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Com a confiança de Lula, Franklin conquista espaço e poder

O fato de não ser candidato a nenhum cargo nas eleições de 2010 e de não ter compromisso com partidos políticos tornou um já influente ministro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda mais atuante no primeiro escalão do governo. Franklin Martins está entre os mais frequentes interlocutores do presidente, ao lado da chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, e do chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.

Por Luciana Nunes Leal, em O Estado de S. Paulo

Mais que conselheiro, Franklin, capixaba criado no Rio, de 61 anos, passou a ter atuação direta nas ações do governo. O caso mais emblemático aconteceu no dia 30 de agosto, durante jantar no Palácio da Alvorada do presidente com os governadores do Rio, de São Paulo e do Espírito Santo, na véspera do lançamento do projeto de exploração do pré-sal. Por pressão de Sérgio Cabral (PMDB), José Serra (PSDB) e Paulo Hartung (PMDB), o governo fez mudanças de última hora na proposta, garantindo a cobrança de royalties no pré-sal e a manutenção da distribuição privilegiada aos Estados produtores de petróleo.

Franklin fez o papel que caberia a Dilma, defendendo a ideia de que os royalties do petróleo do pré-sal, fosse qual fosse o modelo a definir pelo Congresso, deveriam ter uma distribuição mais igualitária entre todos os Estados e municípios. Ele esteve à frente da negociação e chegou a ter uma discussão ríspida com Cabral. Integrantes da equipe do governador fluminense saíram surpresos com a atuação de Franklin.

Foi a própria ministra quem avisou que não ficaria na linha de frente do embate com os governadores. Afinal, ela não é apenas a chefe da Casa Civil, mas a candidata de Lula à sua sucessão – não queria entrar em confronto com aliados como Cabral nem com Serra, muito provavelmente futuro adversário na disputa presidencial. Cada vez mais a ministra vai "fugir" de brigas que, em um cenário não-eleitoral, compraria sem problemas.

A atuação de Franklin no jantar do pré-sal refletiu não apenas a decisão do presidente de confiar ao ministro uma tarefa que foi além da comunicação, mas também a proximidade cada vez maior do ministro com Dilma. Entre parlamentares e assessores do Planalto, não há dúvida de que ele terá papel relevante na campanha, mesmo sem se afastar do governo. "Franklin tem a percepção do governo, mas também uma análise política qualificada", diz o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS).

Definição

A independência partidária permitiu que o ministro atuasse em um momento constrangedor para o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), que chegou a anunciar a renúncia do cargo em caráter "irrevogável", no auge da crise que envolveu o senador José Sarney (PMDB-AP). Franklin participou da elaboração da carta do presidente pedindo a permanência de Mercadante, lida no plenário.

Outro episódio em que o ministro esteve presente foi a reação de Dilma diante das afirmações da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira de que a ministra pediu agilidade nas investigações referentes ao empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. Franklin contrariou a prática de dar apenas informações de bastidores (em off, no jargão jornalístico) e concedeu entrevista dizendo que Lina estava "mentindo". Franklin esteve ao lado da ministra quando ela assumiu publicamente o tratamento contra o câncer, em abril, e de lá para cá a relação entre os dois se estreitou.

"Influente, porém discreto." A definição é recorrente nos comentários sobre a atuação do chefe da Comunicação. Ele participou como uma espécie de mediador nas discussões com os ministros da Defesa, Nelson Jobim, e da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, sobre as buscas pelos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, realizadas há dois meses. Havia um atrito sobre o comando da operação, que ficou sob responsabilidade da Defesa. Em parceria com Vannuchi, Franklin se encarregou da campanha institucional para estimular a entrega de documentos que levem a novas pistas sobre os guerrilheiros.

Os episódios até hoje obscuros do regime militar interessam particularmente ao ministro da Comunicação, que, muito jovem, militou na resistência à ditadura e em 1969 participou do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, solto em troca da libertação de 15 presos políticos. "Ele sempre teve muita capacidade de organização", diz o jornalista Cid Benjamin, amigo desde o tempos do Colégio Aplicação, que militou com Franklin no movimento estudantil, no MR-8 e também atuou no sequestro do embaixador. "Quando vi que Franklin ia ser ministro, eu sabia que conquistaria um espaço maior", diz Cid.

Depois do sequestro, Franklin fez treinamento em Cuba, voltou ao Brasil, passou uma temporada na Europa, retornou em meados dos anos 70 e viveu escondido até a anistia, em 1979, quando passou a trabalhar como jornalista. Foi repórter, colunista, editor, diretor da sucursal do jornal O Globo em Brasília e, durante oito anos e meio, comentarista político nas TVs Globo, Globo News e Bandeirantes, de onde saiu para integrar o governo Lula.

Projeto da EBC

Além da rotina de conversas no início do dia, quando o ministro comenta com Lula os principais assuntos e discute o tratamento a ser dado a cada tema, Franklin é convidado para encontros no fim de semana, na Granja do Torto ou no Alvorada. Mesmo nessas situações, mantém a formalidade. É próximo, mas não é amigo. Trata Lula de "presidente" e "senhor".

"Os convites para o Torto e o Alvorada acontecem com poucos. Tenho notado que o presidente cada vez ouve mais o Franklin em todos os assuntos. Houve uma empatia desde o início. Depois do Gilberto Carvalho, é a pessoa que passa mais tempo com o presidente", diz o jornalista Ricardo Kotscho, ex-secretário de Divulgação e Imprensa da Presidência, amigo de Lula e participante de alguns encontros de fim de semana.

Próximo do presidente, mas reservado. Essa é outra característica de Franklin. A soma de poder e confiança do jornalista-conselheiro ficou patente quando o governo decidiu, no segundo mandato presidencial, que ia bancar a criação de uma emissora pública de TV. Do projeto nasceu a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que era para ser uma emissora ao estilo e imagem das TVs europeias, como a BBC inglesa.

Franklin capitaneou o processo, falou muito em "democratização da comunicação", do padrão alternativo da EBC à programação de massa e aos interesses comerciais das redes privadas, pregou independência, mas o que restou mesmo foi a segurança política do Planalto. Criada em outubro de 2007, por medida provisória, a EBC é uma instituição anêmica (duas TVs e nove rádios), sob total controle da Secretaria de Comunicação. O Conselho Curador é decorativo e marcado por um rodízio que em menos de dois anos trocou 6 dos seus 15 conselheiros.

Congresso vigiado

Embora dialogue com muitos parlamentares, Franklin não tem atuação na tramitação de projetos. Sua equipe, no entanto, acompanha os embates com a oposição na Câmara e no Senado. Algumas vezes, Gilberto Carvalho é acionado para entrar em ação e recomendar aos governistas uma atitude mais ofensiva.

À frente da Comunicação Social, Franklin mudou a relação de Lula com a imprensa. Nos três primeiros anos do primeiro mandato, a média anual de entrevistas do presidente foi de 41. Este ano, até sexta-feira, já foram 195, somando as exclusivas, coletivas e os chamados "quebra-queixos", em que os repórteres aproveitam a presença do presidente e fazem perguntas sobre os temas relevantes do dia.

Fomte: O Estado de S. Paulo