José Alencar: Exemplo de superação

O vice-presidente da República, José Alencar, de 77 anos, retornou ao
trabalho nesta semana, depois da cirurgia que fez para a retirada de
tumores na região abdominal. Ao participar da reunião da coordenação
política com o presidente Luiz Inácio Lula d

A recuperação e o espírito de superação de Alencar não impressionaram apenas o presidente, mas todos os brasileiros que acompanham a sua luta contra o câncer, a começar pelo próprio médico que comandou a equipe responsável pela última e delicada operação: o cirurgião oncológico Ademar Lopes. “O vice-presidente, na altura dos seus 77 anos, é um homem lutador, forte e determinado, que toma decisões e assume responsabilidades, de tal forma que ele ajuda muito a equipe médica”, afirma o oncologista, mineiro de Delfinópolis e formado em Uberaba, no Triângulo Mineiro. “Ele sempre teve pensamento positivo e demonstrou

Instituto Antonio Prudêncio, o conhecido Hospital do Câncer, de São Paulo, Lopes foi indicado para chefiar a complicada operação de Alencar por um especialista de Washington. Depois de ser procurado pelo filho do vice-presidente, Josué Cristiano Gomes da Silva (presidente do Grupo Coteminas), o especialista americano recomendou que o arriscado procedimento poderia ser feito no Brasil, indicando o nome de Ademar Lopes, com quem já trabalhou.

Após a cirurgia, encerrada na madrugada de 26 de janeiro, no Hospital Síriolibanês, em São Paulo, José Alencar permaneceu internado por 24 dias. Recebeu alta em 17 de fevereiro e continuou a recuperação em sua casa, em São Paulo.

O vice-presidente mostrou grande disposição para continuar lutando contra o câncer em uma entrevista de mais de oito minutos exibida em rede nacional de televisão domingo passado. “Não tenho medo da morte, tenho medo da desonra. A morte é um fenômeno natural”, declarou Alencar. Afirmou também que quer deixar uma herança da qual seus herdeiros possam se orgulhar. Na gravação da entrevista, que durou 1 hora e 10 minutos, Alencar surpreendeu a própria equipe de jornalistas, caminhando com uma certa desenvoltura pelo saguão do prédio onde fica seu apartamento em São Paulo e respondendo às perguntas com firmeza.

Alencar nasceu no povoado de Itamuri, no município de Muriaé (Zona da Mata mineira). Integrante de uma família de 15 irmãos, começou a trabalhar aos 14 anos. Na ocasião, deixou a casa dos pais e mudou-se para Muriaé, onde iniciou o ofício de balconista de uma loja de tecidos. Quatro anos depois, em Caratinga, montou o próprio negócio, a loja A Queimadeira. Na década de 1960, fundou em Montes Claros a Coteminas, atualmente, o maior grupo têxtil do país. “Não estou habituado a coisas fáceis, eu sempre me habituei com problemas difíceis. E nunca deixei de enfrentá-los”, disse Alencar, na entrevista após a última cirurgia.

Também declarou sua devoção. Disse não ter mais nada a pedir a Deus. “Não quero que Deus me dê nem um dia de vida a mais de que eu não possa me orgulhar. Se Deus achar que a minha vida possa ser útil e der mais algum dia de vida, eu naturalmente reconhecido e vou procurar fazer com que esse dia seja útil”, confessou.

Na segunda-feira, José Alencar, acompanhado da mulher, dona Marisa, pegou o avião para Brasília, retornando ao Palácio do Jaburu – residência oficial do vice-presidente. Na terça-feira à tarde, participou da reunião semanal da coordenação política, que, além do presidente Lula, contou com os principais ministros do governo.

Em Brasília, o vice-presidente continua o processo de recuperação. Na quinta-feira, ele foi ao seu gabinete na vice-presidência, onde recebeu os cumprimentos, flores e outras homenagens dos funcionários. Também conferiu as correspondências e ficou impressionado com a quantidade de mensagens em prol do seu pleno restabelecimento, que chegaram de todas as partes do Brasil por fax e e-mail, além das cartas.

“Ele realmente ficou muito satisfeito com a solidariedade que recebeu de todo o Brasil. Ele disse que não sabia que era tão querido”, conta o empresário Luiz de Paula Ferreira, de Montes Claros, amigo de Alencar há mais de quatro décadas e sócio dele na fundação da Coteminas. Luiz de Paula, que falou com o vice-presidente duas vezes depois da última cirurgia, destaca o espírito de superação do amigo. “O Zé Alencar tem uma capacidade de reação muito grande. Ele readquire as energias com muita facilidade”, disse o empresário, que completou: “Ele está muito tranquilo em relação ao seu futuro”.

Mas nem todas as manifestações de solidariedade e de torcida pela sua recuperação foram vistas por José Alencar. Uma delas foi feita pela Prefeitura de Pedras de Maria da Cruz, município às margens do Rio São Francisco. Lá se fabrica a cachaça Maria da Cruz, produzida pela família do vice-presidente e apreciada por ele. “Força, vice-presidente José Alencar! O povo de Maria da Cruz torce pela sua recuperação”, diz a placa de outdoor exibida pela prefeitura. “O exemplo de luta do vice-presidente deve servir para todo cidadão brasileiro”, diz a prefeita da cidade, Norma Pereira (PR).

Ânimo

Antes da cirurgia para retirada dos tumores na região abdominal, o vice-presidente José Alencar reuniu-se com a equipe médica, que o comunicou sobre os riscos do procedimento. Mas, além da tranquilidade, o que mais chamou a atenção dos médicos foi o ânimo do paciente. “Antes de começar a cirurgia, ele me chamou em particular e perguntou se na equipe médica havia alguém desanimado e, se existisse, essa pessoa não deveria participar do procedimento. Ele queria que todos estivessem animados”, relata o cirurgião Ademar Lopes, que chefiou a equipe, integrada por 12 profissionais.

Publicado no jornal Estado de Minas,  do dia 07/03/2009