PCdoB/CE homenageia Bergson Gurjão durante assembleias de base

Bergson Gurjão Farias, militante do Partido Comunista do Brasil, tombou em combate em 1972, na Guerrilha do Araguaia, ao lado de outros três jovens heróis cearenses: Jana Barroso, Custódio Saraiva e Teodoro de Castro. Bergson teve seus restos mortais finalmente identificados em julho de 2009. Continuaremos lutando pela identificação dos demais.

Por resolução da Comissão Política do PCdoB/Ceará, Bergson está sendo homenageado nas assembleias de base e conferências municipais do partido no Estado. Reconhecendo o mérito de um militante exemplar, cujo legado será sempre lembrado, a Comissão Política Estadual propõe, ainda, que a Conferência Estadual do PCdoB este ano receba a denominação de Conferência Bergson Gurjão Farias.

Leia a seguir íntegra do documento em homenagem a Bergson Gurjão Farias:

Memória e futuro no Brasil de Bergson

É possível acreditar em um sonho, a ponto de não saber viver, senão para torná-lo realidade? Há quase quatro décadas, os caminhos de um jovem cearense mostraram que sim. Que não existe muro intransponível, diante da compreensão da urgência de uma tarefa, por mais complexa e perigosa. Que não há como ignorar o chamado do tempo, quando este nos chega a bordo de nossos próprios ideais e convicções. Que não se pode lutar contra quem se é e o que se pensa, diante da consciência das injustiças do mundo que nos cerca e da importância de nossa ação para superá-las.

No início da década de 70, um nosso colega de partido, de luta, de ideais, empregou o melhor de sua força e sua inteligência para ajudar a construir esse sonho – já não apenas seu, mas de muitos. De tantos quantos ousaram levantar a voz quando a ordem era calar. De todos que não se omitiram, quando, diante do arbítrio, o medo convidaria a recuar. Dos que levantaram a mão para protestar contra quem tomou de assalto nossa liberdade e, ao mesmo tempo, para iniciar a longa, dolorosa, mas imprescindível batalha para reconquistá-la.

Trinta e sete anos depois de seu desaparecimento, Bergson Gurjão Farias segue a nos legar uma herança de lições tão fundamentais, para nós, que vivemos para ver outros tempos, quanto a intensidade com que aquele jovem abraçou a causa coletiva, dela fazendo sua própria vida. A dedicação aos estudos, o esforço para compreender da forma mais acurada possível a realidade à sua volta, a certeza da necessidade de lutar para modificá-la são exemplos de aspectos da personalidade que segue a nos inspirar. Assim como tem muito a ensinar às gerações de jovens que o sucederam, beneficiando-se de uma liberdade que ele e tantos outros camaradas não chegariam a experimentar. Mas também somando seus esforços na batalha diária para preservá-la e ampliá-la, sabedores que somos de que não pode haver, de fato, liberdade, sem condições mínimas de dignidade, de compreensão política, de participação plena na construção de um mundo diferente, de uma outra sociedade.

Nessa empreitada, Bergson tombou diante da covardia de um inimigo que, aos milhares, teve de se desdobrar para dar combate a militantes que sequer beiravam a casa da centena. Idealistas, certamente, mas nunca desprovidos de clareza sobre o real caráter e os enormes riscos da tarefa que abraçaram. Jovens que gostaríamos de ver aqui, hoje, conosco, como grisalhos senhores, ajudando a construir um Brasil de paz e de garantia de direitos, mas cuja democracia, de fato, ainda espera em um horizonte longe, para a maioria de seus milhões de cidadãos. Líderes que, sem dúvida, teriam muito a contribuir com esse momento em que o povo avança no discernimento quanto à trajetória a tomar, em um mundo de crescente complexidade e imensos desafios. Guerreiros que caíram diante do desrespeito, da brutalidade, do autoritarismo de quem se considerou, há um tempo, juiz e executor, condenando brasileiros como nós não apenas ao suplício da morte, mas ao torpor do desaparecimento, submetendo seus familiares a décadas e décadas atravessadas de desespero e incertezas.

Felizmente, pudemos despertar para ver o nascer do outro dia, sonhado por Bergson e por seus colegas, no centro de um país continental até hoje pouco acostumado a lembrar seus verdadeiros heróis. Se tanto ainda há por fazer, no grande projeto da emancipação humana, do fazer político e histórico, do nascimento de uma sociedade que de fato mereça ser chamada como tal, este Brasil sonhado ficou mais perto da realidade, colhendo vitórias dificilmente imagináveis por aqueles companheiros que até hoje esperam, nas veredas do Araguaia, pela verdade – tardia, mas inevitável.

Reconhecer o exemplo de Bergson e de todos os que com ele lutaram, levá-lo aos brasileiros de hoje, fazê-lo inspiração para as lutas às quais uma vez mais somos convocados é mais do que um desafio: uma necessidade. Uma questão de justiça. Um acerto de contas do Brasil, com sua memória e com seu futuro.