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 Luis Melián: Uma noite em Pyongyang

Por estes dias, aqui todos os caminhos parecem conduzir ao estádio Primeiro de Maio. Ali coincidem dezenas de milhares de pessoas, umas para brindar um espetáculo que bem pode se qualificar de perfeito. Outras para o desfrutar e quiçá nunca o esquecer.

Luis Melián (*)
Especial para a Prensa Latina

Arirang

Arirang é a única causa para que nas noites de agosto e setembro Pyongyang tenha como centro de sua atividade a mencionada instalação.

A origem do vocábulo perde-se no passado e associa-se-lhe à história e música da nação coreana, mas hoje seu significado também equivale a ginástica, desporto, acrobacia, construção de uma sociedade, aspirações. Se pode-se-lhe agregar outro, este deve ser Aperfección.

Se as cifras de participantes e espectadores impressionam, mais fazem-no a sincronia, rapidez, vestuarios, conteúdo e mensagens desta festa de 120 minutos que tem entre seus grandes atrativos um quadro humano.

Nessa última intervêm 20 mil jovens, que apresentam 150 imagens multicolores, com uma precisão tal que ao princípio muitos crêem estar em frente a uma parede eletrônica.

Só essa parte do espetáculo bastaria para impressionar ao mais incrédulo, mas outros 80 mil participantes contribuem também desporto e alegria com uma elegância que arranca contínuos aplausos das cerca de 60 mil pessoas atraídas a cada noite por tão sã e agradável oferta.
Toda esta criação se engrandece quando cerca de 500 crianças se apoderam da pista do estádio para demonstrar suas habilidades, adquiridas e aperfeiçoadas durante semanas de preparação.

Seu diretor artístico, Kim Kum Ryong, explicou à Prensa Latina detalhes da montagem horas antes de uma função. Os diferentes blocos começam a organizar-se a princípio de ano, com sessões de duas horas igual número de vezes à semana. Pouco a pouco o trabalho intensifica-se e o espetáculo toma forma. Depois, 10 dias antes do momento da verdade, chega o ensaio geral de uma obra na que ninguém repete papel algum.

A partir de então o Estádio Primeiro de Maio está o coração de Pyongyang. A instalação bate ao ritmo da alegria da multidão que desde cedo na tarde começa a congregar-se em seus arredores. Do resto da cidade apodera-se o silêncio.

Kim recorda-nos que Arirang debutou em abril de 2002, na ocasião do aniversário 90 do natalício do fundador da República Popular Democrática da Coréia, Kim Il Sung.

Por seu sucesso, as autoridades decidiram retomá-lo em 2005 e segundo tudo parece indicar, esta mistura de arte, entretenimento e reflexão seguirá animando as noites do verão da capital norte coreana.

Ao somar a esta festa, o espectador será testemunha da história do povo coreano, sobretudo seus sofrimentos pela ocupação japonesa (1910-1945), a fundação da RPDC, a construção de uma nova sociedade e a almejada reunificação.

Quanta dedicação, disciplina e vontade se requer para montar um espetáculo de 120 minutos no que participam 100 mil pessoas?
Bem merecido então que o Arirang ostente como um de seus grandes reconhecimentos a inscrição no livro Guiness dos Records em agosto de 2007 como o maior e melhor de seu tipo.

(*) O autor é enviado especial e corresponsadente da prensa Latina na China