Uma ferramenta ou ambiente fundamental de intervenção social?

Rafael Mesquita

Neste artigo apresentamos uma argumentação do lócus da comunicação na sociedade contemporânea e sua função social.

A percepção social de que cinema, jornal, rádio, imprensa, telefonia e televisão são apenas meios de comunicação de massa perde completamente seu sentido.

Eles são mais que dispositivos de produção, emissão e circulação de mensagens e só uma simplificação muito grande impede de ver que eles foram cada vez mais ganhando formas industriais e, como toda indústria, os seus dispositivos foram incluídos em um sistema e controlados por ela.

Os dispositivos de comunicação foram pouco a pouco incluídos nos setores sociais da informação e da cultura como elementos destinados integralmente a satisfazer os seus interesses imanentes e não os interesses de comunicação de qualquer outro setor social, em outras palavras, existe, portanto, muita plausividade em afirmar que neste redor se estabeleceu uma sociabilidade, as indústrias da informação, atreladas a economia e a cultura, converteram-se em legítimos campos sociais, que poderiam ser possíveis lugares de atuação da sociedade.

Nesta perspectiva, compreendemos a comunicação e as formas de seleção e intervenção midiáticas como legítimos capitais culturais, que incidem de forma irreversível sobre a sociedade, desenhando em muitos aspectos as nossas relações. A comunicação e seus modelos de operação (radiodifusão, imprensa, telefonia, internet) estabelece posição, representa e acumula em prestígio e reconhecimento.

Diante do acúmulo político, social e econômico possível pelos meios de comunicação, não podemos nos excluir de entender e primor pela interferência neste celeiro de construção de material simbólico. Precisamos compreender se a direção destes setores que controlam a mídia e que tem ampla capacidade de desenvolver ideologicamente tem interesse no bem público, que numa democracia como a nossa atende a elevação dos direitos de toda ordem, balizados pela interpretação crítica da sociedade.

Em outros termos, um número maior de pessoas, organizações da sociedade civil, entidades que fomentam a mobilização social para a construção de direitos e tantos outros grupos marginalizados ou mesmo minorias, como homossexuais, negros, indígenas e deficientes, devem tomar parte da discussão e exposição pública possível pelos mecanismos da comunicação.

Precisamos combinar os outros setores da sociedade com a mídia, entendendo esta como ambiente fundamental para a constituição política contemporânea. A discussão da Conferência de Comunicação, por exemplo, fez convergir vários grupos pela promoção do debate do acesso, da democratização e do novo marco legal da comunicação, mas precisamos de mais.

É necessário que consigamos tornar público, e isso pode ser iniciado pelos debates propositais da Conferência, que é uma grosseira simplificação converter a comunicação como conjunto de meios para circulação simples de mensagens, quando esta pode se converter em um dos modos de operação da transformação social, que “combina a rua e a tela”, como afirma Albino Rubim, podendo atuar como alternativa para a reorganização da sociedade e o reconhecimento de todos os atores públicos.

Rafael Mesquita é Educador do IJC – Instituto de Juventude Contemporânea

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