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Lula critica governantes "duas caras" por atraso do São Francisco

Ao participar nesta quarta-feira, 14, do evento que marcou o início a viagem por quatro estados para vistoriar as obras de revitalização e integração do Rio São Francisco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que o projeto não será deixado pela metade, criticando governantes anteriores.

"Essa obra foi pensada em 1847. Quase 200 anos depois, não conseguiu andar, porque tivemos muitos governantes de duas caras, que prometiam fazer a obra em um estado e não faziam e prometia não fazer em outro estado", disse durante discurso em Buritizeiro, município de Minas Gerais.

Lula afirmou que não é possível tirar água do Rio São Francisco para matar a sede de 12 milhões de nordestinos sem antes recuperá-lo e citou ações como o reflorestamento para recuperar as matas ciliares e o tratamento de esgoto para evitar a contaminação do rio.

Em Buritizeiro, Lula começou a viagem, que vai durar três dias. Após Minas Gerais, o presidente segue para Barra, na Bahia, e inspeciona defletores e pontos de dragagem e controle de processos erosivos às margens do São Francisco a bordo de um navio – o Agência Flutuante Saldanha Marinho – da Marinha do Brasil.

Ainda hoje, Lula chega a Arco Verde, município pernambucano, onde visita o canteiro de obras em que são realizados trabalhos noturnos com perfuratrizes e passa a noite em acampamento. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, acompanha o presidente Lula nas vistorias.

Fonte: Agência Brasil

Veja abaixo a íntegra do discurso do presidente:

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia alusiva à visita às obras de revitalização do rio São Francisco
Buritizeiro (MG), 14 de outubro de 2009

Meus companheiros e minhas companheiras de Buritizeiro,
Minha querida companheira Dilma Rousseff,
Meus queridos companheiros ministros,
Geddel Vieira, da Integração Nacional, responsável por essas obras,
Companheiro Marcio Fortes, ministro das Cidades,
Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social,
Jaques Wagner, governador da Bahia,
General Enzo Peri, comandante do Exército brasileiro,
Meu companheiro deputado federal, ex-ministro e companheiro que trabalhou para que este projeto pudesse ser realizado, o ex-ministro e deputado federal Ciro Gomes,
Companheiro Leonardo Monteiro,
Reginaldo Lopes,
Quero cumprimentar o padre Salvador, prefeito de Buritizeiro, por meio de quem cumprimento todos os prefeitos aqui presentes,
Quero cumprimentar o nosso companheiro João Machado, da Agência de Águas,
Quero cumprimentar os deputados estaduais aqui da região,
Quero cumprimentar o Tadeu Mariano, vereador, presidente da Câmara Municipal de Buritizeiro,

E quero cumprimentar a imprensa aqui presente.

Primeiro, eu queria dizer para vocês que no nosso projeto original de fazer essa viagem, não estava previsto a gente fazer comício, estava previsto a gente visitar as obras, porque nós queremos fazer uma sinalização para o Brasil e para o mundo. Primeiro, porque essa obra…ela foi pensada em 1847, ainda no tempo em que D.Pedro era o imperador brasileiro. Essa obra, quase 200 anos depois, não conseguiu andar para a frente, porque nós tivemos muitos governantes de duas caras, que prometiam fazer a obra em um estado e não faziam a obra, e prometiam não fazer em outro estado. Porque tem muita gente de boa fé, que tem um cuidado enorme com o rio São Francisco, tem muita gente de boa fé. Mas é importante que a gente lembre que o primeiro sinal de boa fé que a gente tinha que ter com o rio São Francisco era não jogar os dejetos da cidade dentro do rio São Francisco, como vêm sendo jogados. O segundo sinal de gostar do rio São Francisco era não ter permitido que fosse praticamente dizimado todo o cerrado brasileiro para produzir carvão, acabando com toda a mata ciliar perto do rio São Francisco. A terceira coisa importante era não ter permitido que o rio São Francisco fosse assoreado como ele é.

Em 1994, quando eu vim fazer a caravana do rio São Francisco, a gente não pôde pegar um barco para ir até Juazeiro da Bahia, em Pirapora; eu tive que pegar em Carinhanha, na Bahia, porque o rio não era trafegável em Pirapora mais, porque uns irresponsáveis deixaram desmatar e deixaram assorear o rio São Francisco.

Quando nós decidimos fazer o projeto para levar água para 12 milhões de brasileiros que moram no lugar mais seco deste país, a gente tomou uma decisão anterior, e foi essa a minha orientação ao nosso querido José Alencar, vice-presidente da República, que foi o primeiro a tratar desse projeto; depois, ao companheiro Ciro Gomes; e depois ao Geddel: nós não podemos fazer com que a gente tire água do rio São Francisco para matar a sede de 12 milhões de nordestinos, sem antes a gente recuperar o rio São Francisco.
E para recuperar o rio São Francisco era preciso a gente fazer tratamento de esgoto em todas as cidades próximas ao rio São Francisco, não apenas para evitar que o esgoto caísse no rio, mas para que a gente também possa evitar que as nossas crianças fiquem brincando em esgoto a céu aberto, nas cidades à beira do rio São Francisco.
Depois, resolvemos recuperar as margens degradadas do rio São Francisco. E por isso estamos fazendo o maior projeto de florestamento das matas ciliares do rio São Francisco que já foi feito. E vocês sabem que uma árvore a gente planta, e a gente tem que esperar ela crescer para a gente ver.

Certamente, eu não vou ver, no meu mandato, tudo aquilo que está sendo feito. Mas, certamente, ainda estarei vivo para fazer uma outra caravana pelo rio São Francisco para a gente poder ver o que vai acontecer.

