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Incógnita marca eleição chilena

A campanha para as eleições do próximo dia 13 de dezembro já está na reta final e o horizonte não se vislumbra totalmente claro. A indecisão se deve principalmente ao candidato independente, Marco Enríquez-Ominami, que aparece nas últimas pesquisas em empate técnico com Eduardo Frei, o candidato governista.

Por Fernando de la Cuadra*, em Alai

Segundo pesquisa do Cerc (Centro de Estudos da Realidade Contemporânea), Ominami e Frei estão empatados com 20% das intenções de voto. Mas esta igualdade reflete dois movimentos opostos. Enquanto Frei caiu de 25% para 20% com relação às pesquisas de agosto, Ominami continua subindo, passando de 14% para 20%.

Já em pesquisa do CEP (Centro de Estudos Públicos), o candidato da direita, Sebastián Piñera, continua à frente com 36% da preferência do eleitorado, superando em 10 pontos percentuais o candidato da coalizão governista Concertação, que tem 26%. Apesar da significativa vantagem, Piñera depende muito do candidato que passará para o segundo turno, a ser realizado em 17 de janeiro. No mais provável cenário eleitoral de disputa com Frei, a direita vai depender totalmente das alianças que seja capaz de construir com as forças que apoiam Ominami, que aparece nessa sondagem com 19% das intenções de voto.

Por seu lado, o candidato da esquerda Jorge Arrate – representante do Pacto Juntos Podemos e Frente Ampla – vem realizando uma campanha que estusiasma cada vez mais seus eleitores. Contudo, apesar de seu crescimento (passou de 1% a 5%) e ao bom desempenho nos debates entre os quatro candidatos, é muito difícil que ele supere 8% dos votos.

Truculência

Os publicitários da direita vêm trabalhando a imagem de que este setor tem crescido na preferência dos eleitores. Todavia, em termos eleitorais, a direita no Chile se mantém com um teto por volta de 47%, razão pela qual tem perdido por pequena margem as últimas disputas presidenciais. Em todo caso, nada impede de pensar que este panorama possa se reverter neste ano.

Piñera é uma figura que, há vários anos, é protagonista no cenário empresarial e político. Transformou-se em um rico empresário na administração de cartões de crédito e, posteriormente, realizou importantes aquisições de empresas, equipamentos de futebol e um canal de televisão.

Por seu estilo truculento e poucos escrúpulos, muitos já o comparam a Berlusconi. E, efetivamente, a posse de um meio de comunicação tão influente como a televisão pode lhe dar um impulso final para vencer a próxima disputa eleitoral.

Por outro lado, Eduardo Frei não consegue capitalizar o apoio popular que tem o governo de Michelle Bachelet e a alta aprovação dela: 78%, segundo a mesma pesquisa do CEP. Em recentes declarações, Frei tem reiterado que ele é “mais Bachelet”, mas com uma “embalagem” diferente.

O problema é que a nova embalagem não consegue encantar tanto os eleitores. Apesar de todos os esforços de seus assessores de campanha, Frei segue sendo uma figura pouco atrativa para a maioria da população, inclusive para os membros do próprio partido, a Democracia Cristã.

A isso se soma o fato de que os partidos da Concertação estão muito desgastados, com uma dramática perda de sua capacidade mobilizadora como mito social e político que o relegitimou como representante do universo popular com um projeto modernizador e progressista social.

Se Piñera e Frei se consolidarem como ganhadores do primeiro turno de dezembro, é muito provável que o primeiro possa capitalizar um voto de descontentamento do eleitorado do conglomerado governista. Entretanto, pode acontecer algo mais previsível: o apoio dos eleitores de Ominami e Arrate fluir majoritariamente para a candidatura de Frei. O próprio Arrate propôs recentemente um “pacto mínimo” para derrotar Piñera e sua plataforma de direita.

A transferência de votos pode significar uma mudança definitiva na corrida presidencial. Contudo, a incógnita segue sendo a marca registrada destas eleições.

* Fernando de la Cuadra é sociólogo e membro da Rupal (Rede Universitária de Pesquisas sobre a América Latina).