Sétima arte se rende às poesias de Patativa do Assaré

Em comemoração ao centenário do poeta cearense Patativa do Assaré, estréia no cinema de arte do North Shopping o filme Patativa do Assaré – Ave Poesia, do cineasta Rosemberg Cariry

O filme Patativa do Assaré – Ave Poesia – que estréia hoje, terça-feira, no Cinema de Arte do North Shopping – é resultado do longo período de convivência com o poeta, segundo Rosemberg. Foi um mergulho profundo em sua obra acompanhando seus recitais, produzindo muitas de suas apresentações, editando seus livros e, nesse ínterim, gravando os passos e os versos de seu compadre poeta (Patativa é padrinho de Petrus Cariry, também cineasta e filho de Rosemberg). De 1979 a 2006 se deu a garimpagem de todo o material para a realização deste trabalho. “A idéia (de fazer o filme) surgiu com a sua morte (em julho de 2002), como se o filme, em nível simbólico, pudesse ser a sua ressurreição”, revela o cineasta. Ele conta que levou muito tempo para aceitar revisitar seus registros e decidir, finalmente, levar o projeto adiante. Foram cerca de três anos vendo e revendo, montando e remontando o material até finalização do longa. De início, as investidas resultaram em uma fita de 5 horas de duração, uma série de cinco filmes relatando 20 anos da vida de Patativa em cada uma. “Mas depois eu compreendi que o melhor pra esse filme era ser singelo, que o filme devia ser apenas um suporte para que o próprio Patativa se revelasse”, concluiu.


 


O enredo tem como ponto de partida as cenas do funeral. Amigos próximos, políticos e populares acorrem para ver de perto o poeta. Na sequência, registros em vida, em que ele conta como perdeu a vista direita, fala sobre sua curta passagem pela escola e de quando despertou sua paixão pela literatura de cordel, de suas primeiras publicações, de seu contato com a música. Ali se revela um Patativa popular, que falava das coisas da natureza, do coração, das insatisfações e descasos sofridos pelo povo nordestino. Dentre os registros, em meio aos versos líricos do poeta que se definia como matuto, imagens do período da ditadura, os presidentes militares em suas cerimônias de posse. Em resposta, o povo vai às ruas, pede eleições diretas e mais recentemente o impeachment. Tudo lá resgatado. E Patativa estava atento a tudo. Posicionava-se politicamente, ainda que não tomasse partido, e diante dos movimentos populares suas palavras repercutiam. Era personagem de reportagens jornalísticas, entrevistas a programas de rádio e televisão. Gostava de ser ouvido. Em entrevista a um jornal local, Patativa se declara socialista de coração. Atuou como pode durante a ebulição política que o país viveu durante as décadas de 1960 a 1990.


 


De sua relação com a música, o longa traz registros das gravações de A Triste Partida por Luiz Gonzaga, em 1964 e Vaca Estrela, Boi Fubá, por Raimundo Fagner, entre outras. Traz depoimentos do então deputado estadual Eudoro Santana, do líder camponês Antônio Pompeu, dos estudiosos Oswald Barroso, Gilmar de Carvalho, além de Fausto Nilo e Raimundo Fagner e dos filhos Geraldo Gonçalves e Inês Sidrão Alencar.


 


Diante da riqueza de informação e imagens, se sobressai a grandeza do mestre que queria cantar a paz do Brasil. É daqueles filmes que dá vontade de parar um pouco e conversar sobre. Um documentário de grande importância para a preservação da memória cultural cearense. “Eu diria que o filme é quase uma conversa daquelas de calçada. Antigamente, no sertão, o pessoal botava as cadeiras na calçada à espera da fresca do vento de Aracati. O filme é isso, uma conversa sobre um homem de grande arte e de grande generosidade. Espero que as pessoas entendam assim. Que percebam o filme como uma conversa de pé de calçada à espera do vento que sopra” finaliza o cineasta.


 


Serviço


 


Patativa do Assaré: Ave Poesia (BRA, 2007) De Rosemberg Cariry. Depoimentos de Ricardo Bezerra, Raimundo Fagner, Fausto Nilo, Oswald Barroso e Amâncio. 84min. Cartaz da Sessão de Arte do North Shopping 6, às 20h30min (somente terça). Livre. No Multiplex UCI Ribeiro, em Fortaleza, exibe sexta, 6 – 21h30min, sábado; 7 às 10h45min, e de segunda, 9, a quinta, 11, às 19h30min. No sábado, debate após a sessão com o cineasta Rosemberg Cariry e a participação do violeiro Miceno de Assaré com a poesia de Patativa.