Marina Silva é candidata dos intelectuais inertes

Dentre as pragas hospedadas no Brasil, um verdadeiro cancro não é tratado com a atenção devida. Pouco se fala de uma intelectualidade que nada acrescenta ao país.

Trata-se de uma casta que teve o privilégio de estudar. Sim, por aqui, estudar ainda é privilégio. São um grupo de professores universitários, seus ex e atuais alunos. Uma turminha da marola que se move ao bel prazer das ondas. Passaram muito tempo nos bancos das escolas, mas não convertem isso em proveito da nação.

Essa patota adora se manifestar nos momentos de crise. Se a moda é execrar José Sarney, todos saem de seu submundo e são, desde sempre, inimigos número um do presidente do Senado. E acreditam piamente que decapitar o maranhense radicado no Amapá seja a solução para todos nossos problemas. Em tempo: que fique claro que não faço qualquer defesa do bigodudo. Penso que ele seja mais um símbolo dos grandes males que nos acometem. Todavia, a discussão aqui é outra.

A última ressurreição da intelectualidade pode ser observada na defesa que alguns de seus baluartes fazem da candidatura da ex-ministra Marina Silva à presidência. É impressionante como a outrora “ecochata” ministra discreta converteu-se numa espécie de salvação da lavoura. Isso apenas na boca dos bacharéis. Esses intelectuais de meia pataca adoram ler orelha de livro para dizer que são letrados. Até sabem que Marx não é o Marques atacante do Galo. Embora pouco conheçam sobre esse intelectual de fato e de direito. As cabeças “pensantes” tupiniquins querem também uma revolução, mas sem qualquer sedimentação.

Não procuram saber como funciona o Congresso Nacional ou o que vem a ser o famigerado “baixo-clero”. Na maioria das vezes, votam nulo para, em uma eventual crise, encherem o peito e gritar: “É por isso que anulo meu voto!”. Como se essa atitude covarde, embora pertinente numa democracia, fosse resolver qualquer coisa. Deveriam tentar passar da página três de algum livro clássico das ciências políticas. Isso ajudaria, pelo menos, a entender um pouco melhor o mundo em que vivem. Ao contrário, preferem investir seu tempo livre na leitura de coisas do tipo “Pai Rico, Pai Pobre”, “Quem mexeu no meu queijo?” ou alguma obra(?) do Paulo Coelho.

Pela senadora Marina Silva, de verdade, tenho profunda admiração. Ela é mais uma vencedora da verdadeira batalha que é nascer longe de berço esplêndido no Brasil. Os obstáculos impostos pela pobreza não a desvirtuaram de uma vida correta e digna. Não fez das desgraças que a atingiram, sobretudo em sua saúde, desculpa para não progredir. Ela é mais uma vencedora. Mas daí a dizer que é a versão meridional de Barack Obama, como nossa intelectualidade tem feito, é um pouco demais para meu gosto. Não tenho dúvidas de que seja uma grande política e que tem muito a acrescentar. Mas antes de defender com unhas e dentes candidaturas A, B ou C, é necessário saber uma coisa básica: qual é a plataforma de governo dos postulantes. Mas quem tem plataforma definida neste país?

Por Orozimbo Souza Júnior – jornalista