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Movimentos sociais realizam manifesto em defesa do rio Xingu (PA)

A luta em defesa do rio Xingu não para. Nesta quarta-feira (30), cerca de quarenta representantes dos movimentos sociais estiveram reunidos em um ato político no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para entregar um manifesto e um documento apresentando os principais questionamentos e reivindicações acerca do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) de Belo Monte, no Rio Xingu, estado do Pará, situado na região Norte.

A manifestação aconteceu devido à falta de posicionamento do Ibama a respeito dos pedidos feitos pelos movimentos sociais e pelo Ministério Público Federal (MPF), que solicitavam a anulação das quatro audiências públicas sobre Belo Monte e a realização de novas audiências em um território mais amplo que contemple as localidades rurais que seriam atingidas. Sem resposta, a saída foi protocolar junto ao Ibama, documentos de ordem política e técnica.

Os documentos foram recebidos por Roberto Scarpari, gerente do Ibama em Altamira, que admitiu que se o modelo das audiências não está atendendo adequadamente a população, é legítimo que a sociedade se organize para reivindicar um modelo mais adequado, inclusive levando em consideração a realidade amazônica, que se diferencia das outras regiões do Brasil pelas distâncias e dificuldades de deslocamento. Os documentos foram protocolados no MPF, para que o órgão acompanhe o processo e reforce o pedido de respostas junto ao Ibama.

Segundo Renata Pinheiro, assessora técnica do Movimento Xingu Vivo para Sempre, as audiências foram realizadas sem que as pessoas realmente interessadas na questão estivessem presentes. Por este motivo, a reivindicação dos movimentos é que as audiências já realizadas sejam anuladas.

"Em Altamira, onde aconteceu a maior audiência, houve mais informação. A prefeitura distribuiu camisas e várias pessoas foram mobilizadas para participar. No entanto, em locais como Brasil Novo a divulgação da audiência foi feita por fax, internet e alguns cartazes colocados na área urbana, e a área rural, que será a mais atingida, ficou negligenciada. Por estas questões estamos solicitando mais audiências", esclareceu.

O próximo passo dos movimentos sociais é organizar campanhas de divulgação junto às comunidades e escolas para informar os impactos reais que a construção da Belo Monte poderá causar a eles e ao Rio. A intenção é que, estando informada, a população, inclusive os indígenas, poderão participar dos atos de resistência.

"A questão do deslocamento e das distâncias dificulta muito o acesso a algumas localidades, também existe a barreira da língua com relação aos indígenas, mesmo assim é necessário que as pessoas saibam concretamente o que vai acontecer com elas e com o Rio após a construção da hidrelétrica. Alguns não sabem, inclusive, que terão que sair de suas casas para dar espaço à Belo Monte", fala Renata.

Os estudos ambientais para a construção da hidrelétrica já foram finalizados, no entanto com várias restrições e problemas. A demanda dos movimentos sociais é que esses estudos sejam realizados novamente para mostrar a verdadeira dimensão dos impactos sociais que causarão uma transformação total das características da região.

Atualmente, as organizações que defendem o Xingu estão aguardando que o pedido de anulação das audiências seja ajuizado e esperando também um posicionamento do Ibama a respeito da realização das novas audiências ainda este ano. Estas respostas poderão definir se o leilão para a concessão da hidrelétrica acontecerá este ano.

"A decisão se leilão sai ou não este ano é uma questão de agenda política. Existem três grandes problemas: a anulação das audiências, a realização de novas audiências e a consulta prévia aos povos indígenas, que ainda não aconteceu e é um processo que demanda bastante tempo", afirma a assessora técnica.

Fonte: Adital