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Geddel: Disputa na Bahia não prejudica projeto Dilma

Falar de Partido dos Trabalhadores com Geddel Vieira Lima suscita opiniões extremas. Do apoio exacerbado ao rompimento total. Ir de um lado desse a outro é como atravessar uma fronteira bem definida. No caso estrito, a da Bahia. Ministro da Integração Nacional, Geddel se insiste pré-candidato do PMDB na Bahia, contra o governador petista Jaques Wagner. Enquanto isso, costura a aliança das duas legendas nacionalmente.

Só tenho recebido do presidente Lula e da ministra Dilma demonstrações de carinho, de apreço e estou sendo uma pessoa que tem procurado articular muito o PMDB nacional, quebrar resistências para viabilizar uma apoio forte à ministra Dilma Rousseff", deixa claro. E Geddel ressalva: "A disputa na Bahia não contamina o projeto nacional. Da nossa parte."

Estreando nesta sexta-feira (30) uma seção de comentários semanais numa rádio de Salvador, o ministro criticou a aplicação de recursos do governo baiano, entre janeiro e outubro deste ano. Aludiu ao relatório do Sistema de Informações Contábeis e Financeiras da Secretaria da Fazenda do Estado para comparar gastos de R$ 61 milhões em propaganda com investimentos de R$ 11 milhões em educação e R$ 15 milhões em segurança pública.

"O valor gasto em propaganda representa quatro vezes mais do que foi investido em segurança. Isso não tem cabimento, principalmente neste período em que a Bahia registrou índices crescentes de violência e tem quase 150 municípios sem delegado, o que já virou uma pilhéria nacional", atacou na rádio.

E insistiu: "Um governo que não realiza os investimentos previstos em áreas obrigatoriamente prioritárias, preferindo massificar investimentos em propaganda, além de cometer grave erro, só pode mesmo ter sua publicidade questionada como enganosa".

Em seguida, mudou completamente o tom, para o mesmo PT, em âmbito nacional. "O governo federal também faz propaganda de seus programas e ações – e isso claro que faz parte da prestação de contas de um gestor público -, mas faz de uma maneira responsável, e sem exagero na forma e no conteúdo, e sem, com isso, gastar menos em áreas sociais importantes, como educação e segurança pública", discursou na rádio.

 

Confira a entrevista.

Terra Magazine – Houve palanque duplo para eleição em Salvador, em 2008. O que o senhor acha desta nova ocorrência para a disputa pelo governo da Bahia?

É um fato absolutamente natural. Infelizmente o PMDB e o PT da Bahia deixaram de se entender. O PMDB identificou uma série de quebras de compromissos dos pontos de vista administrativos e políticos. O que nós imaginamos e sonhamos em 2006 começou a desmontar em 2008, quando o PT deixou a administração do prefeito João Henrique. Depois de negociar inclusive a ampliação do espaço, lançou uma candidatura. Foi colocado de forma clara. Aliado a este posicionamento político do PT com uma série de desarranjos administrativos, nós entendemos que não cabia mais preservar esta aliança.

Existe alguma chance ainda de o senhor compor com o PT baiano…?

Não, não, não, não, não. Não vislumbramos. Não vislumbramos. Cada um vai sair com seu projeto próprio. O que pode nos manter unido é a avaliação de que o projeto nacional é um projeto bem-sucedido. Ou seja, o Lula tem sido excepcional para o Brasil, o Wagner não tem sido bom pra Bahia. Portanto, nós vamos disputar esta eleição, oferecendo um apoio à candidatura que preserve o projeto do presidente Lula.

E o que o senhor acha da avaliação de que sua candidatura fica enfraquecida sem o apoio do governo estadual?

Só pode ser uma avaliação dos meus adversários. O Jaques Wagner ganhou uma eleição no passado, numa postura contra o governo estadual. Estar no governo estadual não significa você ter sucesso, significa você fazer uma boa administração. Não é o caso do que está acontecendo na Bahia. Estou extremamente otimista.

Como tem sido seu entendimento com a ministra Dilma e o presidente Lula?

Excepcionalmente bem. Só tenho recebido do presidente Lula e da ministra Dilma demonstrações de carinho, de apreço e estou sendo uma pessoa que tem procurado articular muito o PMDB nacional, quebrar resistências para viabilizar uma apoio forte à ministra Dilma Rousseff.

O acirramento da disputa na Bahia não pode deteriorar o pré-acordo entre PMDB e PT pela candidatura nacional?

Por quê? Não vejo qual é a ligação que têm uma coisa e outra. Nós vivemos numa federação, não há obrigação de o que acontece nacionalmente se repetir nos mais diversos estados. Já não aconteceu na eleição passada. Em Pernambuco, havia a candidatura do Eduardo Campos e a do Humberto do Costa. Este fato que acontece na Bahia acontecerá em outros lugares.

Eu tenho tido com a direção nacional do PT e com o presidente Lula e a ministra Dilma a melhor das relações. E o PT nacional também tem visto posições extremamente ponderadas, moderadas, diferentemente das posições do PT da Bahia, que vivem, entre outras coisas, tentando plantar – e o termo é este – plantar, na mídia amiga, intriga, cizânia, divisão. Já tenho experiência suficiente para não morder este tipo de isca.

Na verdade, foi o jornal O Globo que publicou nesta sexta-feira…

Mas eu não estou falando especificamente deste assunto, estou lhe falando de vários assuntos.

O que eu queria perguntar ao senhor é que O Globo publicou que o PT tenta desestabilizar seu secretário-executivo, João Santana, que deve substituí-lo em abril.

Mas quem disse que ele deve me substituir? Esse assunto de substituição de ministro, seja na Integração Nacional ou em qualquer outro ministério, é de exclusiva competência do presidente Lula, que, no momento que julgar oportuno, ouvirá quem ele acha que deve ouvir. E nós, do PMDB, ficaremos muito felizes se ele nos ouvir porque significará a opinião de quem deseja a continuidade do trabalho e da contribuição que o partido vem dando em áreas importantes do governo. Portanto, eu prefiro ficar não com os segmentos que se escondem na sigla do PT, mas com as declarações que eu li do presidente (nacional do PT, Ricardo) Berzoini. 

Eu volto a lhe dizer: quando você diz "os petistas", é anônimo. Entre os petistas sem nome e o presidente da legenda, Ricardo Berzoini, que tem nome e fala às claras, eu fico com ele. Até porque o objetivo do Berzoini é o mesmo meu: criar facilidades para a eleição de Dilma. E não o (objetivo) que parece ser o do PT da Bahia: criar dificuldades para a eleição de Dilma. A disputa na Bahia é a disputa na Bahia, seja ela dura, semidura, seja ela radical ou não-radical. Isso não contamina o projeto nacional. Da nossa parte.

Como têm repercutido suas críticas na sua estreia como comentarista de rádio, nesta sexta-feira?

Eu não vi repercussão. Eu tenho feito críticas reiteradas vezes. Eu fazia inicialmente, privadamente, tentando corrigir o rumo do governo naquilo que eu achava errado. Como eu vi que minha voz não era escutada, nós estamos apresentando um novo projeto à sociedade da Bahia, a que vai caber julgar se é melhor ou não, com muita tranquilidade. Eu fiz observações neste primeiro comentário sobre posições que discordo no governo da Bahia. E farei futuramente comentários sobre os mais variados temas. Como outros têm feito.

 

Fonte: Terra Magazine