Messias Pontes – A ética jornalística não deve ser violentada

Aconteceu na noite de anteontem (14/12), em Brasília, a abertura da histórica I Conferência Nacional de Comunicação. Em sua fala, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a ausência de alguns setores do empresariado e parabenizou os que não tiveram medo de participar. Lula defendeu a liberdade de expressão e de imprensa, mas condenou aqueles que disseminam calúnias e infâmias.

No tocante à disseminação de calúnias e infâmias, a história da grande mídia conservadora, venal e golpista está prenhe de exemplos. Nunca é demais lembrar das manipulações da opinião pública para satisfazer aos interesses das oligarquias tupiniquins e do imperialismo, notadamente o norteamericano. Os mais emblemáticos são o “Plano Cohen”, para justificar a ditadura do Estado Novo; o relatório Link, do geólogo norteamericano que negava a existência de petróleo no Brasil; as campanhas quer levaram Getúlio Vargas ao suicídio, à deposição de João Goulart e que ainda infernizam o governo do presidente Lula.

Teve também a irresponsabilidade contra os proprietários da Escola Base, em São Paulo, tachados de pedófilos; contra o então ministro da Saúde do governo Collor de Mello, Alceni Guerra, acusado de superfaturar bicicletas para os agentes de saúde; e contra o deputado Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara, denunciado por manter depósitos de um milhão de dólares em paraísos fiscais.

Foram verdadeiras tragédias para todos eles, suas famílias e seus amigos. Em pouco tempo ficou provado que todos eram inocentes. Porém a divulgação da verdade, sem destaque algum nos mesmos veículos que os incriminaram, não redimiu os prejuízos e o imensurável sofrimento de todos deles. E o pior, ninguém foi punido pela irresponsabilidade e pelos crimes de injúria, difamação e calúnia.

Aqui em Fortaleza, irresponsabilidade de “profissionais” de jornal, rádio e televisão tem causado transtornos a pessoas, políticos e parlamentares honestos e comprometidos com as causas do povo e da Nação. Isto acontece principalmente quando se aproxima o período eleitoral. O viés ideológico de direita anticomunista norteia esses “profissionais” que pouco estão ligando para a ética profissional. Sabem todos eles que, em qualquer país democrático, a presunção da inocência é um direito sagrado e inalienável de todo(a) cidadão(ã).

Nenhum deles pode dizer que foi levado pela divulgação, pelo Ministério Público Federal de São Paulo, da irresponsável, absurda e criminosa acusação do envolvimento do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) em atos ilícitos junto à construtora Camargo Corrêa em torno da construção do metrô de Fortaleza no período de 1995 a 1998. Na época, todos sabem, ou deveriam saber, que Inácio Arruda nem senador era e que fazia oposição aos governos tucanos de Tasso Jereissati e do Coisa Ruim (FHC).

Esta não é a primeira vez que certos setores da imprensa local acusam, julgam e condenam o maior líder político popular do nosso estado. E nem será a última. Quem não se lembra da infame campanha contra Inácio durante as eleições municipais de 2004, quando foi acusado de ter votado a favor da taxação dos aposentados e pensionistas na reforma da Previdência, em 2003? Isto lhe custou muito caro, ou seja, perdeu a eleição para prefeito de Fortaleza, mesmo mantendo o favoritismo até próximo às eleições.

Quem acusou e continua acusando Inácio Arruda de ter votado contra os aposentados e pensionistas age de má fé, pois sabe que não é verdade. E se não sabe deveria saber, pois o jornal O POVO, edição de 8 de agosto de 2003, publicou matéria sobre o assunto, cujo título era “PREVIDÊNCIA – 72% da bancada cearense apóia a taxação de inativos”. Na matéria é dito que “O voto contrário que mais chamou a atenção, no entanto, foi do líder do PCdoB, Inácio Arruda”.

