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Oposição boliviana, agora mansa, admite derrota

A oposição conservadora boliviana parece ter aprendido alguma coisa desde sua tentativa de golpe em agosto de 2008. Neste domingo (8), seus candidatos não esperaram para reconhecer a derrota acachapante para o o governo popular de Evo Morales. Culparam sua própria divisão pela derrota e prometeram fazer uma "oposição construtiva" e "responsável".


O principal opositor de Evo, candidato do Plano Progresso para a Bolívia-Convergência Nacional (PPB-CN), o ex-governador de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, contentou-se com as projeções de boca-de-urna para se declarar derrotado. Ele fez a declaração em Santa Cruz, reduto oposicionista onde esperava vencer, ainda que as projeções da apuração parcial indiquem uma disputa voto por voto.

"Foi uma batalha dura contra a mentira, e a polarização contínua", disse Reyes Villa em referência à campanha eleitoral. "Seremos a trincheira do equilíbrio da democracia, uma oposição construtiva, que defenda os interesses nacionais", prometeu.

Derrotado por quase 40 pontos percentuais, Reyes Villa lamentou a "fragmentação de uma oposição que não entendeu a necessidade de unidade", e onde os interesses pessoais "sobressaíram" em relação ao interesse do país.

A tentativa golpista de 2008

Foi um discurso bem diferente daquele de outro domingo eleitoral, pouco mais de um ano atrás, em 10 de agosto de 2008. Naquela ocasião, o povo de Cochabamba decidiu nas urnas revogar o mandato de Reyes Villa como governador (prefecto) do departamento de Cochabamba. Ele reagiu dizendo que não entregaria o cargo e que "legalmente, ainda sou o governador de Cochabamba"

"Digo a Evo Morales que não deve comemorar", ameaçou ainda Reyes Villa. "Você (Evo) viola a Constituição que nós juramos cumprir", disse ainda (confira aqui as declarações do então raivoso Reyes Villa).

Na época, a oposição conservadora partiu para uma articulação golpista. Sabotou a produção de gás (principal riqueza do país) e arquitetou o Massacre de Pando, cujo mandante, governador do departamento, está preso mas mesmo assim concorreu como vice de Reyes Villa.

Não deu certo. A oposição terminou isolada, dividida e encurralada, como mostraram os resultados das eleições gerais deste 6 de dezembro. Sua promessa de uma "oposição construtiva" e "responsável" vem da consciência de que ela só terá a perder se partir de novo para a provocação.

"A Bolívia decidiu dar uma chance a Evo"

Terceiro colocado na disputa presidencial, com menos de 10% dos votos, candidato de União Nacional (UN), o empresário Samuel Doria Medina, reconheceu a derrota em entrevista coletiva em seu quartel-general em La Paz.

"Há uma ideia clara com os primeiros resultados: a Bolívia decidiu dar uma nova oportunidade a Evo Morales", admitiu Medina. "Somos a terceira força, moderada, que é o que o país necessita", assegurou ainda o político centrista, marcando sua diferença com o direitista Reyes Villa.

Além de assistir à reeleição de Evo no primeiro turno, que já era esperada, o conservadorismo boliviano amargou outras derrotas. Perdeu a maioria no Senado, onde agora tem apenas 11 das 36 cadeiras. E também tem menos de um terço dos votos na Câmara – 42 contra 88. A vitória do MAS (Movimento Ao Socialismo, o partido de Evo) por mais de dois terços nas duas casas legislativas era uma meta de campanha, mas surpreendeu os observadores.

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