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Roubini: Estamos plantando as sementes da próxima crise

O economista norte-americano Nouriel Roubini disse que já estão sendo plantadas as “sementes da próxima crise”. Ele também destacou que está preocupado com o fosso crescente entre o “efervescente” mercado financeiro e a economia real. A avaliar pela subida espetacular do preço das ações nos últimos meses, é de pensar que os investidores apostam em que a bonança está prestes a chegar, o que Roubini não subscreve. “A crise ainda não acabou”, ressaltou.

Para Roubini, a economia tem agora consumidores que estão “enterrados em dívidas” e têm de cortar no consumo para poupar mais. “O sistema financeiro está danificado, e não vejo muito investimento do setor empresarial, porque há falta de capacidade”, destacou. Segundo o economista, os preços das casas nos EUA ainda vão cair mais, comprometendo a frágil recuperação dos EUA.

Ele adverte que os investidores estão apostando em uma recuperação econômica em forma de "V", algo que dificilmente acontecerá. "Parte (do avanço das cotações) é baseada nos fundamentos. Nós evitamos o Armageddon, há uma luz no fim do túnel e a aversão ao risco está menor. Mas isso aconteceu tão rapidamente e tão cedo, do meu ponto de vista, que diverge dos fundamentos econômicos subjacentes."

Risco nos EUA

Para ele, os mercados financeiro esperam uma recuperação em ""V" "e precisam começar a esperar uma recuperação em "U", então podemos esperar uma correção no quarto ou no primeiro trimester". Roubini e outros economistas alertaram recentemente que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) precisaria elevar os juros de forma agressiva para evitar a criação de uma nova bolha nos preços de ativos. No entanto, ressalvou "ainda não ser o momento para aumentar os juro", diante da fraqueza da economia dos EUA.

O economista destacou as diferenças entre países da América Latina. "Alguns, como Brasil, Chile e Uruguai, são voltados à economia de mercado. Outros são mais populistas, como a Venezuela", disse, notando as diferenças entre venezuelanos (42º) e chilenos (3º) no ranking de estabilidade financeira do World Economic Forum.

Roubini advertiu que a economia dos EUA ainda corre "de 20% a 25%" de risco de sofrer um "segundo mergulho" ou uma recuperação em W. O economista também alertou que "o preço do petróleo não tem levado em conta os riscos de um conflito entre Irã e Israel". Caso ocorra uma guerra, ninguém sabe o que acontecerá com a economia, diz Roubini.

Perdedores

Na apresentação do relatório sobre o ranking de desenvolvimento financeiro elaborado pelo World Economic Forum (WEF), Roubini disse que a economia brasileira foi a que mais evoluiu. Ele e os demais economistas da entidade destacaram o exemplo positivo do Brasil como sinal de que os “emergentes” ganham força nas finanças mundiais.

Já os americanos e as economias desenvolvidas teriam sido os principais perdedores na crise. Em outra classificação da entidade, que mede a estabilidade do sistema financeiro, o Brasil supera os EUA e o Reino Unido. Subindo seis posições no ranking de desenvolvimento financeiro, o Brasil ocupa a 34ª posição e tem 3,46 pontos numa escala estabelecida pelo WEF. O Reino Unido, em primeiro lugar, tem 5,28. Já a Venezuela, em último, 2,52. De 55 economias pesquisadas, a brasileira conquistou mais pontos: 0,18.

Com algumas poucas exceções, como a Austrália, os países desenvolvidos apresentaram fortes quedas no índice. Os EUA, que deixaram o topo da lista para ocupar o terceiro lugar, apresentou acentuada redução de 0,73 pontos. A medição leva em conta 120 variáveis, atribuindo pesos ao ambiente de negócios e institucional, estabilidade financeira e a dimensão do mercado de capitais.

"Os países em desenvolvimento exibiram bom resultado no pilar de estabilidade financeira do índice. Esse resultado se deve ao aprendizado em erros de crises do passado, apesar de, para alguns, isso se dever à relativa falta de complexidade e de integração global de seus sistemas financeiros", disse Roubini.

Reformas no Brasil

Roubini elogiou o Brasil, mas ressaltou que o governo brasileiro deve fazer reformas para o país avançar mais e deixar de ser o Bric que menos cresce entre os quatro — os outros são Rússia, Índia e China.

O professor da Universidade de Nova York afirmou que os países “emergentes”, por terem passado por crises anteriores, estavam mais preparados. E, mais importante, disse que foi "o avanço do sistema financeiro brasileiro nos últimos anos, com um banco central independente". Mas, segundo o economista, "o Brasil ainda necessita de reformas na área fiscal, desenvolver a infraestrutura e investir em capital humano".

A taxa de crescimento do Brasil neste ano e em 2010, na avaliação de Roubini, dependerá da recuperação da economia global e da demanda por commodities. "Mas o Brasil é um país grande e leva vantagem pelo tamanho de seu mercado doméstico." Segundo Roubini, o Brasil conseguiu superar com rapidez a crise porque não tinha uma bolha imobiliária, que foi um dos fatores decisivos.

Com aências