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Balanço: a agenda possível e as polêmicas do FSM de Belém

Terminada em Belém a Assembléia das Assembléias, neste domingo (1º de fevereiro), fica a imagem de um Fórum Social Mundial histórico. Desta vez, a contraposição ao Fórum Econômico de Davos foi mais que uma intenção. A presença de cinco presidentes lati

(- Veja ao final da matéria a agenda proposta na Assembléia das Assembléias)


 


Para muitos a polêmica não é importante, para outros ela é essencial. Certamente, ela permeará a tradicional reunião do Conselho Internacional do Fórum (CIF) — que reúne 150 organizações e acontece dias 2 e 3 —, mas não deve ser resolvida neste espaço. Por hora, a informação que chega sobre as divergências do CIF versam sobre a sede do FSM de 2011: Estados Unidos ou África? O que se sabe é que a adesão pelo continente africano é grande.


 


Com isso, a eterna polêmica se dá pelo acúmulo das discussões entre os movimentos sociais de todo o mundo até próximo FSM. Certo é que ela não morrerá e permanecerá viva até que o movimento dos fóruns, iniciado em 2001, aponte com mais protagonismo as ações globais possíveis, para além do já produtivo território de trocas e debates.


 


Porém, pode se dizer que a abertura, ainda que sutil, para a possibilidade de um Fórum deliberativo se alarga. Mesmo esvaziada e cansativa, a leitura de cada uma das cartas que resultaram das 22 assembléias cuidadosamente expressaram esse desejo.


 


Bem ou mal, as assembléias que apontaram datas mundiais de mobilizações, ou campanhas com períodos mais determinados, foram as que receberam maior atenção, apoio e repercussão da Assembléia das Assembléias. Claro que as propostas não figuraram como uma deliberação do FSM. Mas a sensação que fica é de que “sim, é legal imaginar que todos sairemos às ruas por todo o mundo por um mesmo motivo e em uma mesma data”.


 


Esse sentimento crescente pode ser fruto de uma relação muito particular entre fatores externos e internos deste fórum e que não existiu, ou estava menos madura, nos FSMs passados. O cenário de colapso do mercado e do meio ambiente são questões que efetivamente estão preocupando milhares de pessoas pelo mundo. Quem esteve por Belém percebeu isso como ninguém.


 


A ameaça da perda da renda e do emprego, somada a um possível fim do planeta tal como o conhecemos, tem gerado uma ansiedade por participação. Cada um passa a reconhecer que é preciso que muitos se unam em ações conjuntas para que o caos não se estabeleça.


 


As fendas na Torre de Babel


 


O momento mágico da Torre de Babel que sempre “glamuralizou” os fóruns vai ficando pequeno diante do anseio concreto, mesmo que limitado pelas diferentes culturas e idiomas, de unidade e convergências. Para além de conhecer e tomar contato com novas idéias, bandeiras e movimentos, o sentido geral pareceu ser: assimilar, somar e, sobretudo, agir.


 


As presentes barreiras construídas em favor de demarcadas diferenças — muitas alicerçadas sobre puro preconceito de ambos os lados —, entre as propostas do “enigmático” Calendário Maia e o “novíssimo” Greepeace, em posição aos movimentos “tradicionais” protagonizados por partidos, estão diminuindo.


 


Mais do que encurtar distâncias geográficas, culturais e políticas, o Fórum de Belém almejou encurtar distâncias ideológicas. A palavra socialismo sempre esteve na boca de milhares que passaram pelos fóruns. Seja em oficinas autogestionadas, nas conferências, nos inúmeros debates, nas atividades culturais, estava alguém na mesa, no palco ou na platéia a defender a insígnia socialista.


 


Remédio para a crise é socialista


 


A diferença é que desta vez a palavra foi parar na boca de presidentes latino-americanos no mais marcante encontro que um Fórum já produziu. O socialismo foi proclamado em alto e bom som pelo presidente do Equador, Rafael Correa. ''O remédio para a crise é o socialismo'', ele disse. As saudosas referências à Ilha Rebelde feitas pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, e ao seu amigo, o comandante cubano Fidel Castro, não deixaram dúvidas sobre sua simpatia socialista.


 


Mesmo Lula, com o sabor da oratória que lhe é peculiar, ao desmascarar a receita neoliberal defendida pelo FMI à América Latina, reafirmou a atualidade do socialismo. “O FMI dizia que o deus Mercado podia tudo e o Estado nada podia. Agora a quem ele está pedindo socorro? É a esse mesmo Estado que ele tanto condenou. Eu espero que agora o FMI largue da gente e vá dar conselhos ao Obama”, disse Lula.


 


Espera-se que o quente verão — cheio de mormaço e chuvas tropicais, como se sentiu em Belém — da América Sul  agora alce vôo e contamine a crescente esperança da América do Norte. Também o profundo inverno que vive a Europa pode ser tocado pelos ventos sulistas. Enquanto as correntes de ar e água se agitam, aumentam consensos na perspectiva de ações efetivas, não apenas pela AL possível — porque esta já está acontecendo — mas, sobretudo, por “um outro mundo possível”.


  


As 22 assembléias realizadas neste domingo**:


 


– Justiça Climática em Copenhagen
– Assembléia de direitos humano
– Assembléia dos Direitos Coletivos dos Povos
– Assembléia ''Crise Civilizatória Bem Viver e Direitos Coletivos”
– Assembléia Geral contra a guerra, bases militares, militarismo e armas nucleares
– Assembléia Pan-Amazônica
– Assembléia Diante da crise: desenvolver o Fórum Social como um processo permanente a partir das proposta
– Assembléia Ciêncas e Democracia
– Assembléia de Negras e Negros no FSM 2009
– Assembléia de Mulheres
– Assembléia Por um mundo sem dívida: Auditoria e Reparações Já!
– Assembléia Rede de intercomunicação e de boas experiências
– Assembléia Globalizar a declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas
– Assembléia mundial da rede internacional unidas de direitos humanos
– Assembléia Luta contra a corrupção e a impunidade
– Assembléia Justiça para a Amazônia
– Assembléia Fórum Mundial da Educação
– Assembléia Alternativas às políticas migratórias securitárias
– Assembléia Uma resposta global contra a crise financeira
– Assembléia Cultura e educação transformadora
– Assembléia Alternativas para proteção dos ecossistemas Amazônicos
– Assembléia O trabalho na crise global


 


** O CIF divulgou que todas as cartas deverão ser publicadas na íntegra na página do FSM 2009.


 


Agenda mobilização proposta por algumas assembléias:


 


– Entre os dia 28 de março e 4 de abril: chamamento mundial para protestos contra o capital e a guerra
– 30 de março: dia de solidariedade à Palestina
– 17 de maio: dia internacional de ação contra as políticas de migração da União Européia
– 12 de outubro: dia internacional de luta contra a colonização e em defesa dos povos indígenas
– 12 de dezembro: dia de ação global por justiça climática e outros encontros temáticos e regionais
– mobilizações em datas significativas (Dia da Mulher, Dia do Trabalhador Rural, etc) e durante eventos multilaterais (Cúpula do G8, Cúpula Climática, etc)


 


* Carla Santos é jornalista do Portal Vermelho, presidente da Ubes de 1999 a 2001, e participou de sete fóruns dos nove já realizados.