Exposição de xilogravuras retrata a força da arte que ainda resiste no Ceará

Excluída dos manuais de história da arte, a tradição da xilogravura mostra sinais de vigor e vivacidade em exposições que entram em cartaz, hoje, no CCBNB

Estudioso da História da Arte, o alemão Hans Belting não se constrangeu em anunciar a falência da disciplina. A causa era simples, enquanto o efeito, devastador: excluía-se coisa demais, de muitos lugares e tempos. No grande limbo de excluídos, estava a xilogravura – arte que se mantém, se transforma e reinventa na tradição.


 


Duas exposições, que entram em cartaz hoje, no Centro Cultural Banco do Nordeste, reforçam a tese de Belting, a partir do exemplo da gravura. “Entre a xilo e o múltiplo” e “Minha Vida na Xilogravura: Gravadores de Juazeiro” evidenciam a multiplicidade dentro da tradição e seu movimento em direção à uma zona comum, em diálogo com as linguagens da arte “erudita”. Mais que uma técnica de gravar, as mostras partilham de uma linguagem artística, que está longe da “simplicidade” que leituras reacionárias fazem.


 


A primeira reúne obras do acervo do Clube de Colecionadores de Gravura do Museu de Arte Moderna de São Paulo, produzidas por artistas de diversos estados e filiações estéticas. A segunda, trabalhos de gravadores em atividade na região do Cariri.


 


Arte do múltiplo


 


Lado a lado, as exposições se configuram como um encontro. Aproximam os artista cearenses da xilogravura do Clube de Colecionadores. Fundada em 1986, esta entidade convidada, a cada ano, cinco gravadores. Os artistas produzem obras que são reproduzidas e distribuídas entre o pequeno número de associados, que financia os trabalhos.


 


Exemplares da obra são doados por MAM-SP. São estas peças que integram a exposição que estará em cartaz no CCBNB. Entre os artistas contemplados, estão Nuno Ramos (SP), Paulo Bruscky (PE) e os cearenses Efrain Almeida e Marcionilo Pereira Filho (Nilo). Nilo também faz parte da exposição dedicada aos artistas do Cariri, ao lado de nomes como Francorli, José Lourenço, Naldo e Stênio Diniz.


 


“Na exposição, o pública terá a oportunidade de conhecer obras de artistas que participaram do projeto, desde os primeiros até o (cearense) Efrain Almeida, que foi um dos convidados no ano passado. Ele fez um trabalho muito interessante, que envolveu outros gravuristas do Estado”, detalha Cauê Laves, curador da mostra (e do projeto, desde 2006).


 


A exposição mostra desde trabalhos mais tradicionais, com gravuras em metal e madeira, passando por impressões como offset, serigrafia, e experimentações com outros materiais, como carimbos. “Com o tempo, muitos artistas passaram a questionar a noção de gravuras – e, assim, terminaram por ampliá-la. Hoje, a gravura é múltiplo. Não é tanto o ato de gravar, com contato com a matéria e a ação de retirar o excesso. É algo múltiplo, que também inclui estas formas de fazer mais tradicionais”, de talha Cauê Alves.


 


Mais informações:
´Entre a xilo e o múltiplo´ e ´Minha Vida na Xilogravura: Gravadores de Juazeiro´ – exposições em cartaz, a partir de hoje, às 19 horas, no Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto, 941). Contato: 3464.3108