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Greves selvagens devem se espraiar na Inglaterra

As usinas elétricas ao redor do Reino Unido estão aos braços com outro surto de greves selvagens na manhã desta segunda-feira (2), em protesto contra o emprego de trabalhadores estrangeiros em canteiros de obras. Os líderes sindicais estão andando no fio

Ontem, os ministros pareciam divididos entre aqueles que querem condenar a greve ilegal, e aqueles que acreditam que o governo deve ouvir os trabalhadores, as queixas, mesmo sem admitir suas ações. A pressão sobre os ministros vai aumentar na medida em que avançam os preparativos de um lobby do Parlamento para protestar contra o uso de trabalhadores espanhóis na construção de uma uma central elétrica em Staythorpe, Nottinghamshire.

Sindicatos numa saia curta

Os líderes sindicais estão andando no fio da navalha, pois não podem organizar ou admitir greves selvagens, ilegais desde as leis aprovadas nos anos 1980 [durante o governo antitrabalhista de Margaret Thatcher], mas querem ser vistos defendendo suas bases que se sentem ameaçadas pelo espetáculo de empregos sendo dados aos trabalhadores estrangeiros por contrato.

Paul Kenny, líder do possante sindicato GMB, 570 mil filiados, atacou o ministro de Negócios, lord Mandelson, por afirmar que as mesmas leis que permitem que os trabalhadores da UE [União Européia] trabalhem na Grã-Bretanha também abrem empregos na UE a trabalhadores britânicos. Kenny comparou-o a Norman Tebbit, o conservador de direita, que foi secretário de Emprego na década de 1980, tendo sugerido que os desempregados deveriam pegar suas bicicletas e ir procurar trabalho. ''É ultrajante Mandelson aparecer com a linha Norman Tebbit, propondo que se pegue a bicicleta e vá até Bruxelas'', disse Kenny.

O GMB tem contatado os parlamentares trabalhistas, reclamando que duas centrais elétricas e de uma refinaria de petróleo têm estrangeiros contratados, enquanto se recusam a contratar trabalhadores britânicos. A reivindicação é que apóiem uma ação para pressionar o Parlamento, planejada para 10 de Fevereiro.

Steve Kemp, assessor político do GMB, alegou que uma empresa francesa, a Alstom, está empregando sub-empreiteiros espanhóis para construir a estação de Staythorpe, em Newark. ''O sub-empreiteiros estão empregando trabalhadores espanhóis e recusando-se terminantemente empregar trabalhadores britânicos desempregados. Isto é, mesmo após a Alstom encarregou o sub-empreiteiro para empregar trabalhadores britânicos'', disse ele. ''Também chegou ao GMB que a Alstom pretende empregar cerca de 250 trabalhadores estrangeiros na mesma usina''. Ninguém da Alstom pôde ser contatado ontem.

Esta semana, o maior sindicato britânico, Unite, vai convocar dezenas de delegados sindicais da construção civil em todo o país, para um encontro de emergência. Com ele, espera convencer os ministros da necessidade de agir. A seção de construção civil da Unite tem sido, tradicionalmente, mais próxima de Gordon Brown do que quase qualquer outro sindicato.

''Não nos avisam até o último minuto''

As greves tiveram início na semana passada, num protesto local contra o uso de italianos e portugueses na refinaria de petróleo de Lincolnshire Lindsey. Depois se espalharam rapidamente por todo o norte da Inglaterra e Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. A empresa petrolífera proprietária da refinaria, a Total, disse: ''É legal que os sub-empreiteiros contratem os seus próprios empregados, mas onde aparecerem vagas iremos trabalhar com os nossos sub-empreiteiros para assegurar que os trabalhadores britânicos sejam considerados da mesma forma que qualquer outra pessoa. ''

Lord Mandelson, afirmou: ''Isto deve dar total tranquilidade às pessoas que estão compreensivelmente preocupadas com empregos, de que não haverá uma política de discriminação contra empresas britânicas e, sempre que estas vagas sejam anunciadas, trabalhadores britânicos estarão livres ocupá-las. Congratulo-me com esta declaração. Ela esclarece os fatos e deixa claro que a legislação britânica será plenamente mantida.''

