Falta investimento para debelar a crise, diz Pochmann

Em meio ao otimismo do primeiro escalão do governo em relação ao fim da recessão na economia brasileira, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reduziu ontem suas projeções de crescimento para este ano. Conforme o instituto, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá avançar dentro do intervalo de 0,2% a 1,2%, em vez dos 2% previstos anteriormente.

Na avaliação do presidente do Ipea, Marcio Pochmann, ainda é cedo para afirmar que a crise é passado, sobretudo porque não foram solucionadas as fragilidades que permitiram a contaminação do Brasil pelos problemas internacionais.

"O Brasil teve uma recessão mais leve porque o governo implementou medidas anticíclicas (de estímulo) corretas, mas China e Índia não tiveram recessão", afirmou o economista, que participou ontem, na Capital, do 2º Congresso Estadual da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB).

Pochmann relaciona três questões principais, que chama de janelas de entrada da crise:

1) Com cerca de 25% do crédito vindo do Exterior, o Brasil tem dependência desses recursos. Uma das formas de ganhar autonomia financeira é aumentar a concorrência entre as instituições. Há 8 mil bancos nos EUA e mais de 3 mil na Alemanha. Não há razão para o Brasil, com quase 200 milhões de habitantes, ter menos de 200 bancos, afirma.

2) A concentração das exportações para países ricos, nos quais a recessão é mais forte, e em produtos básicos fez com que o Brasil perdesse mais do que se também tivesse uma relação comercial intensa com os países em desenvolvimento, para os quais, inclusive, pode vender produtos de maior valor agregado.

3) Grandes empresas transnacionais com atividades no Brasil tiveram de ajustar estoques e cortar vagas por dificuldade nos países-sede e não no mercado interno. A exemplo da China, que já anunciou o projeto de ter 150 companhias entre as 500 maiores do mundo, o Brasil também precisa ter grupos mundialmente competitivos.

Para o Brasil aproveitar as oportunidades no atual ambiente de dificuldades da economia, o país precisa, ainda, retomar os investimentos, diz Pochmann. O reaquecimento do mercado interno não é suficiente, explica, porque está provocando apenas ocupação da capacidade das indústrias, ociosas devido à crise. Nessa situação, o número de postos de trabalho dificilmente retorna ao existente antes da crise. O caminho para aumentar o emprego é ampliar os investimentos, sustenta.

Fonte: Zero Hora