Antônio Capistrano: silêncio diante da briga entre Globo e Record

Imagine se as acusações que a Globo vem fazendo contra a Record, e vice-versa, fosse entre alguns parlamentares, entre integrantes do poder judiciária, entre lideranças sindicais ou entre empresários. A grande mídia, a do sul maravilha, estaria fazendo o maior estardalhaço, eram manchetes no Estadão, na Folha, no Globo, sem esquecer a “manda-chuva” do reacionarismo, a revista Veja. No mínimo estariam pedindo uma CPI ou a atuação da Polícia Federal nas investigações.

Globo x Record

O danado é que essa mesma mídia é quem pauta a imprensa brasileira, o que eles publicam as redações dos meios de comunicação em todo o território nacional (rádio, jornal e televisão) não tem a mínima preocupação em editar, publicam do jeito que sai, não procuram o outro lado da notícia, apenas copiam e pronto, a verdade passa a ser aquela imposta por ela, sem direito a defesa dos acusados.

Por muito menos, no Senado, a oposição criou a CPI da Petrobras, por muito menos estão pedindo a saída de Sarney, por muito menos cassaram o mandato de José Dirceu. Portanto, esse é o melhor momento para a instalação de uma CPI no Congresso Nacional, uma CPI com objetivo de investigar a origem dos recursos que permitiram o surgimento e a ampliação da Globo e da Record, esta investigação é de suma importância para passar a limpo esse setor, que é basilar para a democracia.

Nessa briga as duas emissoras estão dando de bandeja ao povo brasileiro e aos senhores e senhoras parlamentares do Congresso Nacional os argumentos e a justificativa de uma profunda investigação nos meios de comunicação, que eu considero de segurança nacional. O que não pode e nem deve existe é esse silencio, meio cúmplice, meio medroso, com as poderosas emissoras de televisão.

Nesse caso, sim, merece a juventude e a classe trabalhadora ir às ruas exigir a regulamentação dos meios de comunicação, principalmente de rádio e televisão. O monopólio da informação como esse povo tem e deseja continuar tendo é danoso à sociedade brasileira, a nossa democracia.

O Sistema Globo de Televisão, filhote da ditadura e dos interesses norte-americanos, pinta e borda, faz o que quer em termos de jornalismo, mente, distorce as informações, cria factoides, destrói reputações, desmoraliza cidadãos de bem, interrompe carreiras brilhantes e pronto, deu na Globo vira “verdade”, é aquela velha história, a versão vale mais do que os fatos.

A briga entre a Record e a Globo são apenas interesses contrariados, é o sujo falando do mal lavado, são farinhas do mesmo saco, são irmãos siameses da alienação. O que é necessário, agora, é pegar essa oportunidade que o povo brasileiro está tendo de assistir de camarote a lavagem de roupa suja entre elas e fazer uma profunda investigação nas concessões públicas de rádio e tevê, buscando a construção de um sistema de comunicação social, verdadeiramente democrática, que esteja a serviço do nosso país e do nosso povo. Esse será um bom tema para Conferência Nacional de Comunicação – Confecom, previsto para dezembro.

As acusações da Globo contra a Record são graves, do mesmo jeito as acusações da Record contra a Globo. Todas duas são acusadas da malversação do dinheiro público, de histórias escabrosas, de estripulias com o intuito do enriquecimento ilícito, sem compromisso com o povo brasileiro. O ex-governado Leonel Brizola, em 1982, já denunciava o papel sujo da Rede Globo na manipulação das pesquisas na disputa eleitoral para o governo do Rio de Janeiro naquele ano.

Quem não se lembra do Caçador de Marajás (Collor), invenção da Globo, na primeira eleição direta para Presidente da República depois do golpe militar de 1964, invenção essa com o objetivo de evitar a vitória de um candidato progressista entre eles: Brizola, Covas, Ulisses Guimarães ou Lula. O candidato eleito foi o da Globo, Fernando Collor de Melo. O estrago maior que essas duas emissoras de televisão vem fazendo é na cultura brasileira, na formação das novas gerações, no desmantelamento de qualquer sentimento pátrio, de nacionalismo, não o nacionalismo xenófobo, mas no nacionalismo sadio que toda grande nação preserva e estimula. Chegou à nossa hora, CPI neles.

por Antônio Capistrano é ex-Reitor da UERN e filiado ao PCdoB