A Jaca e o Romário na política tocantinense

Ainda faltam nove meses para as eleições de outubro e a política tocantinense já está fervendo. Ontem o pré-candidato ao governo do Estado, senador João Ribeiro (PR) reuniu no auditório da OAB 35 prefeitos, entre eles, representantes do seu partido e da base governista, e, o que é mais surpreendente; 10 prefeitos do PSDB, partido de oposição ao governo e que tem um candidato declarado, o ex-governador Siqueira Campos (PSDB).

Entre os discursos, o mais marcante foi o do governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB) que repetiu com todas as letras o que vem dizendo desde que assumiu o governo em outubro do ano passado, – depois que o governador cassado Marcelo Miranda (PMDB) deixou o cargo -, que seu candidato ao governo é o senador. Gaguim lembrou também o nome do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT).

Diante destas considerações duas observações hão de ser feitas; primeiro, que o ex-governador Siqueira Campos realmente é um velho e ultrapassado na política tocantinense. Não consegue mais sequer segurar os prefeitos de seu partido e tem uma visão totalmente deturpada do momento histórico. Uma figura a ser guardada com seus méritos na história.

Se nas eleições passadas, quando foi derrotado por Marcelo Miranda, Siqueira tinha uma legião de seguidores entre prefeitos, ex-prefeitos, deputados e vereadores que compunham a poderosa União do Tocantins e ainda contava, um ano antes daquelas eleições, com intenções de voto da ordem de 70%. Desta vez, Siqueira tem uma meia dúzia de gatos pingados que ainda por cima de tudo estão em debandada e uma intenção de votos pífia na casa de 31% em pesquisa estimulada divulgada pelo Portal UOL e jornal Folha de S. Paulo.

O velho colhe o que plantou. Avalia o cenário de forma totalmente equivocada achando-se ainda um deus, como um dia, o seu próprio primogênito afirmou. No ano passado, ainda no mês de setembro, o governador se pronunciou através de nota, classificando companheiros – hoje ex-companheiros – de “apresados e oportunistas”, por estarem dando apoio ao governo de transição de Carlos Gaguim, que viria ser eleito pela Assembleia legislativa para o atual mandato tampão. Dias antes já havia se pronunciado em tom rancoroso, falando “de gente sem vergonha na cara”. O recado parecia ter sido enviado ao deputado Marcelo Lelis (PV), uma cria do ninho da União do Tocantins e que tem um irmão, hoje, como Secretário Estadual dos Recursos Hídricos.

Quem conhece, ou já ouviu falar dos arrufos do velho, lembrou de um caso, quando ele, em uma reunião, enfurecido com interrupção pelo toque do celular de um deputado, tomou o aparelho da mão do dito e arremessou na parede, demonstrando todo seu autoritarismo.

Siqueira se esqueceu, entretanto, que na campanha passada para a eleição dos prefeitos, em 2008, deu de ombros para todos, quando eles mais precisavam de apoio e quem apareceu para comer poeira nas andanças pelos municípios nos momentos mais difíceis foi o senador João Ribeiro. Na capital Palmas, Lelis, naquela oportunidade candidato já viabilizado a prefeito, ressentia do apoio do “criador”. Apoio este que veio a ser demonstrado em público somente já na reta final do processo eleitoral daquele ano, em agosto durante comemoração do aniversário de Siqueira. Lelis, naquela oportunidade, sequer foi convidado para se posicionar no palanque dos amigos de Siqueira, ficou no meio dos convidados, ouvindo o discurso de quase 1 hora, onde Siqueira desfiou ressentimentos.

A segunda consideração a ser feita é que o João realmente está forte para as eleições deste ano, mas deve tomar cuidado. O governador está sendo leal e assim o será até o fim, dando seu apoio, mas o senador tem de deslanchar no momento certo, caso contrário ativa-se o plano B. Não adianta crescer antes do momento certo, muito menos ficar estacionado nas intenções de voto. Se sua candidatura amadurecer antes da hora corre-se o risco de apodrecer e cair, se esborrachando feito jaca podre. Se não deslanchar, Gaguim, que não esconde de ninguém que seu plano A é ser ministro, neste caso virá aclamado pela frente de partidos da base do presidente Lula no Estado, como o candidato à reeleição.

O governador é ligeiro e tem a leitura do cenário bastante clara. Em entrevista ao jornal O Girassol ele afirmou que até abril estará liderando todas as pesquisas. Carlos Gaguim tem dito, entretanto, que suas chances de ser o candidato é de apenas 1%, apesar de já estar muito bem avaliado em pesquisas de consumo interno, mas não vacilará se os ventos mudarem. Ele é rápido e tem visão pragmática.

João Ribeiro, por sua vez, conta com tudo a seu favor, até mesmo para Marcelo Miranda, um dos nomes colocados como possível candidato ao senado e com quem vivia de rusgas até um ano atrás, quando estavam em grupos políticos diferentes, é mais vantagem ter o senador como candidato ao governo, porque desta forma sua vaga para concorrer ao senado pela base dos partidos de apoio ao presidente Lula no Estado não estará ameaçada com uma possível candidatura à reeleição de João Ribeiro. A outra vaga ao senado é dada como certa ao senador licenciado, Leomar Quintanilha, que estaria contanto com apoio de peso de gente do PMDB nacional.

O certo de todo este cenário momentâneo é que o João terá de dosar muito bem seu crescimento, caso contrário o “Gaguim Romário” está na grande área para fazer mais um gol de placa. A história já mostrou que o homem tem a sorte dos artilheiros. A partir de julho saberemos com quem a bola estará para definição final do lance.

Os partidos da base do presidente Lula no Estado tem feito uma estratégia interessante. Os três nomes mais proeminentes para concorrer ao governo: senador João Ribeiro, Carlos Gaguim e Raul Filho, vem andando pelo Estado, onde o presidente detém 94% de aprovação, buscando cabalar apoios. Isto fortalecerá cada vez mais o grupo. No momento a bola está com o senador João Ribeiro, que a recebeu do “Gaguim Romário” e caberá avançar para fazer o gol. Se falhar, no rebote, como já disse, está o artilheiro dentro da área. Apoiando pelos flancos, pode, por um golpe de muita sorte a bola vir a sobra para o Raul. O certo mesmo é que o becão Siqueira vai tentar de todas as formas impedir o gol que já está anunciado. É esperar para ver.
(Umberto Salvador Coelho)

Fonte: Conexão Tocantins