A nossa cobertura ou a do PIG: qual a diferença?

Geralmente observa-se uma enorme coincidência entre os assuntos que estão na pauta diária da mídia e na agenda do dia do poder político ou econômico. Ao influir de maneira privilegiada naquilo que deve ser notícia, o poder determina o que quer que a sociedade saiba, e as informações advindas desse processo trazem no seu bojo o filtro ideológico, no sentido das idéias e valores de quem as concebeu.

Ou seja, não são informações inócuas, imparciais, mas ao contrário, refletem justamente o olhar da instituição ou da autoridade sobre os assuntos nos quais têm algum tipo de interesse que estejam em discussão.

Como a maioria das redações se pauta pelos mesmos releases, boa parte das notícias diárias em diferentes veículos de comunicação praticamente se repetem. São assuntos abordados da mesma forma em matérias que baseiam suas informações nas mesmas fontes e com o mesmo enfoque sobre um determinado assunto. É o que chamamos de pasteurização da notícia como se todos os fatos passassem por uma única máquina que padronizará o olhar da mídia sobre eles, eliminando, ou evitando olhares diferentes, que informações imprevistas cheguem ao público. Raramente o repórter ou o editor conseguem apresentar um olhar diferenciado ou uma abordagem inédita, pois a notícia tem o que podemos chamar de um vício de origem.

Mas, se a mídia em geral está presa a uma agenda do poder que determina o que é notícia, o Vermelho não está, pois ele, e só ele, tem condições e a missão de buscar uma agenda própria a agenda do comunismo.

Diferentemente da agenda dos veículos de empresas comerciais de comunicação que, se não pautarem o que todos querem saber, perderão anunciantes, o Vermelho deve se pautar por aquilo que os cidadãos precisam saber e não encontram em nenhum outro lugar.

Hoje vivemos um momento singular em que o mesmo Estado que deveria ser mínimo e não se intrometer nos assuntos de mercado, segundo os paradigmas neoliberais, está sendo convocado para salvar, com dinheiro do contribuinte, alguns bancos e empresas que outrora enriqueceram, se locupletaram, concentrando poder e riqueza graças ausência do Estado.

Desconstruir paradigmas como o da privatização, explicar como funcionaram e como estão presentes no cotidiano de nossa economia pode ser uma oportunidade histórica para que a comunicação (no Vermelho) se estabeleça como um diferencial.

Mais importante do que saber o que é notícia e reportar o fato em si, seja ele local ou nacional, talvez seja explicar porque tal fato aconteceu. Assim, mesmo que os assuntos cobertos pelo Vermelho sejam comuns aos outros veículos de comunicação, o público espera que ele consiga ir além dos fatos mostrando porque eles aconteceram, quais foram as suas origens, o que determinou que eles ocorressem de uma determinada maneira e não de outra, quais são os processos históricos em curso e suas possíveis conseqüências, quem ainda não foi ouvido e precisa ser para que se estabeleça o debate democrático no espaço público de comunicação.

Texto de Laurindo Lalo Leal Filho
Ouvidor da Agência Brasil
Adaptado por Márcia Xavier