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100 mil italianas vão à luta contra o machismo de Berlusconi

Quase 100 mil italianas já assinaram o "apelo contra a cretinização das mulheres", acusando de machismo o primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi. No centro da polêmica está a afirmação do premier à deputada Rosy Bindi, de que ela era "mais bonita do que inteligente". O desaforo de Berlusconi provocou uma indignada reação que já é vista como o renascimento do feminismo no país.

O incidente ocorreu durante um programa de televisão. O governante direitista atacou a opositora, do Partido Pemocrata, de centro-esquerda. Rosy Bindi respondeu à altura: "Não sou uma mulher à sua disposição", numa alusão aos recentes escândalos envolvendo o primeiro-ministro italiano com prostitutas em festas nudistas.

A tirada machista de Berlusconi levantou uma onda de solidariedade para com a antiga ministra da Saúde de Romano Prodi. O diário de oposição La Repubblica e forças de esquerda encamparam a campanha. Mais de 3 mil mulheres enviaram fotos suas ao jornal, acompanhadas de frases tais como "nós não somos suas concubinas". O movimento se expande em especial na internet.

Berlusconi justificou-se dizendo que o seu comentário não passou de uma piada num momento de desapontamento. Ocorre que o primeiro ministro é um reincidente, já tendo dito que as mulheres são "os presentes mais lindos de Deus para os homens" e que a Itália é "a pátria dos grandes amantes, de Casanovas e playboys".

O proteso já é encarado como um renascimento do feminismo na Itália. Seu carro-chefe é o apelo lançado pelo La Repubblica, que nesta quarta-feira superava 98 mil assinaturas. Veja a íntegra:

"Este homem ofende as mulheres e a democracia; detenhamo-lo"

"É evidente hoje em dia que o corpo da mulher se tornou uma arma política da maior importância, nas mãos do primeiro ministro. É usado como artefato de guerra contra a livre discussão, o exercício da crítica, a autonomia do pensamento.

A mulher, como ele a enxerga e deseja, é graça juvenil, sedução física, mas em primeiríssimo lugar é sujeição completa à vontade do chefe. Está aí para cantar com o chefe, fazer eco ao chefe, colocar-se à disposição do chefe, como ocorre nas feiras promocionais ou no despotismo voltado ao culto da personalidade.

As qualidades requeridas nos shows publicitários se transformam em dotes políticos essenciais, produzindo indecentes confusões de gênero: obediência e beleza tornam-se indispensáveis requisitos para se candidatar a postos de responsabilidade. Viram uma 'burka' atirada sobre o corpo feminino, para humilhá-lo nas telas da TV e transformá-lo numa arma que fere a todos e a tudo.

Contra essa cretinização das mulheres, da democracia, da própria política, protestamos. Este homem ofende as mulheres e a democracia. Detenhamo-lo."

Encabeçam as assinaturas a filósofa Michela Marzano, a jornalista Barbara Spinelli e a professora de ciências políticas Nadia Urbinati.

Da redação, com agências