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Avatar e Haiti: não dá para substituir a realidade pela ficção

Avatar, do diretor James Cameron, vem causando as reações mais diversas em milhões de espectadores no mundo inteiro.

Por Leila Cordeiro*, no Direto da Redação

Posicionado já como segundo maior faturamento da história do cinema — só perdendo, até agora, para Titanic, do mesmo diretor —, o filme incomodou o Vaticano que deu mostras de ciúme ao considerá-lo “um tipo de espiritualismo vinculado ao culto à natureza, que de maneira engenhosa leva o espectador a pseudodoutrinas que convertem a ecologia na religião do milênio”.

Exageros da igreja à parte, de fato a CNN fez uma reportagem sobre o filme, onde aborda a questão de pessoas que assistiram Avatar e entraram em depressão por não poderem viver no planeta Pandora, da ficção de Cameron. Para essas pessoas, Pandora poderia resolver vários problemas do dia a dia da humanidade, concentrando-se no respeito ao meio ambiente como carro chefe de uma sobrevivência cada vez mais difícil diante de tantas ameaças.

Aparentemente, pessoas que pensam desse jeito devem estar passando por problemas psicológicos sérios ao transferirem a realidade de suas vidas para a ficção do filme. Especialistas explicam que isso não é difícil de acontecer quando o indivíduo está carente, descrente dele mesmo e do mundo que o cerca. Alvo de estudos, um comportamento social como esse pode e deve preocupar os governantes, quando o assunto é sobrevivência da espécie humana no planeta.

Talvez o ciúme do Vaticano tenha fundamento, na medida em que essas pessoas carentes de esperança e de uma melhor qualidade de vida espiritual estejam mesmo se apegando à ficção em busca de um caminho melhor a seguir onde a natureza seria a grande saída.

A ironia do destino nisso tudo é que Avatar foi lançado poucos dias antes do fim do ano, qundo o Brasil viveu a tragédia dos desabamentos provocados pela chuva e agora, quatro semanas depois, o Haiti é devastado por uma catástrofe de resultados inimagináveis. Seria talvez, na linguagem de Avatar, a fúria da natureza descontente cobrando a fatura da sua destruição.

“Cruel e inexplicável”, foi assim que Obama se referiu nesta quarta-feira ao terremoto do Haiti. De fato, tragédias dessa magnitude chegam sem avisar. Levam milhares de vidas e vão embora deixando para trás um rastro de destruição e mortes. Foi assim com o Tsunami, que matou 225 mil pessoas, foi assim com o Haiti.

Difícil imaginar como o pobre Haiti vai sair desta. 78% de sua população sobrevivem com apenas US$ 2 por dia. E dois terços dos quase 10 milhões de habitantes vivem da agricultura de subsistência. Para agravar a situação, o Haiti está no ranking dos países mais corruptos do mundo.

Sem dúvida, para a população sofrida do Haiti, Pandora seria o caminho da redenção. Pena que não dá para substituir a realidade pela ficção.