Antôno Capistrano: Honduras: o fantasma de um triste passado

A América Central sempre foi uma área de interesse e influência dos Estados Unidos, considerada pelos presidentes americanos como seu quintal. Foi o presidente Theodore Roosevelt (1901-1909) quem botou em prática, sem esconder o propósito imperialista, a

Ele afirmou, “Tudo o que os Estados Unidos desejam é ver que nos países vizinhos reinam a estabilidade, a ordem e a prosperidade. Todo Estado cujo povo se “conduza bem” pode contar com a nossa cordial amizade. Se uma nação se mostrar capaz de atuar com “eficiência e decência” do ponto de vista social e política, se mantém a ordem pública e cumpre com suas obrigações, não deverá temer intervenções dos Estados Unidos.


 


No entanto, uma desordem crônica ou uma impotência resultante do relaxamento geral dos laços da sociedade poderiam exigir na América, como em qualquer outra parte, a intervenção de uma nação civilizada. No hemisfério ocidental, a Doutrina Monroe pode obrigar os Estados Unidos, embora contra a vontade, a exercer, em caso de flagrante desordem ou de impotência, um poder de polícia internacional (…)”.


 


Era a política do Big Stick, como dizia Theodore Roosevelt, “falar manso com um porrete na mão”. Os governos da America Latina além de cumprir suas obrigações financeiras com o Tio San, teriam que proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos nos respectivos países. Durante todo o Século 20 essa política foi religiosamente posta em prática, todo o continente sofreu a pesada presença norte-americana tolhendo e limitando a independência econômica e política dos Estados latino-americanos.


 


Durante a famosa Guerra Fria a situação piorou para se ter uma ideia foram mais de uma centena de intervenções militares na America Central, Caribe e América do Sul, sem contar as pressões políticas, as ingerências econômicas e as ameaças de invasões. É bom lembrar a presença da Sétima Frota na Costa Brasileira e as articulações do Embaixador norte-americano, Lincoln Gordon, na preparação do golpe de 1964.


 


Honduras sempre foi uma base militar dos Estados Unidos na América Central, ponta de lança ianque nessa região. País que faz fronteira com a Nicarágua, El Salvador, Guatemala e banhada pelo Caribe e o Oceano Pacífico, um ponto estratégico para os interesses norte-americano na região.


 


Segundo o acadêmico norte-americano James Petras, em entrevista recente, publicada no Portal Pátria Latina, falando sobre a situação que Honduras vive hoje com o golpe militar, situação que imaginávamos banida do nosso continente, disse: “A seu juízo, o governo norte-americano está implicado no golpe de Estado em Honduras. Esta análise pode ser feita a partir de muitos ângulos.


 


Primeiro está o fato de que os militares hondurenhos não funcionam sem consultar os assessores norte-americanos presentes nesse país. Petras disse que os assessores estadunidenses estão em todos os níveis da hierarquia militar hondurenha. Estruturalmente é impossível aos militares hondurenhos moverem um dedo sem consultar os assessores dos Estados Unidos. Segundo, o governo de Obama está muito irritado pelo fato de que Zelaya, o presidente deposto, está aliado a Chávez e recebendo ajuda econômica em associação com a ALBA”.


 


James Petras assinala ainda, que até agora o Governo de Obama não reconheceu que houve um golpe militar e não cortou nenhuma ajuda nem relações com o governo golpista, isto é um péssimo sinal.


 


Apesar de toda pressão da comunidade internacional o governo dos Estados Unidos vem se posicionando de forma tímida com isso enfraquecendo o presidente José Manuel Zelaya, talvez com o objetivo de dobrá-lo aos seus interesses e afasta-lo dos governos progressistas que surgiram na região nos últimos anos.


 


A crise Hondurenha é grave, preocupante, pode ser a volta do Big Stick, falar manso com porrete na mão ou pode ser apenas o fantasma de um triste passado.


                                                                             


por Antônio Capistrano, filiado ao PCdoB