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Ministério da Educação quer consolidar Enem em 2010

Em 2010, um dos principais desafios do Ministério da Educação será conseguir fazer uma edição menos turbulenta do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O que começou em maio com uma ideia do ministro Fernando Haddad de unificar os vestibulares do país terminou com o roubo da prova e a consequente saída do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes, meses depois.

Depois que as provas do Enem foram roubadas e o exame teve de ser remarcado, Haddad defendeu que grandes avaliações deveriam estar livres da lei de licitações. Segundo ele, esse foi o motivo para que um consórcio que não tinha a experiência necessária ficasse à frente do exame.

O ministro sugeriu que o Estado tivesse uma estrutura para atuar na organização de concursos e citou o Centro de Seleção e Promoção da Universidade de Brasília (Cespe/UnB) como uma instituição estatal que tinha inteligência acumulada para fazer esse serviço. Foi justamente o diretor-geral do Cespe, Joaquim José Soares Neto, que assumiu a vaga de Fernandes com a missão de “consolidar” o exame.

O Enem foi criado em 1998 e é voluntário. Mas a participação cresceu muitos nos últimos anos depois que ele passou a ser pré-requisito para estudantes que querem pleitear uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni).

Para 2010, o plano do MEC era mais ambicioso. A ideia era que o exame substituísse, gradualmente, o vestibular de todas as universidades federais. Reitores reuniram seus conselhos universitários e foi grande a adesão: mais de 40 das 55 instituições federais incorporaram o Enem aos seus processos seletivos, além de algumas universidades estaduais.

A prova foi reformulada, cresceu em tamanho e em conteúdo. Mais de 4 milhões de inscrições chegaram até o Inep. Tanta expectativa foi frustrada às vésperas do exame, marcado para os dias 3 e 4 de outubro. Um dos funcionários do Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção (Connasel), responsável pela realização da prova, roubou alguns exemplares da gráfica que imprimia o material e tentou vendê-los ao jornal Estado de S. Paulo. Descoberta a fraude, o MEC decidiu adiar o exame.

Em menos de uma semana o exame foi remarcado, o Connasel foi retirado da organização, e o Cespe e a Cesgranrio assumiram a prova. Polícia Federal, Forças Armadas e Correios foram chamados para ajudar na força-tarefa. O dinheiro que já havia sido pago ao Connasel para imprimir as provas – mais de R$ 30 milhões – ainda não foi ressarcido. Diversas instituições tiveram que remarcar a data de seus vestibulares para não chocar com o novo calendário do Enem e algumas desistiram de usar a nota do exame.

Em dezembro a prova foi aplicada e na avaliação do MEC, o processo ocorreu “com tranquilidade”. Mas o índice de abstenção registrado foi recorde: quase 40%. Menos de 15 dias depois, Reynaldo deixou o cargo. Em carta enviada aos funcionários do Inep, disse que “não sai feliz, mas tranquilo”, com a certeza de que se dedicou “ao máximo ao Inep e à educação do país”.

Os resultados do Enem só devem sair em fevereiro. Até lá, o MEC precisa ainda colocar no ar o Sistema de Seleção Unificado (Sisu). É nessa plataforma que os alunos irão se inscrever para disputar as vagas nas federais. Segundo o ministro, as chances de aprovação serão multiplicadas. Mas isso, os estudantes só poderão conferir no ano que vem.

Amanda Cieglinski,
Da Agência Brasil