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Polícia tortura os sem-terra em São Gabriel (RS)

O MST denunciou a truculêcia e tortura empregadas pela Brigada Militar na ação de reintegração de posse da prefeitura de São Gabriel (RS), ocorrida na quarta-feira (12) à tarde. Pelo menos trinta pessoas, entre crianças e adultos, ficaram feridos – algumas pessoas tiveram dedos e braços quebrados – durante o despejo forçado realizado pela Brigada.

A violência da polícia militar na repressão a protestos dos movimentos sociais já se tornou comum no Rio Grande do Sul. Em São Gabriel, todos os 250 sem-terra foram identificados e humilhados. Os manifestantes foram encurralados dentro da sede da prefeitura, onde foram golpeados com cacetete, chutes e tapas dos policiais.

O fato ocorrido em São Gabriel ultrapassou o limite do convencional e adquiriu características de tortura policial. As famílias relataram que, enquanto estavam na delegacia para serem identificadas, continuaram recebendo golpes de cacetete, chutes, socos e tapas dos policiais.

Chegou a ser montado um “corredor polonês” pelo qual as pessoas foram obrigadas a passar enquanto recebiam chutes e cacetadas. Os sem-terra serviram inclusive como cobaias: a nova pistola elétrica, que deveria ser usada para ajudar em imobilizações durante perseguição policial, foi utilizada para dar choque nas pessoas.

Nesta quinta-feira (13), integrantes do Comitê Estadual Contra a Tortura foram a São Gabriel conversar com as famílias e recolher depoimentos. O MST aponta que a ação violenta da Brigada Militar foi dirigida pelo subcomandante Lauro Binsfeld – o mesmo que chefiou o despejo das mulheres da Via Campesina em uma área da papeleira Stora Enso em Rosário do Sul (RS), em 2008, numa ação que resultou em dezenas de manifestantes feridas.

O MST também repudia a atitude do prefeito de São Gabriel, Rossano Gonçalves (PDT), que se recusou a conversar com as famílias e autorizou a ação da Brigada Militar; e responsabiliza os governos estadual e federal, que não realizam a reforma agrária.

O movimento quer saber onde estão os recursos que o governo federal diz que liberou, mas o prefeito Rossano Gonçalves afirma que ainda não recebeu. Enquanto Incra e Prefeitura não assumem suas responsabilidades pelo assentamento, três crianças já morreram desde o início do ano por falta de atendimento médico. Já o Ministério Público, além de não encaminhar o pedido por escola feito pelas famílias, esteve presente na ação de despejo e foi conivente com a violência policial.

O assentamento, passados nove meses de criação ainda não tem luz elétrica, água potável, estradas ou escola para as crianças. O MST local exige a desapropriação do restante da Fazenda Southall e a liberação imediata, na Justiça, das Fazendas Antoniazzi e 33, em São Gabriel.

* Com informações de Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, coordenador do Projeto Armazém Memória