E continua a matéria: O partido (PCdoB), que tem 11 deputados e já registra quatro dissidências na votação do texto básico da reforma da Previdência, viu aumentar o número de descontentes. Na taxação dos inativos, foram sete os infiéis, o que deixou desesperado o líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Para evitar maiores complicações e abertura de processos de punição a seus deputados, o PCdoB recorreu a uma artimanha: na questão dos inativos, liberou a bancada para que cada um votasse como quisesse”.

Dos 22 deputados federais do Ceará, apenas cinco votaram contra a taxação: Gonzaga Mota (PSDB), Inácio Arruda (PCdoB), Mauro Benevides (PMDB), Moroni Torgan (PFL) e Roberto Pessoa (PL). José Gerardo Arruda (PMDB) e Manoel Salviano (PSDB) não compareceram à votação. Os demais votaram a favor: Almeida de Jesus (PL), Aníbal Gomes (PMDB), Antonio Cambraia (PSDB), Ariosto Holanda (PSDB), Arnon Bezerra (PSDB), Bismarck Maia (PSDB), Eunício Oliveira (PMDB), João Alfredo (PT), José Linhares (PP), José Pimentel (PT), Léo Alcântara (PSDB), Leônidas Cristino (PSDB), Pastor Pedro Ribeiro (PMDB), Rommel Feijó (PSDB) e Vicente Arruda (PSDB).

Com relação ao aumento do subteto, excetuando-se os dois ausentes (José Gerardo Arruda e Manoel Salviano), os demais votaram a favor. Portanto, nenhum jornalista ou radialista pode dizer que acusou Inácio Arruda – e só ele – por desconhecimento. Na realidade, agem de má fé.

O último factóide gerado pelos jornalistas e radialistas anticomunistas foi após a realização da Conferência Estadual do PCdoB, em outubro último, quando o engenheiro Carlos Augusto Diógenes (Patinhas) foi reeleito para mais um mandato de presidente do Partido, e a médica Terezinha Braga foi eleita vice-presidente. Patinhas foi acusado de querer se perpetuar na presidência do Partido, e “a Terezinha só foi eleita porque é mulher do senador Inácio Arruda”.

Para os que assim se posicionaram, é oportuno lembrar que no PCdoB não há disputa. Aliás, é o único partido no Brasil em que os seus dirigentes, em todas as instâncias, se elegem praticamente por unanimidade, dentro de um processo democrático, através de eleições secretas. Patinhas não queria continuar na presidência, mas a unanimidade do Partido no Ceará exigiu que ele cumprisse mais um mandato, podendo ser substituído na próxima Conferência Estadual.

Terezinha Braga, também eleita por unanimidade, o foi não por ser mulher do Inácio, mas por reunir todas as condições políticas e ideológicas, e também por ser mulher, já que o PCdoB, estatutariamente, determina que pelo menos 30% dos seus quadros dirigentes sejam mulheres. O Partido também prioriza a juventude e os trabalhadores da cidade e do campo. Para que os anticomunistas não digam mais besteira, quando Inácio Arruda ingressou no PCdoB, ele nem conhecia Terezinha e esta já tinha vários anos de militância no Partido.

No último dia oito de novembro, último dia do XII Congresso Nacional do Partido Comunista do Brasil, a ex-deputada federal e ex-prefeita de Olinda – PE – Luciana Santos foi eleita vice-presidente nacional do Partido. Em muitos estados o PCdoB é presidido por mulheres, inclusive nos três maiores: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. E nenhuma delas foi eleita porque é mulher de A ou B. Assim é o PCdoB.

Como todo político e todo ser humano tem virtudes e defeitos – uns mais que outros – com Inácio Arruda não poderia ser diferente. Mas as virtudes de Inácio são infinitamente maiores que seus defeitos. E uma das características do senador comunista é a sua fidelidade à ética e o seu amor pelo povo, pelo Brasil e pelo socialismo. Eu o conheço muito bem e toda a sua honrada família, da qual fui vizinho no bairro Dias Macedo. Quando o conheci ele tinha apenas 11 anos de idade, e posso dizer, sem medo de errar, que ele dignifica o seu Partido, o mandato que exerce representando o Ceará no Senado Federal e o Brasil no Parlamento da América do Sul.

Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE

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