Salvador: Vereadora do PCdoB defende comitês sobre mortalidade materna

De cada 100 mil mulheres grávidas na Bahia, 113 morrem durante a gestação ou até um ano após o parto. Geralmente, vítimas de problemas obstétricos como hemorragias, doenças hiperintensivas, infecções puerperais, consequências de abortos e descolamento de

A vereadora Aladilce Souza (PCdoB) defendeu a ativação de Comitês Estaduais de Estudos sobre Mortalidade Materna, idealizados na década de 90, para uma atuação mais efetiva contra o problema da mortalidade de parturientes, não só em Salvador, mas nos 415 municípios do estado. Ela defendeu, também, a integração entre as unidades de saúde básica e hospitalar durante o pré-natal e no pós-parto, o que ainda não acontece  na rede pública de saúde, na capital. Durante todo o mês de abril as maternidades públicas estiveram lotadas em Salvador. A espera por um leito era tamanha que muitas parturientes, por absurdo que pareça, tiveram que retornar para suas casas.



De cada 100 mil mulheres grávidas na Bahia, 113 morrem durante a gestação ou até um ano após o parto. Geralmente, vítimas de problemas obstétricos como hemorragias, doenças hiperintensivas, infecções puerperais, consequências de abortos e descolamento de placenta. O índice no estado é 1.030% superior ao considerado aceitável pela Organização Mundlal de Saúde (OMS), que estipula o índice em 10 óbitos para cada 100 mil gestantes.



Para debater a questão do “Atendimento ao parto”, na cidade, a vereadora Aladilce requereu audiência pública que aontece na próxima quarta-feira, 10, às 9h, no Centro Cultural da Câmara. O evento terá como palestrante a doutora Daphne Rattner, da área técnica de Saúde da Mulher, do Ministério da Saúde.



Além de representantes das secretarias municipal e estadual de Saúde, dirigentes e servidores das maternidades públicas e privadas de Salvador, participarão da audiência professores e estudantes de escolas de Saúde, dos cursos superior e médio, associações de moradores de bairros, clubes de Mães, sindicatos, associações e fóruns de mulheres.



A realidade



Levantamento realizado por pesquisadoras do Grupo de Estudos sobre a Saúde da Mulher, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (GEM/EEUFBA), no tocante à assistência ao parto em Salvador, ainda inconcluso, aponta algumas características da assistência nas maternidades públicas da cidade. De acordo com a professora Isa Maria Nunes, coordenadora do projeto de extensão “Espaço de Parto Alternativo”, desenvolvido junto à Maternidade Tsylla Balbino, as questões podem ser enumeradas para o debate na audiência pública:


1 – as gestantes são afastadas dos familiares e continuam sem a presença de um acompanhante, apesar da lei que garante esse direito;


2 – as gestantes procuram duas, às vezes três maternidades para serem atendidas, o que tem sido chamado de “peregrinação”;


3 – o poder dos profissionais de saúde sobre o corpo e o comportamento das parturientes se evidencia pela falta de respeito, explicitada através de comentários depreciativos, demonstração de desinteresse e pouco caso com as reações emocionais das mulheres, além de pouco cuidado com a privacidade e a necessidade que as parturientes têm de serem informadas sobre a sua evolução;


4 – medidas simples capazes de promover o conforto e diminuir a dor no trabalho de parto não são implementadas como deveriam e utiliza-se frequentemente recursos intervencionistas para encurtar o tempo de trabalho de parto;


5 – as parturientes não estão tendo acesso a analgesia para o parto normal, apesar de haver cobertura desse procedimento pelo SUS, o que ajudaria um  significativo percentual de mulheres, para as quais o trabalho de parto significa um sofrimento desesperador;


6 – pratica-se uma assistência ainda centrada nos procedimentos médicos, sub-utilizando-se a participação, por exemplo, das muitas enfermeiras capacitadas,  inclusive com recursos públicos, as quais, juntamente com a equipe médica, podem redirecionar o modelo de cuidado prestado;



A doutora Isa Nunes demonstrou, com um exemplo, como a assistência ao parto está despersonalizada, nos dois sentidos. A pessoa que se submete à extração de uma unha, sabe o nome do profissional que a atendeu, mas as mulheres, após o parto, não sabem informar quais os profissionais que lhe prestaram os cuidados. Por outro lado, os profissionais não sabem e não se dirigem às mulheres pelos seus nomes, apesar de manterem contato próximo e prolongado com as mesmas.



Da redação local,
com informações da Ason da vereadora Aladilce