Ivina Carla – Produção cultural é questão de soberania nacional

Buscando alguns dados sobre acesso aos meios de comunicação no anuário de estatísticas culturais do Ministério da Cultura, pude constatar como a exclusão é evidente, mesmo com o crescimento das políticas públicas em torno da cultura.

É evidente que houve um maior interesse por parte desse governo de promover debates sobre o desafio de aproximar as pessoas aos bens culturais. Mesmo com o esforço ainda nos deparamos com um descompasso visível, no que diz respeito à renda, faixa etária, contexto social, etnia, escolaridade.

Cinema, acessível para quem?

O cinema surgiu no Brasil em 1896, mas em pleno ano de 2009 aqui em Fortaleza, umas das cidades pesquisadas, somente 14% da população frequenta as salas cinematográficas. Outro dado que me preocupa é que os indicadores apontam que a assiduidade é de pessoas com o nível de escolaridade maior, que 45% com renda maior que R$ 4.500,00 contra 7,58% com renda inferior a R$ 599,00.

Podemos ter um avanço no que diz respeito à produção nacional, mas a preferência ainda é por filmes americanos, o que afirma a dominação estrangeira arraigada na nossa cultura. Nesse quadro existe uma disparidade de 19% de preferência por filmes americanos contra 3,90% de filmes brasileiros.

Consegui identificar também alguns outros dados que na minha concepção vão além do absurdo. Somente 4,20% dos índios frequentam as salas de cinema e 7,10% dos negros. Isso também é influenciado pela questão da renda e merece uma reflexão sobre o vale-cultura que eu acredito ser uma política pública de inclusão, mas que não pode ser no faz de conta (promover para que as pessoas tenham acesso a qualquer coisa).

Para radicalizar a cultura brasileira e disseminar o espírito nacionalista é preciso criar o ambiente oportuno para as produções locais, é necessário barrar o avanço da cultura estrangeira que se instalou aqui há tempos.

A conferência de cultura está caminhando, é um dever social tomar posse desse espaço para que muitos paradigmas sejam quebrados, precisamos partir para duas grandes bandeiras que eu acredito ser: o fortalecimento da produção cultural popular e a acessibilidade aos bens culturais.

Parafraseando o psicanalista Walton Miranda: “não adianta avançarmos na tecnologia, nos meios se não interferirmos na cultura.” Portanto, como eu acredito que os movimentos culturais do Brasil são resistentes, tenho um sentimento de que essa conferência de cultura trará bons frutos e que vamos partir para além dos meios, incentivando a importância da nossa valorosa cultura, vencendo esses números do anuário, porque isso é uma questão de soberania nacional.

Ivina Carla é acadêmica de Jornalismo