Carlos Augusto Diógenes – Memória e futuro

No início dos anos 70, um nosso colega de origem, de luta, de ideais, empregou o melhor de sua força e sua inteligência para ajudar na construção de um sonho, não apenas seu, mas de muitos. De tantos quantos ousaram levantar a voz quando a ordem era calar.

De todos que não se omitiram, quando, diante do arbítrio, o medo convidaria a recuar. Dos que levantaram a mão para protestar contra quem tomou de assalto nossa liberdade e, ao mesmo tempo, iniciar a longa, dolorosa, mas imprescindível batalha para reconquistá-la.

Trinta e sete anos depois de seu desaparecimento, Bergson Gurjão Farias segue a nos legar lições tão fundamentais quanto a intensidade com que abraçou a causa coletiva. A dedicação aos estudos, a acurada compreensão da realidade e a obstinação de modificá-la são aspectos da personalidade que segue a nos motivar. Assim como tem muito a ensinar às gerações que o sucederam, beneficiando-se de uma liberdade que ele e outros jovens heróis cearenses – como Jana Barroso, Custódio Saraiva e Teodoro de Castro – não chegariam a experimentar. Mas também somando esforços na batalha para ampliá-la, sabedores que somos de que não pode haver, de fato, liberdade, sem condições mínimas de dignidade, de consciência política, de participação efetiva na construção de uma outra sociedade.

Nessa empreitada, Bergson tombou diante da covardia de um inimigo que, aos milhares, teve de se desdobrar para dar combate a militantes que se contavam às dezenas. Idealistas, certamente, mas conhecedores dos enormes riscos que abraçaram. Jovens que gostaríamos de ver aqui, hoje, conosco, grisalhos de vida plena, ajudando a construir um Brasil de democracia e justiça social. Líderes que teriam muito a contribuir com esse momento em que o povo avança no discernimento quanto à trajetória a tomar. Guerreiros que caíram diante da brutalidade de quem se considerou, a um tempo, juiz e executor, condenando brasileiros como nós não apenas à morte, mas ao torpor do desaparecimento, submetendo seus familiares a décadas e décadas atravessadas de desesperança e incertezas.

Felizmente, pudemos ver nascer o outro dia, sonhado por Bergson e por seus colegas, no centro de um País até hoje pouco habituado a lembrar seus verdadeiros heróis. Se tanto ainda há por fazer, este Brasil sonhado ficou mais perto da realidade, colhendo vitórias dificilmente imagináveis por aqueles companheiros que até hoje esperam, nas veredas do Araguaia, pela verdade & tardia, mas inevitável.

Por tudo isso, o PCdoB homenageia Bergson, cumprimenta seus familiares e destaca o importante trabalho da Secretaria Especial dos Direitos Humanos neste momento. Reconhecer o exemplo de Bergson e de todos os que com ele lutaram, levá-lo aos brasileiros de hoje, fazê-lo inspiração para as lutas às quais novamente somos convocados é mais do que um desafio: uma necessidade. Uma questão de justiça. Um acerto de contas do Brasil, com sua memória e com seu futuro.

Carlos Augusto Diógenes é Presidente Estadual do PCdoB/CE