Sem categoria

Perigo Sobre Duas Rodas

Das 1.463 vítimas fatais no trânsito da capital paulista em 2008, 478 eram motociclistas.

Nas últimas semanas, reportagens de TV – Globo e Bandeirantes – e também jornais, "Jornal da Tarde" e "O Estado de São Paulo", apresentaram matérias que traziam dados surpreendentes e preocupantes sobre o trânsito de motos no Brasil.

Começam a circular diariamente no país cerca de 3000 mil novas motocicletas, o que significa que de 1990 a 2009, houve um aumento de 1000% na venda destes veículos.

O salto impressionante do número de vendas, segundo analistas, está relacionado ao lançamento de modelos com preços bem acessíveis, e há uma variedade muito grande de opções. Nos últimos anos, ao menos cinco grandes montadoras de motocicletas, iniciaram ou reforçaram sua atuação no mercado brasileiro. Além disso, o trânsito cada vez mais caótico fez com que muitos motoristas trocassem o carro ou coletivo, pela locomoção via duas rodas. "Ao menos para os trajetos mais rotineiros, ida e volta do trabalho, por exemplo,".

No entanto, o que cresceu mais que as vendas foram as mortes causadas por acidentes de moto. No mesmo período em que as vendas aumentaram os 1000%, o número de mortes, de 1990 a 2009, cresceu o dobro, 2000%. Morriam em acidentes de moto em 1990, 0.9 motociclistas por dia, hoje a média é de 18 mortes diárias. Só na região metropolitana de São Paulo morrem em média de um a dois motociclistas todos os dias.

Conforme matéria publicada no JT, motociclistas que ficaram paraplégicos, tetraplégicos ou foram mutilados em acidentes de trânsito lideram os atendimentos na Associação de Assistência à Criança (AACD). Centro de referência em reabilitação de vítimas de traumas.

"Esses motoristas chegam aqui sem partes do corpo, às vezes só movimentando a cabeça e precisam de tratamento intenso", diz Eduardo Carneiro, presidente voluntário da AACD. Atônito com a situação, Carneiro vai além e propõe que os candidatos a motoristas, durante o processo de formação, sejam obrigados a visitar clínicas de reabilitação para "ter noção do que a irresponsabilidade pode causar".

Para conseguir tratamento na AACD, o paciente precisa ser encaminhado por um médico. O custo é zero, no entanto há no momento cerca de 32 mil pessoas aguardando na fila. A espera é longa e pode chegar a sete anos.

Com o dado de que das 1.463 vítimas fatais no trânsito da capital paulista em 2008, 478 eram motociclistas, o presidente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo, Gilberto Almeida dos Santos, foi a Brasília buscar apoio de congressistas e do Ministério das Cidades. Pediu a eles investimentos em campanhas educativas na TV.

Há no Congresso uma proposta de lei que visa regulamentar o "motofrete", no entanto a questão está parada por divergências quanto à regulamentação do "mototáxi".

O Sindicato dos Motoboys de São Paulo é contra o mototáxi. Fazendo crítica ao Vereador Ricardo Teixeira (PSDB), que defende o uso de motos no serviço de táxi, Gilberto Almeida argumenta que "numa cidade em que caem 100 motociclistas por dia a gente vai ter 200 pessoas se machucando". “Quem teve essa idéia quer se promover em cima da categoria", diz.

Enquanto o congresso discute proposta de lei sobre as profissões que tem como ferramenta de trabalho as motocicletas, e enquanto em São Paulo, a polêmica sobre o "mototáxi" é amadurecida, tanto o poder público quanto os próprios motoristas podem contribuir para a diminuição do alarmante índice de acidentes evolvendo condutores de motocicletas.

Para isso basta que os condutores, sejam eles de motos ou carros, cuidem da manutenção de seus veículos e guiem de maneira consciente e humana, sempre respeitando as leis de trânsito. Por parte do poder público, são esperadas ações efetivas, como campanhas educativas conscientizadoras e cuidado na manutenção do bom estado das vias.

O que anseia não somente as vítimas, mas toda a sociedade, é que vidas geralmente de jovens, deixem de ser ceifadas de modo tão trágico.

De São Paulo, Gutemberg Mendes Tavares