem da Dilma como uma pessoa meramente técnica, tecnocrata, gerentona, não é realidade. A Dilma é uma excelente política. Faz política desde sua juventude. A Dilma é eminentemente uma personalidade política. Com estilo totalmente diferente do de Lula, claro. Ela não tem interação com as massas que o Lula tem, até pela diferença de trajetória de vida. Mas eu confio não só na capacidade dela de gerenciar, como também de administrar politicamente esse condomínio de partidos que vão estar na base do governo.

O maior problema da aliança, hoje, é a divisão do PT em Minas e a dificuldade de aliança com o PMDB. O PT vai aceitar a proposta do ministro Hélio Costa (Comunicações), de uma aliança na qual o candidato a governador seja escolhido por pesquisa?

Dutra: Se a gente conseguir unificar dentro do PT e se a pesquisa for realizada não em março, mas no final de abril, quando tiver condição de mensurar melhor qual foi a influência do Anastasia (Antonio Anastasia, vice-governador e candidato de Aécio Neves a governador) no governo , pode ser um critério interessante. Estou trabalhando pelo entendimento. Até março tem que resolver. Agora, se, de comum acordo, chegarmos a esse entendimento e a pesquisa for feita, aquele que estiver na frente vai ser o candidato. Se a gente chegar a um acordo em relação a esse método tem que cumprir o acordo.

Uma eventual candidatura do vice-presidente, José Alencar, a governador uniria a base aliada em Minas?

Dutra A questão principal é o estado de saúde dele. Ele tem que avaliar se quer ser candidato. Se decidir disputar o governo, pode ser uma alternativa de consenso. Os partidos vão analisar o quadro.

O ex-ministro José Dirceu, ex-presidente do PT, tem atuado como negociador informal do PT nos Estados. Qual é o papel dele?

Dutra O José Dirceu não está como franco atirador, fazendo aliança aqui e acolá. Eu tenho conversado com ele e ele tem me relatado as conversas que tem tido. Mas, em última instância, quem vai bater o martelo nas alianças são aqueles que estão mandatos para isso. Os membros da Executiva. É natural que os próprios aliados procurem o José Dirceu, que tem experiência e é visto como pessoa com influência no PT. Mas ele não vai fechar nenhuma aliança em nenhum estado. O José Dirceu é um animal político, faz parte do DNA dele, mas ele não fala pelo PT. José Dirceu vai entrar formalmente no diretório do partido. Como dirigente do partido vai estar envolvido na campanha.

Se mantiver a candidatura a presidente, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) prejudica a campanha de Dilma?

Dutra :Sempre defendemos uma campanha plebiscitária, de confronto de projetos, de comparação entre nosso governo e governo dos oito anos de FHC. Uma campanha onde a gente estabeleça um conflito claro entre dois modelos. Para que essa estratégia funcione, é importante ter apenas uma candidatura do bloco governista. O Ciro e o PSB tinham visão diferente. Achavam que o mais correto seria lançar mais de um candidato da base governista para forçar o segundo turno. Depois eles se juntariam para derrotar o candidato da oposição. Uma tese perfeitamente legítima, mas discordávamos. Agora, a evolução dos números mostra que nossa tese está tendendo a sair vitoriosa desse debate estratégico.

Mas as pesquisas parecem indicar que os votos do Ciro vão para o Serra.

Dutra :Em pesquisas "a frio", sem explicar que o Ciro apoia a Dilma no segundo turno, quando você tira um nome, a tendência estatística é que o nome mais conhecido ganhe mais voto, independentemente da posição ideológica que esse candidato tenha. A evolução de pesquisas mostra que, tanto no cenário com Ciro quanto sem Ciro, a Dilma vem crescendo substancialmente. Hoje no cenário de segundo turno a Dilma perde por sete pontos para o Serra. Há oito meses, perdia por 25 pontos. A evolução está trazendo argumentos para a nossa tese. Nós, respeitosamente, publicamente, queremos aliança com o PSB, mas, se lá na frente o PSB , com toda legitimidade, decidir que vai lançar o Ciro, faremos campanha considerando que o Ciro é um candidato aliado. O adversário é o Serra. E vamos estar juntos num possível segundo turno. Não tenho nenhuma dúvida.

Ainda tem chance de ele disputar o governo de São Paulo com apoio do PT?

Dutra: Ele teria capacidade de aglutinar toda a base do governo em SP. A gente vê uma fadiga de material dos tucanos em SP, depois de 16 anos. A eleição não está perdida. O perfil de campanha do Ciro – incisivo, agressivo – é interessante. Mas ele tem dito categoricamente que não é candidato. Ninguém é candidato a uma coisa que não quer. Se não quer, o PT tem que buscar outra alternativa. Até março tem que ter uma definição.

A senadora Marina Silva (PV-AC) pode tirar voto de uma fatia do eleitorado tradicional do PT?

Dutra: Marina vai tirar mais voto do Serra. Um eleitorado que já votou no PT e já não votaria mais no PT. Votaria no Serra envergonhado. A Marina é uma alternativa para esse eleitorado.

Michel Temer (PMDB-SP) seria um bom vice para a chapa da Dilma?

Dutra: Sou da tese que o potencial eleitoral de um vice é muito limitado. Por mais que a pessoa tenha votos, concordo plenamente com o que disse o José Alencar: a pessoa vota no presidente. O vice ajuda na medida em que dá "liga" com o titular. O PMDB é que vai indicar o vice. Fez-se muita celeuma nessa questão da lista tríplice que o Lula falou. Se o PMDB concordar com a lista tríplice ótimo. Se não concordar, não concorda e pronto. Não cabe ao PT ficar dando palpite em quem é o vice do PMDB. Mas, naturalmente, a discussão do vice tem que passar pela candidata. Não há circunstâncias na política em que um partido indica um vice em que o candidato não concorda com aquele vice. Isso vale para prefeito, governador e presidente da república. Então, a costura do vice tem que passar pela candidata. Não é pelo PT. Eu, pessoalmente, não acho que o nome do Michel Temer tenha algum problema. É presidente do PMDB, representaria institucionalmente o partido. Mas essa é uma questão que cabe ao PMDB discutir e, depois, levar a sugestão a Dilma.

O que o Temer tem que buscar é essa "liga" com a Dilma?

Dutra: Exatamente.

Como seria o PT de hoje – após a experiência de governar o país – na oposição?

Dutra Muitas coisas que fazíamos enquanto oposição eram sinceras, mas decorrentes do desconhecimento em relação à realidade de governar um país. Eu defendo que, se o PT voltar a ser oposição daqui a… 15 anos, nós tenhamos uma postura diferente daquela que tivemos. Tem que ter oposição dura nas críticas, que proponha alternativas, mas não adote comportamento quase que estudantil.

 Da Sucursal de Brasília com informações do Valor