O dado concreto e objetivo é que esse projeto é um megaprojeto. Eu vou dar alguns números para vocês, só para vocês terem noção do que é a quantidade de dinheiro que nós estamos investindo para fazer esse trabalho, que eu acho que é um trabalho que vai ficar para a história do povo brasileiro.

Bem, prestem atenção aos números, sobretudo os companheiros da imprensa. Do investimento total nas obras do programa de integração do rio São Francisco, R$ 4,8 bilhões, mais da metade desses recursos serão aplicados em compensação ambiental. Entre outras ações, está prevista a aplicação de R$ 1 bilhão em obras de esgotamento sanitário em 198 municípios da região. Já foram concluídos 6 sistemas: Bambuí, Jaíba, Japaraíba, Medeiros e Três Marias, em Minas Gerais, e a primeira etapa de Exu, em Pernambuco. As obras estão em andamento em mais 101 municípios, nos estados de Alagoas, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Sergipe.

Pelo Programa Água para Todos foram concluídas 4.121 cisternas, em 54 municípios. Estão concluídos os sistemas de abastecimento rural em Itamarati, em Juazeiro-Bahia, e a instalação de equipamentos para 63 poços tubulares em Minas Gerais. Já foram executados 28% dos programas básicos ambientais que visam a eliminação, minimização e controle dos impactos ambientais causados pelas obras.

Foi concluída a construção de 86 casas em comunidades indígenas e quilombolas, e a construção de 55 casas na vila produtiva rural do Junco. Estão em construção as vilas produtivas rurais de Fazenda Salão, Captação, Negreiros, Uri, Pilões, Descanso e Vassouras, além de mais 196 casas e três postos de saúde em comunidades indígenas e quilombolas.

Obras em ponto crítico de erosão: estão concluídos quatro empreendimentos de desassoreamento do rio Gorutuba, em Janaúba, Minas Gerais; recuperação da barragem de Cacimba Velha, em Petrolina-Pernambuco; dique Cotinguiba; Pindoba, em Propriá; e viveiro de mudas, em Betume.

Bem, esses dados demonstram claramente o seguinte: a partir do momento da revitalização das obras do rio São Francisco, vocês vão ver aqui em Buritizeiro que mais da metade da cidade já está com tratamento de esgoto sendo executado, e algumas partes prontas.

O prefeito me dizia que faltam três regiões, três bairros para a gente fazer o esgotamento sanitário, e faltam 2.500 metros para a gente fazer drenagem. Pois bem, o que eu posso dizer para vocês é que – eu não sei se ainda no meu governo, Geddel – mas o que eu posso dizer para vocês é que a gente não vai deixar a obra pelo meio. A gente vai vir aqui inaugurar todas essas obras porque nós queremos que as cidades que beiram a margem do rio São Francisco, todas tenham 100% de coleta de esgoto para que esse esgoto, quando for jogado no rio, seja jogado tratado, para que a gente possa recuperar a dignidade do Velho Chico, tão adorado por alguns e tão depredado e degradado por outros.

Por isso, eu queria, Geddel, agradecer o ritmo das obras. Dizer aos companheiros prefeitos que, se tiverem projetos para apresentar, apresentem, porque durante muitos séculos esta região foi totalmente esquecida, esta região foi totalmente esquecida.

Hoje nós nos damos até ao luxo de estar fazendo uma obra que dom Pedro queria fazer 200 anos atrás. Essa obra vai ser feita para melhorar a qualidade de vida do povo desta cidade, desta região, e a qualidade da água do rio São Francisco, a navegabilidade do rio São Francisco, porque um dia nós vamos voltar a andar no rio São Francisco como a gente andava antigamente, de Pirapora até Juazeiro do Norte. Essa viagem, eu tive… Juazeiro da Bahia. Juazeiro do Norte é no Ceará. Desculpa, Jaques Wagner, mas nós vamos fazemos fazer um rio e vamos chegar até Juazeiro, na Bahia. No Ceará também.

Por isso, meus companheiros e minhas companheiras, eu quero agradecer a vocês.
Agradecer o carinho, mas, sobretudo, agradecer a vocês a capacidade de cobrar, a capacidade de cobrar, porque não é sempre que um Presidente vem a Buritizeiro, aliás, não sei se veio. Não sei se veio. Não sei se já veio algum Presidente aqui nesta cidade. Segundo: neste país, não havia costume de fazer saneamento básico, porque para fazer saneamento básico você tem que colocar manilha em baixo da terra e o povo não vê manilha e aí não dá para o político colocar o nome da mãe, o nome do pai, o nome da tia. Então, nós temos cidades inteiras no país, que não têm um metro de coleta de esgoto, porque antigamente, se preferia fazer ponte ou viaduto, do que fazer esgoto. As pessoas preferem ver o nome de um parente em uma ponte do que ver uma criança brincando descalça em uma rua sem fezes, sem urina sem esgoto a céu aberto.

Este país, este país começou a ser consertado e ele vai ser consertado. Este país não vai ser mais governado apenas para a elite política deste país, a elite política das capitais, a elite política das grandes cidades, a elite política de Brasília. Este país tem que entender que só tem sentido a gente ser governador, presidente da República e prefeito, se ele cuidar de todos, mas em primeiro lugar se ele cuidar da parte mais pobre do povo de cada cidade, de cada estado e de cada país. É o povo pobre que precisa do Estado brasileiro. É o povo pobre que precisa da Prefeitura, é o povo pobre que precisa do estado e nós, então, estamos virando a página. Não existe mais possibilidade deste país eleger prefeitos, governadores e presidentes que vão governar para os coronéis que há 500 anos governam e mandam neste país.
Um abraço e boa sorte ao povo de Buritizeiro.
Um grande abraço.