Messias Pontes – Sem bandeira, oposição virou biruta (IV)

O desespero toma conta dos tucanos cearenses porque, sem o poder político, vivem um dilema hamletiano de ser ou não governo. O senador Tasso Jereissati – tucano-mor -, três vezes governador do Estado, está como afogado procurando algo para se agarrar, já que sua obsessão é a re-eleição, cada vez mais difícil.

Homem de poucos amigos, centralizador ao extremo, sempre foi inacessível aos simples mortais e até mesmo à sua dócil bancada na Assembléia Legislativa quando ocupou a chefia do Executivo estadual. O deputado Fernando Hugo, então líder da bancada, cansado de pedir audiência sem obter resposta, elaborou um abaixo-assinado com os seus colegas tucanos visando ser recebidos pelo “Imperador”.

Pois agora Jereissati decidiu receber a todos e visitar até vereadores, algo impensável há muito pouco tempo. Sentindo faltar terra nos pés, foi buscá-la no interior do estado, realizando encontros regionais para “ouvir os clamores dos cearenses insatisfeitos com o governo Cid Gomes”.

Mas ele dá uma no casco e outra na ferradura. Ao mesmo tempo em que elogia Cid Gomes na esperança deste respaldar a sua candidatura, pois sem o apoio do Governador ele não será candidato – e nunca disputou uma eleição sem o uso da máquina governamental -, ele dá as suas estocadas no Governador usando para tanto os seus correligionários que se sentem órfãos do poder.

No seminário realizado em Quixeramobim, no último sábado de outubro, Jereissati jogou mais combustível na fogueira da insatisfação da tucanada contra o governo do Estado, via CPRV, pelas multas aplicadas e apreensão de motos cujos motoqueiros dirigiam sem documentação, sem habilitação, sem capacete e alcoolizados. Essa posição do senador é um tiro no pé, pois além de demonstrar insensatez, já que o Código de Trânsito Brasileiro respalda as multas aplicadas, bate de frente justamente em quem ele mais precisa, no caso o Governador.

Em Tianguá também fez igual, o mesmo ocorrendo em outras regiões do estado, como em Itapipoca, onde o prefeito tucano João Barroso foi orientado a desafiar o governador Cid Gomes durante o lançamento do “Ronda do Quarteirão”, programa que todos os cearenses querem em seus municípios. “O povo de Itapipoca não quer o Ronda do Quarteirão. Quer, sim, o fim da perseguição da CPRV”, declarou o prefeito tucano, causando tremendo mal estar e irritando profundamente o Governador.

Nesses encontros regionais, além de alfinetar Cid Gomes, o senador tucano tem sido tremendo crítico do presidente Lula e do seu governo. Tem perguntado aos presentes se alguém conhece alguma obra do PAC – Programa de Aceleramento do Crescimento – na região. Mas essa pergunta ele faz somente aos seus acólitos, pois sabe que se fizer ao povo receberá outra resposta.

Em Quixeramobim, como de resto em todo o Sertão Central, a presença do governo Lula é muito marcante. Dezenas de milhares de famílias são beneficiadas com vários programas, em especial o Bolsa Família e o Brasil Sorridente que tem garantido a saúde bucal a milhares que nunca sentaram numa cadeira de dentista e que hoje já podem comer uma rapadura sem problema algum. Os banguelas também estão desaparecendo para desgosto dos demo-tucanos.

Ainda no Sertão Central, mais precisamente em Quixadá, o presidente Lula inaugurou uma usina de biodiesel da Petrobras e instalou um campus da Universidade Federal do Ceará, antigo sonho da juventude daquela região. Falar mal do presidente Lula no interior cearense somente sendo biruta, pois é cometer suicídio político.

O senador tucano também se aliou a seu antigo inimigo político Roberto Pessoa, prefeito de Maracanaú, hoje o mais ferrenho crítico do governo do Estado. Pessoa já anunciou que deixará o cargo em março próximo a fim de se candidatar ao governo do Estado pelo PR. No seminário tucano em Quixeramobim, Roberto Pessoa esteve presente e foi prestigiado pela tucanada. Quem assim age, não deve esperar o apoio que tanto necessita, justamente de quem pode garantir a sua reeleição.

