Ato de mulheres em BH denuncia assassinato de cabeleireira

A União Brasileira de Mulheres (UBM), o Movimento Popular da Mulher (MPM), o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e a Coordenadoria Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim) fizeram nesta manhã (25), um Ato Unificado de Indignação contra Assassinato de Mulheres, cobrando das autoridades competentes medidas eficientes de garantia do cumprimento da legislação de proteção, em especial, a Lei Maria da Penha.

protesto em BH mf

 O ato comoveu os que passaram pelo quarteirão fechado da rua Rio de Janeiro, entre a avenida Afonso Pena e a rua Tamoios. Usando véus negros no rosto, as integrantes de entidades de mulheres levaram para a Praça Sete um caixão com uma boneca representando a cabeleireira Islaine de Morais assassinada na semana passada pelo ex-marido, o borracheiro Fábio Willian Soares, com nove tiros à queima roupa. A execução – filmada pelas câmeras que a vítima instalou em seu salão de beleza, diante das constantes ameaças e agressões –, ganhou repercussão mundial.

“No caso de Maria Islaine a justiça deveria ter aplicado a medida protetiva, tomando a arma do agressor, exigindo seu afastamento da vítima ainda na primeira denúncia. Foram oito denúncias e três pedidos de prisão preventiva contra o agressor, antes de ela ser executada”, destacou a presidente da UBM, Maria Bebela Ramos Siqueira, em discurso aos que se aglomeraram para protestar, compartilhar da dor diante de tanta violência e até denunciar agressões.

“Ainda há muito a avançar, temos a Lei Maria da Penha, mas faltam os mecanismos essenciais para que ela seja cumprida de fato”, alertou a presidente do MPM, Hercília Levy.

Vigília

A deputada federal e uma das fundadoras do MPM, Jô Moraes (PCdoB/MG) explicou que a manifestação é o início de uma vígília que só irá terminar quando se apurar onde o sistema falhou. “Não nos importa saber quem é o culpado, mas onde a falha se deu. O nosso propósito é o que evitar que outras mulheres tenham o mesmo fim. E olha que no final de semana tivemos outras mulheres e até um bebezinho agredidos”, disse. A parlamentar também cobrou a implantação do Juizado Especial da Mulher e a de delegacias de mulheres nas diversas regiões da cidade, descentralizando o atendimento.

Ainda esta semana ela e as representantes das entidades de mulheres irão ao chefe da Polícia Civil do Estado, delegado Marco Antônio Monteiro, e ao presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador Sérgio Resende, reivindicar “efetividade e estrutura financeira, de recursos humanos e estrutural para que as mulheres ameaçadas e agredidas tenham a proteção necessária e os agressores sintam a mão pesada da lei”.

Jô Moraes observou que “ defender a memória das mulheres assassinadas é defender seus filhos, suas famílias. É impedir a existência de novas vítimas. E defender a sociedade”.
“Porque o sistema tem tanta dificuldade de cumprir a Lei Maria da Penha? Questionou a representante da Comdim, Márcia de Cássia Gomes.

“Não aceitamos retrocesso. A lei é uma conquista. Temos uma delegacia com plantão 24 horas, um conselho nacional, um estadual e um municipal. A rede é autônoma e se convoca para discutir e lutar pelo seu aperfeiçoamento. Estamos nesta praça para que novas mulheres não sejam mortas”, explicou Hercília Levy. “É preciso que o agressor seja monitorado durante um certo período, que seja vigiado para não tentar novas investidas.

Precisamos estar sempre atentas, vigilantes. A Lei só vai existir na prática se a gente existir seu cumprimento”, ressaltou a cientista social, Marisa Dias.

“A lei é para ser cumprida. Queremos saber o que falta: é dinheiro para contratar delegados e detetives? Para uma infra-estrutura adequada? Para implantar o Juizado? É isso? Precisamos saber o porquê, pois seremos parceiras na luta pela liberação de recursos”, anunciou Jô Moraes.

Comoção

“Exigimos a punição dos agressores, dos assassinos. Não vamos nos calar”, completou Janete Mazzieiro, do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher .

Emocionada pelo clima da manifestação, no momento em que as mulheres com o rosto coberto por véus clamavam justiça! justiça!, a aposentada Hilda Maria de Oliveira, de 69 anos, que passava pela Praça e resolveu parar para assistir o ato, fez uma confissão: durante mais de 5 anos apanhou do marido, até que sua família resolveu intervir e eles se separaram.

”Naquela época, eu tinha pouco mais de 20 anos, as coisas eram bem diferentes. Quando resolvi denunciá-lo à polícia, pois estava toda machucada, foi um constrangimento muito grande. Na delegacia me mandaram desfilar de um lado para o outro e me disseram que eu também deveria falar das respostas, dos xingamentos que eu tinha feito ao meu marido. Era suposição deles , pois eu era muito retraída e tinha medo, me calava, não reagia. Eles debocharam da minha situação! Hoje, a polícia melhorou muito, é mais preparada, qualificada”.

Outras mulheres também contaram o drama vivido e uma grávida, que pediu para não ser identificada, pediu ajuda contra o ex-marido, que durante o ato, lhe ameaçava pelo telefone celular. Ex-funcionária de uma empresa de telemarketing, ela revelou ter sido demitida por estar grávida. Aos prantos, a mulher de apenas 23 anos, pediu para que a levassem até a Delegacia de Mulheres, pois temia que o companheiro cumprisse a ameaça de matá-la, tendo sido acompanhada até o local por Márcia de Cássia Gomes, da Comdim.

O ato na Praça Sete foi encerrado com a entonação da música Maria, Maria, eternizada por Milton Nascimento.

De Belo Horizonte,
Graça Gomes