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Aliado nº1 de Kirchner: ''Trabalhei bem, confio no resultado''

''Fiz tudo o que estava ao meu alcance, me preparei, fiz um bom trabalho e agora confio no resultado'', diz o segundo maior puxador de votos da chapa de Kirchner, Daniel Scioli, ao se encerrar a campanha para as eleições legislativas deste domingo (28) na

A alta visibilidade do casal K (Cristina e Néstor Kirchner) frequentemente obscurece outros personagens da vida política argentina, como Daniel Scioli. No entanto, o governador da província de Buenos Aires, ex-desportista (já foi campeão mundial de motonáutica) de 52 anos, ex-vice no governo Néstor Kirchner, hoje é, depois deste, o segundo maior puxador de votos na chapa da governista Frente Justicialista para a Vitória (na Argentina o voto é em listas partidárias fechadas).

A inclusão de Scioli e Kirchner na chapa de candidatos a deputado pela Província de Buenos Aires dá uma ideia do grau de politização e polarização das eleições legislativas deste domingo (28). A oposição acusa os dois de oportunismo e tentou, sem sucesso, impugnar judicialmente suas candidaturas.

O jogo das diferenças entre Néstor Kirchner e Daniel Scioli maio nunca incluiu hiperatividade. Neste ponto os dois parecem forjados no mesmo molde. No penúltimo dia de campanha, após saltar de cidade em cidade, de comício em comício, quando a noite já ia avançada e em sua agenda só devia restar ''ir dormir'', o governador da província de Buenos Aires deu três entrevistas sucessivas a três jornais: The New York Times, El Día (de La Plata) e Página/12 (diário de esquerda de Buenos Aires). Veja a íntegra desta última, concedida a Daniel Miguez e publicada neste sábado, véspera da eleição.

Página 12: Ansioso? Tranquilo?

Daniel Scioli: Tranquilo. Todos me perguntam ''como você pode estar tão calmo a horas de uma eleição crucial?''. Digo-lhes que quando chegava à final de um campeonato mundial, e dentro de duas horas estaria numa lancha a 250 por hora, televisionado ao vivo e transmitido para todo o mundo, me perguntavam o mesmo. A resposta era a mesma que agora: fiz tudo o que estava ao meu alcance, me preparei, fiz um bom trabalho e agora confio no resultado.

P12: Foi uma campanha estranha?

Scioli: A oposição tentou desviar o eixo para temas que para nós não são prioridades como o são segurança, trabalho, educação, obras públicas. Ela tentou questionar as candidaturas, em seguida falou de proscrições e depois começou a criar incerteza sobre o futuro, dizendo que haveria uma megadesvalorização [do peso argentino], que as obras iam parar, que haveria uma onda de estatizações. Agora começam a falar de fraude, porque sentem que terão uma derrota. Querem assustar e enfurecer as pessoas. Mas todos os controles havidos e por haver estão aí. O que eles sentem é medo da vontade popular.

P12: Faltaram propostas na campanha?

Scioli: Não do nosso lado. Quando apareceram as propostas da oposição, geraram estupor. Propõem que se pare as obras públicas. Isto é muito grave, porque obras públicas criam empregos. Eles não acreditam no Estado presente; crêem no Estado ausente, e jea vimos as consequências disso. Nós continuamos a encarar o progresso, enquanto alguns ficaram com as velhas ideias fracassadas.

P12: O governismo serviu-se destas ideias para instalar uma discussão sobre os modelos de país…

Scioli: Nosso modelo é a responsabilidade fiscal, o emprego, a educação, a competitividade econômica, os programas inclusão. Eles apenas repetem ''Eu tenho um plano, eu tenho um plano''. Quando ficou insustentável não expressar qualquer ideia concreta, num dia eles dizem que vão privatizar, no outro que vão estatizar. Nosso espaço é capacidade de gestão, experiência, trabalho em equipe. O deles é o das contradições.

P12: Refere-se apenas a Macri e De Narváez [da União PRO, principal frente oposicionista]. O Acordo Cívico e Social [que inclui a UCR, um partido tradicional argentino] não é um rival forte?

Scioli: Não se deve subestimar o radicalismo, isso aconteceu em 2007: quiseram polarizar e ao verem o resultado da votação se espantaram. Apareceu essa presença e essa tradição radical em muitos municípios da província. Eles [da UCR] ficaram em segundo lugar, na frente de De Narvaez. O que acontece é que, quando eles tiveram a oportunidade de governar, vimos as dificuldades do radicalismo, embora ele tenha administrações de sucesso em nível municipal.