Mesmo que venha a apoiar a candidatura de Roberto Pessoa ao governo do Estado, os tucanos ficarão sem palanque para o candidato demo-tucano à Presidência. Isto porque o prefeito de Maracanaú já declarou que apoiará incondicionalmente a candidatura da ministra Dilma Rousseff, pois é lulista de carteirinha.

A bancada tucana na Assembléia Legislativa do Ceará, que na legislatura passada contava com 24 deputados, elegeu na atual somente 14 e conta atualmente com 13. A previsão mais otimista é de que os tucanos elejam somente sete. Por isso os deputados imploram a Tasso Jereissati que seja candidato ao governo do Estado, pois eles precisam de um palanque. Contudo o senador já sinalizou que deseja disputar a re-eleição.

A exemplo do resto do País, a birutice do tucanato cearense é enorme. Mesmo sem candidato a governador, realizam seminários para “elaborar um projeto de desenvolvimento regional” e um “programa de governo do PSDB para o Ceará”. Poucos acreditam que o tucanato tenha candidato próprio a governador. Por isso perguntam “por que e para que programa de governo?”

Para aumentar a birutice, a bancada estadual tucana está irremediavelmente rachada. Na votação do projeto do Governo para recuperar débitos fiscais e tributários – Refis -, a bancada se dividiu. Dos 14 deputados, três se ausentaram e um votou com o Governo, contrariando a orientação do líder João Jaime, orientado por Jereissati para votar contra, já que Cid Gomes não abre mão de mandar para a Serasa o nome dos devedores. O fato desagradou a cúpula tucana que ameaça com punição os quatro dissidentes.

Cid Gomes tem reiterado que tem compromisso com o deputado federal peemedebista Eunício Oliveira que disputará uma das duas vagas ao Senado em 2010. O apoio ao candidato à segunda vaga o governador diz que só tratará em março do próximo ano. Jereissati espera ter esse apoio, até porque conta com a ajuda do deputado Ciro Gomes, irmão de Cid, também do PSB.

O deputado petista José Pimentel, ora ocupando o Ministério da Previdência Social, é o candidato “in pectore” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a segunda vaga ao Senado pelo Ceará. Pimentel diz que só falará sobre o assunto “quando as águas de março chegarem”. Porém está percorrendo o interior cearense, tendo inclusive recebido o título de cidadania de vários municípios. É um grande articulador e sabe que o presidente Lula tudo fará para que ele seja eleito, até porque já declarou que é preciso derrotar Tasso Jereissati e outros senadores de direita demo-tucanos que tem infernizado o seu governo.

O senador tucano tem dito que apoiará o candidato do seu partido a presidente da República em 2010, seja ele quem for – em 2002 ele abandonou a candidatura do tucano José Serra e apoiou a de Ciro Gomes, na época no PPS. Porém ele torce para que o seu grande amigo Ciro Gomes seja candidato a presidente pelo PSB. Com isso tiraria Cid Gomes do palanque da virtual candidata petista Dilma Rousseff. O presidente Lula jogará todas as suas fichas na eleição da ministra da Casa Civil, e o mesmo fará para garantir maioria no Congresso Nacional.

De público, Cid Gomes diz que Tasso Jereissati é o maior político cearense. Porém guarda algumas mágoas do senador. Após a rejeição pelo Senado da CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira -, quando o senador era um dos comandantes da tropa de choque que derrotou a proposta do Governo, Cid Gomes chamou de irresponsáveis e inconseqüentes todos os senadores que votaram contra .

O Governador também não gostou nadica de nada do fato de Jereissati ter tentado desqualificá-lo, negando-lhe o bônus por ter conseguido fazer de Fortaleza uma das 12 subsedes da Copa do Mundo de 2014. Dois dias antes do anúncio oficial pela FIFA das 12 cidades, Jereissati declarou ao jornal O Povo que garantia que Fortaleza seria indicada. Indagado sobre a declaração do senador, o Governador ironizou: “Ele deve ter lido a coluna do Anselmo Goes”! O colunista do O Globo havia divulgado as 12 cidades, acertando na mosca.

Decididamente a birutice sentou praça também no Ceará, e o biruta-mor é justamente Tasso Jereissati.

Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE