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Quintino: os movimentos sociais, as Olimpíadas, a 151 e a mídia

A escolha do país para sediar as Olimpíadas de 2016 pode ser vista como uma premiação após décadas de luta dos movimentos sociais brasileiros pela afirmação de um projeto nacional de desenvolvimento soberano, economicamente inclusivo e socialmente justo, onde o povo brasileiro começou a virar a página do neoliberalismo, de privatização e desmonte do Estado.

Por Quintino Severo, no Portal do Mundo do Trabalho

Mais do que ao governo que, reconhecidamente, está comandando este processo, uma condecoração a homens e mulheres, jovens e idosos, que não se deixaram abater e deram a volta por cima, mostrando seu valor coletivo, antes violentado e segregado pelos silvérios dos reis que usurparam a vontade popular.

Se é fato que ainda temos longo trecho para avançar, é fundamental sublinhar a inversão da lógica tucana, que apontava para o descaminho de transformar o nosso país em terra arrasada para os especuladores e cartéis estrangeiros, sangrando a riqueza nacional, roubando o nosso patrimônio e a nossa auto-estima.

Ao contrário daqueles tempos, começamos a andar de cabeça erguida para reduzir o fosso das desigualdades. Assim, investindo em políticas públicas e no papel do Estado como indutor do desenvolvimento, dezenas de milhões deixaram a linha da pobreza, conquistamos uma política de valorização do salário mínimo e das aposentadorias.

Mais recentemente, após negociação com o governo, garantimos o envio ao Congresso da ratificação da Convenção 151 da OIT, que estabelece a negociação coletiva no serviço público, vista como um passo essencial não só para a democratização deste setor essencial, como para a valorização dos serviços e dos servidores.

A partir da descoberta das imensas jazidas do pré-sal, resultado dos sólidos investimentos da Petrobras, descortinam-se novas e radiantes perspectivas, por meio do controle público da empresa 100% estatal, a fim de que estes recursos, bem administrados, se transformem num passaporte para o futuro do Brasil e dos brasileiros com investimentos em políticas sociais.

Com o sinal trocado, os grandes meios de comunicação continuam atuando como apóstolos do caos. Inicialmente jogaram para amplificar internamente os impactos da crise internacional, proporcionando um caldo de cultura para que grandes multinacionais puxassem a onda de demissões e tentassem disseminar o arrocho salarial e a precarização das relações de trabalho — como fizeram as montadoras —, criando um ambiente desfavorável aos investimentos. Posteriormente, tentaram boicotar, depois desmerecer ou reduzir o peso que tiveram decisões de Estado que mantiveram e ampliaram programas sociais, vitaminaram financiamentos, robusteceram créditos, favoreceram a ampliação da massa salarial e o aumento do consumo para enfrentar a crise.

A CUT e os trabalhadores, naturalmente, querem mais. Exigimos contrapartidas sociais aos investimentos, garantia de emprego, respeito aos direitos, elevação de pisos salariais, fim do elevado superávit primário, redução dos juros e do spread bancário, canalização destes preciosos recursos para a produção, para a saúde, educação, reforma agrária. Nosso compromisso é fazer a roda da economia girar mais forte e mais rápido, para melhor atender os milhões que ainda se encontram à margem e necessitam da nossa voz, da nossa mão companheira, do nosso empenho militante.

Se lutamos e queremos mais, é porque sabemos que podemos conquistar, em um momento onde não cabem vacilações. Infelizmente, na complexidade do desafio que temos pela frente, há os que vacilam e se apequenam, comprometidos unicamente em perpetuar os seus mesquinhos interesses.

Alinhados a estes, tentando dar eco a suas vozes, encontram-se os barões da mídia, gente que fez — e faz — de jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão os porta-vozes do atraso, da insensibilidade e da insensatez, que transformam a mercadoria em notícia, perdendo qualquer objetividade. Exemplo disso foi que quando disputamos a sede das Olimpíadas, amplos setores da mídia levantaram os trombones contra o próprio país, a quem atribuíam corrupção e violência inauditas. Uma vez confirmada a vitória, em meio ao aplauso popular, reproduziam declarações dos nossos adversários, acusando subornos e outras abomináveis práticas, das quais costumam se utilizar. É fato relevante — e o tema será amplamente debatido na Conferência Nacional de Comunicação — que, mesmo quando vestem a camisa do Brasil, é para fazer gol contra.

Vale a pena continuar a luta, pois as conquistas são seus frutos.

* Quintino Severo é secretário geral da CUT Nacional