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Rodrigo Vianna: Lula pede e CUT cede aos empresários na Confecom

Como informei aqui, a abertura da Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) — em Brasília — atrasou em mais de duas horas porque, nos bastidores, o grupo Bandeirantes ameaçava sair da conferência, se a comissão organizadora não aceitasse mudar regras de votação para dar aos empresários direito de veto em algumas questões.

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador

Tarde da noite de segunda, fiquei sabendo que entidades como a CUT e o FNDC (Fórum Nacional de Democratização da Comunicação) tiveram uma postura subserviente e dúbia — favorecendo a chantagem empresarial.

Tentarei ser breve: na manhã de segunda, a Band exigiu a tal mudança de regras; na comissão organizadora, movimentos sociais votaram em bloco contra as mudanças. A Band aí ameaçou sair da Confecom. Sabem o que o governo Lula fez? Pressionou movimentos sociais a aceitar as mudanças. Aí, em nova reunião à tarde, CUT (apoiada pela Fenaj — a federação sindical dos jornalistas), FNDC e outros mudaram seus votos na comissão — cedendo aos "apelos" do governo e da Band.

Foi uma vergonha.

Os dirigentes que tomaram essas decisões vão pagar o preço por elas. Entre o governo aliado à Band e os movimentos sociais, dirigentes da CUT preferiram ficar com a postura "chapa-branca".

Pra se ter uma idéia do estrago, muita gente ontem à noite ameaçava abandonar a Confecom depois dessa manobra vergonhosa.

Mas aí também seria um exagero. É preciso entender quem é o inimigo principal. O editorial da Globo contra a Confecom e a chantagem da Band mostram quem é o adversário principal.

O presidente Lula fez um discurso morno na cerimônia de abertura. "Lamentou" que alguns atores (Globo) tenham preferido se ausentar. Mas perdeu a chance de fazer um discurso histórico, na linha do que marcou o lançamento do pré-sal.

Lula teme os donos dos meios de comunicação. Foi ele que deu a ordem para que a Band fosse atendida em tudo. Lula não gosta de confronto. Se, com quase 80% de aprovação, ele não enfrenta nem a Band, imaginem se vai encarar Globo e outros…

É uma escolha.

Equivocada, na humilde opinião deste "escrevinhador".

A campanha de 2006 foi fichinha perto do que essa turma vai aprontar em 2010. Lula acha que, com essas concessões, vai domar a serpente. Devia era cortar a cabeça da cascavel. Mas ele tem medo.

Ontem, aqui em Brasília, isso ficou claro.

Não sei por que, mas uma vez mais pensei em Leonel Brizola. Ele não temia o confronto. Ainda mais quando sabia que do outro lado está um adversário que, na primeira chance, tentará eliminá-lo.

Lula acha que negocia com os donos da imprensa. Essa gente não negocia. A mentalidade dessa gente é a de fazendeiros da República Velha. A Confecom podia ser uma Revolução de 30. Mas Lula não vai amarrar os cavalos no obelisco de Brasília.

Não. Lula tem medo. É uma pena.

Ainda assim, com muita negociação e maturidade (o que não quer dizer subserviência), acho possível que a Confecom sinalize algumas mudanças importantes nas Comunicações.

O povo dos movimentos sociais tá disposto a encarar a briga. Se Lula fez um discurso morno, a platéia estava quente.

Hélio Costa (ministro que, aliado à Globo, torpedeou a Confecom) foi vaiado feito gente grande. "Helio Costa, que papelão, o empresário é o teu patrão", era o grito da galera enquanto ele discursava.

Um governo que tem Helio Costa como ministro deve ser tratado como um governo em disputa. Não como um governo para o qual se abaixa a cabeça — como fez a CUT.

A CUT também tem medo. Medo do Lula. É uma pena!

Leia abaixo o editorial lamentável e manipulador do Jornal Nacional contra a Confecom.

Conferência de Comunicação debate controle social da mídia e nova lei de imprensa

Começou, nesta segunda-feira, em Brasília, a primeira Conferência Nacional de Comunicação, que pretende debater propostas sobre a produção e distribuição de informações jornalísticas e culturais no país. Entre as propostas, estão o controle social da mídia por meio de conselhos de comunicação e uma nova lei de imprensa.

O fórum foi convocado pelo Governo Federal e conta com 1.684 delegados, 40% vindos da sociedade civil, 40% do empresariado e 20% do poder público.

Mas a representatividade da conferência ficou comprometida sem a participação dos principais veículos de comunicação do Brasil. Há quatro meses, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, a Associação Brasileira de Internet, a Associação Brasileira de TV por Assinatura, a Associação dos Jornais e Revistas do Interior do Brasil, a Associação Nacional dos Editores de Revistas e a Associação Nacional de Jornais divulgaram uma nota conjunta em que expõem os motivos de terem decidido não participar da conferência. Todos consideraram as propostas de estabelecer um controle social da mídia uma forma de censurar os órgãos de imprensa, cerceando a liberdade de expressão, o direito à informação e a livre iniciativa, todos previstos na Constituição.

Os organizadores negam que a intenção seja cercear direitos. A conferência foi aberta com a participação do presidente Lula.