Entrevista: Prefeito de Ituaçu diz que saúde é prioridade

Formado em Filosofia pela PUC – Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) e especializado em Tecnologia Didática do Ensino Superior pela Faceba (Faculdade de Ciências Econômicas da Bahia), Juvenal Wanderley Neto assumiu a prefeitura de Ituaçu, na Chapada Diamantina, em janeiro deste ano, eleito com mais de 65% dos votos em sua primeira incursão política, aos 36 anos.

Filiado ao PCdoB, Neto destaca as assistência à saúde como uma de suas prioridades, o que inclusive motivou a sua vinda à capital baiana nesta terça-feira (08/09). “Vim a Salvador para buscar recursos para o município junto ao Governo do Estado e encontrar com alguns secretários para solicitar a liberação de convênios, como o firmado junto a Sesab (Secretaria de Saúde) para a compra de equipamentos para melhorar a estrutura do Hospital Municipal”, declarou.

Em visita à sede estadual do PCdoB, no bairro dos Barris,em Salvador, Juvenal Neto concedeu entrevista em que fala sobre as dificuldades encontradas ao assumir a prefeitura, as demandas na área da saúde e as principais realizações e os projetos futuros. Confira na íntegra:

Vermelho – Em que condições você encontrou o município quando assumiu a prefeitura, em janeiro de 2008?

Neto – Veja bem, nós praticamente assumimos a prefeitura de Ituaçu depois de uma excelente administração de Albercinho (Albércio da Costa Brito Filho), que também faz parte do PCdoB. Uma administração com muitas obras, tanto na zona urbana quanto rural, beneficiando o município como um todo. Então, foi uma administração que realmente mudou a cara de Ituaçu. Durante os anos em que esteve na prefeitura, ele mostrou um jeito novo de administrar, voltado para os benefícios comuns e interesse coletivo. Foi uma administração que mudou não só a cara da cidade, mas a moral política, mostrando que, realmente, quando se quer moralizar a política, se faz. Foi em função disso que nós tivemos o apoio e a adesão do PCdoB no município (Antigo correligionário do PFL/DEM, Albercinho transferiu-se para o PCdoB em março de 2008).

V – O que te motivou a ingressar no PCdoB?

Neto – A motivação incluiu a decisão de todo um grupo político, encabeçado pelo prefeito na época, Albercinho, pelo deputado estadual Edson Pimenta (PCdoB), por representantes da Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado da Bahia), todo esse apoio e também, óbvio à ideologia do partido. Eu fiz Filosofia na PUC e conheço toda a proposta marxista, a proposta comunista, então a ideologia do partido foi uma coisa que também me motivou bastante. E hoje procuro, junto a essa ideologia, fazer um trabalho voltado para o social no município.

V – Quais foram as principais demandas e desafios que você encontrou na prefeitura e quais as principais ações que destacaria ao longo desses oito meses de governo?

Neto – Eu acho que a demanda justamente foi a expectativa da comunidade em torno de como seria essa nova administração; e isso trouxe para mim uma responsabilidade muito grande no sentido de que, muitas vezes, seria inevitável a comparação com a administração anterior. Pegamos uma época de crise, em que não só o governo municipal está sofrendo com o corte de recursos, mas principalmente a falta de convênio a nível estadual e federal, também por conta da diminuição da arrecadação da receita do Governo Wagner e Lula. Mas a gente não pode culpar o governo de nada, porque a receita é repartida entre todos; então, se diminui a receita, diminui o repasse do município. Portanto, a dificuldade que nós encontramos foi praticamente isso: a falta de recursos para gerir as necessidades do município que, embora com uma população ainda não muito grande (segundo o último censo, a cidade apresentava uma população de cerca de 17,922 mil habitantes, e a previsão para 2010 é atingir a marca dos 18,772 mil habitantes), é extenso, os problemas são grandes, e com recursos próprios é difícil manter em dia todas as necessidades; não só do município, como do povo de Ituaçu. Mas estamos fazendo tudo com recurso próprio até agora, procurando investir na área social, em saúde, levando especialidades ao município, distante dos grandes centros onde se oferece mais opções em termos de medicina e saúde. Nós estamos colocando à disposição da população procedimentos como Raio X, endoscopia, ultrassonografia, eletrocardiograma; coisas que não tinha na administração anterior. Especialistas de Vitória da Conquista e outras cidades próximas visitam o município duas vezes ao mês para prestar atendimento na secretaria de saúde e no hospital. Também disponibilizamos um ônibus exclusivo para transportar os pacientes para as cidades que tenham atendimento urgência e emergência e acredito que, com o tempo, nós estaremos oferecendo outras especialidades para auxiliar, como oftalmologia. Dentro da área jurídica, implantamos a Defensoria Pública à disposição dos cidadãos e bancada pelo município. Na área social, estamos fazendo o trabalho dentro do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e do Telecentro de Informação. E, na educação, investindo, mantendo o que vinha sendo realizado pela gestão anterior, como a manutenção de faculdades da Rede Uneb e FTC, e investindo também nas escolas da zona rural.

V
– Como tem sido a aceitação da população ao seu governo?

Neto
– É difícil avaliar, mas acredito que, pela maioria, a aceitação esteja sendo muito boa, embora existam ainda aquelas pessoas que, muitas vezes, perdem, na mudança de governo, os seus privilégios. Existe a crítica e aí é importante, porque ela é construtiva, porque mostra realmente onde você precisa estar melhorando. Acredito que está cedo ainda pra gente fazer uma avaliação a respeito da administração, mas confio que estamos tendo uma boa aceitação.
V – Qual a marca que pretende imprimir a sua gestão?

Neto – A marca da administração é solidariedade e ação. É estar se preocupando com a questão da autonomia, da independência das pessoas. E, aí, administrar os recursos públicos, o erário público, de maneira responsável, de uma maneira que as pessoas realmente possam sentir isso dentro de sua família, no hospital; que possa sentir os efeitos da administração em todos os lugares, sem precisar procurar o prefeito para se humilhar, mendigar por uma coisa que é dele mesmo. A marca da minha administração é, justamente, ser solidário com o sofrimento do outro e agir quando é necessário. Então, eu acho que o importante na administração é isso: é você ser humano, é você realmente se preocupar com as necessidades dos seus irmãos, seus cidadãos, mas também ter pulso forte.

De Salvador,
Camila Jasmin