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Para ganhar tempo, golpistas capitalizam ida de Honduras à Copa

O líder do regime ditatorial de Honduras, Roberto Micheletti, ofereceu uma homenagem à seleção nacional de futebol pela classificação para a Copa do Mundo. Enquanto isso, sua comissão de negociadores pedia a prorrogação do prazo do diálogo sobre a crise política, deflagrada no final de junho com a deposição do presidente legítimo, Manuel Zelaya.

Enquanto os jornalistas, no hotel onde se realiza o diálogo entre as partes, em Tegucigalpa, se perguntavam na quinta-feira (15) onde estava a comissão negociadora de Micheletti, na TV hondurenha só se falava de futebol. A seleção, classificada pela segunda vez para um Mundial, era homenageada na Casa Presidencial pelo presidente golpista, funcionários e familiares.

O tema da crise política passou para o segundo plano, ignorado por todos os órgãos subalternos da imprensa local — os que poderiam ter opinião diferente foram ou estão prestes a ser tirados do ar, como a rádio Gualcho, já sob ordem de fechamento.

As expressões dos jogadores sentados no palanque ao lado de Roberto Micheletti não poderiam ser classificadas como alegres, apesar da conquista da classificação. Talvez porque eles não sentissem que o sucesso fosse seu mérito exclusivo — a classificação foi obtida graças ao empate entre EUA e Costa Rica, na última hora —, ou talvez porque não quisessem estar lá, participando de um circo midiático.

Dois jogadores se abstiveram, o capitão Amado Guevara e Julio Cesar "Rambo" De León, que explicou assim sua postura: "Simplesmente deve-se buscar o bem do país. Portanto, deixemos de bobeira". Guevara fez chegar até Zelaya uma camisa da seleção autografada.

Torcedores festejam

Nas ruas, os torcedores circulavam em seus veículos aproveitando o feriado nacional decretado pelo governo golpista. Do grupo de resistência que segue em vigília constante nos arredores do hotel, aproximou-se ameaçadoramente uma caminhonete que levava, tremulantes, uma bandeira hondurenha e outra norte-americana.

Os comentários eufóricos de alguns torcedores flertavam com a alienação política: "Ontem, os gringos nos tiraram os vistos, mas hoje nos dão a possibilidade de ir ao Mundial"; "Não importa a crise política do país, isto é Honduras! Vamos ao Mundial!"; "Agora seremos vistos no mundo por algo que realmente vale a pena!". O primeiro se refere à decisão de Washington de suspender vistos para hondurenhos, tomada após o golpe.

A negociação prossegue. Os acordos finais continuam sendo postergados a cada hora, como se o único objetivo fosse adiar o máximo possível a solução da crise.

Mais uma vez, o esporte foi usado para erguer uma cortina de fumaça sobre fatos políticos polêmicos, preencher espaços na mídia e aproximar o povo de um governante impopular. Foi assim como os nazistas nos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, com a ditadura argentina na Copa de 1978 e, em outra escala, já que a conquista do tri ocorreu no México, mas com a ditadura brasileira na Copa de 1970.

Da Redação, com informações do Opera Mundi