Mas a declaração da Total pode não ser suficiente para evitar mais greves. Estas devem atingir novamente a maior usina nuclear da Grã-Bretanha, a de Sellafield, onde se espera que centenas de trabalhadores da construção civil participem de um protesto de massa em um estacionamento próximo.

''Nós realmente não sabemos quanta gente estará em greve amanhã'', disse um assessor sindical. ''É muito difícil avaliar a dimensão disto, porque muitas vezes eles não nos avisam até o último minuto. É uma ação espontânea. Num minuto, não há concentração. No minuto seguinte, eles estão em greve. Nós estamos convocando os delegados sindicais. Estes não são as pessoas que organizam as greves, são os oficiais, os representantes eleitos.''

Cada político, uma opinião

O primeiro ministro Gordon Brown disse ontem no Politics Show da BBC-1 que ele entende os receios dos trabalhadores quanto ao emprego, mas agregou que entrar em greve ''não era a coisa certa a fazer e não é defensável ''. Um ministro o contradisse, em privado, comentando: ''Dizer que os trabalhadores não devem cair no protecionismo não significa muito quando eles estão preocupados com seus empregos. Nós não admitimos uma ação ilegal, mas as preocupações que eles expressam são justificadas.''

Mas o ministro da Saúde, Alan Johnson, um ex-sindicalista dos correios, usou um tom diferente quando fez um apelo em favor da mudança da legislação da UE para impedir que as empresas locais de rebaixar salários empregando trabalhadores estrangeiros. Outros ministros expressaram dúvidas dobre s revisdão das diretivas da UE. Um aliado de Brown disse: ''Isto não é boa política. Geraria grandes expectativas. Podemos não conseguir um acordo e, mesmo se o conseguíssemos, levaria meses.''

Sindicatos em toda a União Européia estão há meses em campanha por mudança, depois de duas decisões judiciais, na Suécia e na Finlândia, que interpretaram a legislação da UE no sentido de que as empresas tinham autorização para contratar  trabalhadores dos ex-Estados comunistas do Mar Báltico por salários e condições abaixo das devidas aos escandinavos.

''Se os trabalhadores estão sendo levados no sentido de piores termos e condições, para na verdade arranjarem emprego na frente de trabalhadores britânicos, na base de rebaixar os termos e condições, isto seria errado, e eu posso entender a raiva deles'', disse Johnson no programa Andrew Marr, da BBC. ''Não creio que greves selvagens ajudem nesta situação. O que precisamos é fazer uma análise calma do que realmente está acontecendo.''

Deputados trabalhistas apoiaram Johnson nos chamamento por uma mudança na legislação da UE. O ex-ministro trabalhista Frank Field, copresidente de um grupo interpartidário sobre a imigração, disse: ''Este tipo de contrato claramente não pode continuar.''

Peter Hain, outro ex-ministro, disse que algo tinha saído ''muito errado'' com as leis trabalhistas britânicas e que era hora de parar ''com os luxos'' da legislação da UE e ''defender os direitos dos trabalhadores britânicos''. Ele afirmou ainda que a forma como a lei tinha sido implementada não parece ter''protegido adequadamente os trabalhadores locais'', que tinham as qualificações necessárias.

Mas Nick Clegg, o líder dos liberal-democratas, advertiu: ''Qualquer tentativa de vedar a cidadãos da UE postos de trabalho na Grã-Bretanha seria um enorme gol contra. Se cada país da UE seguisse o exemplo, teríamos de fazer face a um maciço retorno de cidadãos britânicos que trabalham no exterior.''

* Fonte: The Independent; intertítulos do Vermelho