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Sem preconceito: Bloco afro da Bahia abrirá espaço para brancos 

 No carnaval de 2010 de Salvador será possível ver foliões de pele clara cantando "eu sou Ilê", como prega a letra de "O mais belo dos belos", um dos hinos do tradicional bloco Ilê Aiyê. É que ele, até então considerado o mais negro dos blocos afros, que não aceitava brancos entre os seus associados – diferentemente de outras agremiações, como os Filhos de Gandhy -, começa a abrir espaço para esse público.

O primeiro passo será dado no desfile da quinta-feira de Carnaval, dia da abertura oficial da festa na capital baiana, quando o Ilê colocará no circuito Barra/Ondina o bloco Eu Também Sou Ilê. A confirmação é do próprio presidente da entidade, Antonio Carlos dos Santos.

 A medida, contudo, já começa a provocar polêmica. Há quem veja uma quebra na tradição da entidade de 35 anos e de seus objetivos de "preservar, valorizar e expandir a cultura afrobrasileira". Outros acreditam que a ação coloca fim a um separatismo na Bahia.

 A militante Ana Rosa Azevedo se diz totalmente a favor da iniciativa e afirma que é preciso avançar no sentido de por fim à segregação em outras áreas. "Sou negra, e acho essa decisão maravilhosa. Precisamos caminhar para a igualdade. Isso que o Ilê está fazendo é avançar no processo da igualdade racial. Agora, precisamos continuar avançando nessa discussão, para que em breve não sejam mais necessárias políticas de reparação", afirma.

 A professora da Universidade Estadual da Bahia, Ceres Santos, vê a inovação com certa preocupação. "Ainda não parei para fazer uma avaliação mais aprofundada desse fato, mas posso dizer que não é algo que me agrade, não. Acho tudo muito estranho e preocupante. Não gosto dessa medida", diz.

 O presidente do Ilê defende a decisão tomada pela diretoria do bloco. Diz que, ao contrário do que sempre foi atribuído à agremiação, o Ilê nunca pregou o separatismo. "Ao contrário, nosso objetivo sempre foi o de chamar a atenção para as injustiças contra os negros. Um exemplo de que não separamos é a forma como agimos em nosso projeto social, nunca discriminamos. Atendemos crianças brancas, loiras, negras, de todas as raças", afirma.

 Os projetos sociais do Ilê funcionam na sede da entidade, no bairro da Liberdade, considerado um dos mais populosos de Salvador. Mais de 4.000 jovens pobres são atendidos pelos projetos de cunho cultural e educacional.

Santos não nega que a decisão também tenha um cunho comercial. "Colocar um bloco na rua representa custos elevados com toda a infraestrutura necessária. Muita gente tem vários produtos para o carnaval, o Ilê, até então tinha apenas dois: o bloco Ilê Aiyê e o camarote. Agora criamos o segundo bloco, que irá atender ao contingente de admiradores que sempre nos procuraram querendo desfilar", explica.

Fonte: UOL