P12: As pesquisas voltaram a ser um instrumento político na campanha?

Scioli: Quiseram criar polêmica em torno das pesquisas. Houve aqui uma clara estratégia de polarizar as eleições e prender-nos na Grande Buenos Aires, porque não acreditavam que eu iria para cada cidadezinha do interior. Quando houve dificuldades ficou evidente que [as pesquisas] estavam politicamente mobilizadas.

P12: Acredita piamente nas pesquisas?

Scioli: Elas podem ser referências, mas, na província de Buenos Aires os pesquisadores se acautelam antes de dar um resultado. Nenhuma [pesquisa] é contundente.  Vemos a reação das pessoas nas ruas. Kirchner percorreu de ponta a ponta áreas onde vivem mais de 12 milhões de pessoas, e eu vi o reconhecimento que ele tem. Ele é valorizado por sua coragem,  sua experiência e a decisão de encarnar mudanças profundas. As pessoas também sabem do meu compromisso, sabem que me adiantei para proteger e defender a província. Sinto-me respeitado.

P12: Acha que conseguiram levar uma mensagem clara aos eleitores?

Scioli: Sim. Será um voto no previsível, no confiável. Também tentamos expressar que o Poder Executivo avança depressa quando o Legislativo facilita as leis. O que teria acontecido se a província não tivesse tido a Lei de Reforma Fiscal, a de Administração Financeira, a de Promoção Industrial? Eu quero cuidar do emprego. E como se cuida do emprego? Trazendo investimentos. Como trazer investimentos? Dando vantagens. Nós as demos.

P12: E o que acontecerá se tiverem um Congresso hostil?

Scioli: Quando o legislador é uma máquina de impedir, já vimos o que acontece. O mundo está experimentando taxas de desemprego sem paralelo e na Argentina superamos a situação porque  fizemos as coisas bem. Kirchner planejou a Argentina  para ser sólida, baseada na economia real e não na especulação financeira. Por isto temos de fortalecer o Legislativo, porque os resultados foram muito concretos.

P12: Se pensa assim, como declarou que há membros da União-PRO, que podem retornar ao peronismo?

Scioli: Vejo ali muitos peronistas que se entusiasmaram com aquele espaço e agora não estão confortáveis. Eles próprios reconhecem que 'desperonizaram' a campanha. Ainda não chegou à eleição, e veja os problemas que estão aparecendo. Do nosso lado, há uma equipe, onde está o ex-presidente da nação e presidente do partido, está o meu vice-governador, está o chefe do Gabinete e estão dezenas de prefeitos, para defender o que está em marcha.

P12: Não incluíu a si próprio. Não vai tomar posse em dezembro como deputado?

Scioli: Ao longo desta campanha estive com centenas de milhares de pessoas e ninguém me perguntou isso. As pessoas sabem que vou fazer o que é necessário para melhor servir à província e ao país.

P12: Esta eleição perfilará os candidatos à presidência em 2011?

Scioli: Haverá uma leitura política do futuro, com o resultado na mão, mas faltando dois anos e meio e muitas coisas podem acontecer. Enquanto isso, há que acompanhar a presidente no esforço que ela está fazendo.

P12: O senhor está entre os candidatos?

Scioli: Tenho sempre uma atitude de orientar-me para onde possa servir meu país. E onde tenho a certeza de poder ajudar. O futuro, Deus nos dirá.

P12: O que vai acontecer depois de 28 de junho?

Scioli: No dia 29 tenho a inauguração de uma obra em Florencio Varela.

P12: Pode-se dizer que começará uma outra etapa?

Scioli: Espero que a agenda se despolitize e sejamos todos oficialistas do país. Tendo pela frente o ano do Bicentenário [em 2010 a Revolução de Maio, que levou à Independência da Argentina, completa 200 anos], tendo de cicatrizar as feridas no campo para estabelecer uma agenda forte e não politizada, e tendo de encarar  tantas outras questões  diante da crise, é importante que prevaleça um grande compromisso com o país.

P12: Então começará sim uma outra etapa.

Scioli: O mundo muda. O passado não garante sucesso no futuro e, embora tenhamos uma boa base, temos de avançar sobre os sucessos já obtidos.

Fonte: http://www.pagina12.com.ar