Antônio Capistrano: Dia do Estudante – 11 de Agosto

Na minha época de secundarista, Natal parava no dia 11 de agosto, dia do estudante. Havia toda uma preparação por parte das entidades estudantis, elas mobilizavam os estudantes, os órgãos de segurança, também, esses com o objetivo de evitar os excessos, claro que havia excesso nas manifestações, éramos jovens, positivamente afoitos.

O grande Alceu de Amoroso Lima, em 1962, escrevendo sobre o dia do estudante, intitulou o seu artigo de “O estudante, esse subversivo”. Exatamente porque o estudante que geralmente é um jovem, é um rebelde, é revolucionário, modificador de padrões culturais, é um inquieto. Assim deve ser sempre, as características de um estudante.

No dia do estudante, no inicio dos anos sessenta, saíamos às ruas: gritávamos palavras de ordem, protestávamos. Queríamos uma escola pública, gratuita e de qualidade. Salário digno para os nossos mestres. Uma reforma educacional que refletisse o interesse nacional sem a ingerência estrangeira, não ao acordo MEC/USAID. Apoiávamos as reformas de base, reformas essas essenciais para superarmos as nossas dificuldades.

Nesse dia, além das manifestações culturais e artísticas em diversos pontos da cidade, era um dia de intensa atividade política. Natal parava, era um verdadeiro feriado. Transporte coletivo e cinema eram gratuitos, para os estudantes. Havia manifestações no centro da cidade comandadas pelas lideranças estudantis. As questões municipais, estaduais, nacionais e internacionais, transformavam-se em palavras de ordem das passeatas, todas registradas nas faixas, cartazes e nos manifestos distribuídos com a população.

Às vezes ocorriam choques com a polícia, se algum coletivo não aceitasse transportar o estudante gratuitamente havia a depredação do veiculo. Eu sou do tempo do bonde subindo a Junqueira Aires vindo da Ribeira entrando na Ulisses Caldas. Nesse seu dia, os estudantes colocavam sabão ou areia nos trilhos para o bonde ficar deslizando.

Desse movimento despontavam as lideranças políticas para a vida partidária do país, como também os poetas e artistas que se tornaram celebridades no cenário artístico cultural do Brasil. Que saudade da União Nacional do Estudante e do seu braço Cultural, o CPC – Centro Popular de Cultura, de Oduvaldo Vianna Filho, o nosso querido Vianinha, defensor intransigente da cultura brasileira, coordenador a nível nacional do CPC, que deixou raízes profundas no cenário cultural e político brasileiro. Hoje, a UNE retoma o seu lugar na luta pela participação consciente do estudante no cenário político/cultural/esportivo do País.

Nos anos sessenta, marco histórico do movimento estudantil em todo o mundo: Paris, Praga, Nova Iorque, Rio de Janeiro, Natal, Mossoró, o estudante era um revolucionário, estava presente nos debates políticos, nas discussões literárias, nos protestos, nas lutas por melhores condições de vida, ou ainda, nas manifestações pacifistas contra as guerras imperialistas.

Era esse o estudante do meu tempo, estudante da escola pública ou da escola privada, estudante esse que o golpe militar de 1964 tentou calar com o Decreto 477, com prisões, tortura e assassinados, tudo isso com o silêncio da grande mídia e a conivência da nossa elite. Estudante bom pra eles é aquele que não pensa, não se engaja.

Tenho esperança, (mesmo consciente do estrago que a ditadura militar e o seu instrumento de alienação a TV Globo, causou ao movimento estudantil), que esse dia, 11 de agosto, volte a ser um momento de grande mobilização desse seguimento, historicamente, buliçoso, modificador de padrões, vanguarda das transformações culturais e Políticas.

Claro que o tempo é outro, o contexto histórico não é mais o mesmo, a globalização, o uso da mídia televisiva dentro dos interesses alienígenas, tem uma forte influência na juventude e na desesperança sobre as nossas utopias. Nós, pais e professores temos um papel importante no resgate desse envolvimento salutar do estudante com a vida política e cultural do país, precisamos criar uma nova geração politicamente engajada.

A esperança é que a UNE volte a ter um papel importante no cenário político nacional. Quando vejo a grande mídia incomodada com a realização do 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes, fico alegre, é sinal que a UNE está viva, ela começa a incomodar aqueles que não querem os jovens politicamente engajados na vida nacional, isso é positivo. Essa elite prefere os jovens alienados da política, assistindo os Big Brother da vida.

A UNE sempre esteve nas ruas defendendo os interesses do Brasil, desde sua origem, por isso teve a sua sede incendiada em 1964 pelos golpistas, os seus lideres presos, com os seus direitos políticos cassados, parte deles foram assassinados, tudo isso com o objetivo de calar uma geração.

Portanto, Viva a UNE! Viva o movimento estudantil! Saudemos nesse dia, a todos os estudantes que foram presos, torturados ou tombaram lutando na defesa de sua utopia. 11 de agosto dia do estudante brasileiro, um dia de luta, um dia de esperança.

por Antônio Capistrano é ex-reitor da UERN e filiado ao PCdoB