Adolescentes avaliam educação, cultura e participação juvenil

BELÉM (PA) – Em entrevista à Agência Unama, meninos e meninas de diversas classes sociais da Região Metropolitana de Belém (RMB) afirmam que pouco foi feito para a garantia de direitos infanto-juvenis no ano de 2008. As áreas de saúde e educação são as

Para a estudante Kamylla Silva, de 17 anos, o quadro da saúde na capital paraense é preocupante. Para ela, faltam profissionais qualificados nas casas públicas de saúde e é necessária mais organização para manter a ordem nos hospitais.


 


A adolescente fala sobre o assunto com conhecimento de causa. Há dois meses, o tio de Kamylla sofreu um ataque cardíaco e precisou utilizar os serviços oferecidos pela rede pública.


 


Meu tio ficou muito mal e foi aí que pude ver o quanto esses serviços estão defasados. Fomos para um hospital público e lá eles não sabiam nos informar nada sobre o estado do meu tio. Cada médico dizia uma coisa diferente, eles entravam em contradição o tempo todo”, lembra a menina.


 


Kamylla espera que, em 2009, os serviços públicos de saúde sejam ofertados de maneira organizada para que a população possa ser tratada com dignidade. “Assim como meu tio precisou dos serviços de saúde, era eu quem poderia estar no lugar dele ou uma criança de três anos. Fiquei abismada quando percebi que o direito à saúde de qualidade não está totalmente garantido para as crianças e adolescentes aqui de Belém”, diz.


 


EDUCAÇÃO – Os desafios ligados à educação no Pará são diferentes segundo as perspectivas de alunos e do governo. A estudante Tainá Upton tem 16 anos e acabou de passar para o convênio na escola Estadual de Ensino Médio Pedro Amazonas Pedroso, no bairro do Souza em Belém (PA). Ela diz que ter acesso a um ensino de qualidade no ano do vestibular é a sua principal preocupação. “O que se ensina na sala de uma escola pública não é o suficiente. Infelizmente meus pais vão pagar um cursinho para reforçar o que na escola onde estudo não dá”, conta a estudante.


 


A preocupação de Tainá é justificável.  Os alunos das escolas públicas normalmente ficam temerosos ao concorrerem com os alunos de escolas particulares por uma vaga no ensino superior. O maior vestibular do estado é o da Universidade Federal do Pará (UFPA), que trabalha com o sistema de cotas em que 50% das vagas são para candidatos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. Desse percentual, 40% das vagas são reservadas a estudantes que, além de terem cursado todo o ensino médio em escolas públicas, declaram-se pretos ou pardos.


 


Segundo o estudante do segundo ano do ensino médio Gustavo Soares, o sistema de cotas não garante o acesso à universidade. O adolescente de 17 anos estudou da quinta série ao primeiro ano do ensino médio em escola pública e os pais dele decidiram colocá-lo em uma escola particular para que ele tivesse mais chance de conseguir uma vaga na universidade. “Eu não vejo o sistema de cotas como garantia. Para mim, é uma maneira de esconder os problemas das escolas públicas como a falta de professores e de equipamentos melhores dentro da sala de aula”, acredita Gustavo.


 


O Coordenador do Ensino Médio da Secretaria de Educação (Seduc), Ronaldo Lima, diz que o foco do projeto de ensino para as escolas públicas do estado é a formação do indivíduo e não só os vestibulares. “O projeto para o Pará é de um ensino médio unificado. O aluno será um indivíduo preparado tanto para o vestibular, quanto pra o mercado de trabalho”, explica Ronaldo.


 


O projeto de ensino da Seduc é um conjunto de medidas elaboradas para o ensino médio no Pará. No inicio de 2008, o plano foi lançado com o objetivo de organizar e melhorar as escolas públicas. “Nós dedicamos o ano de 2008 para estruturar a educação com o concurso para professores e técnicos pedagógicos, reformas e construções de  escolas em todos os municípios do estado e a reestruturação da maquina administrativa para diminuir a burocracia das medidas direcionadas à educação”, afirma o Ronaldo.


 


O representante da Seduc também explica que os principais empecilhos para concretizar esses objetivos são a grande burocracia do Estado e o alto índice de violência nas escolas. “Acreditamos que novas políticas internas serão trabalhadas para melhorar a administração da secretaria, além dos editais que vamos lançar para que as escolas possam criar atividades que conscientizem a participação dos estudantes na diminuição da violência nas escolas”, diz Ronaldo Lima.


 


CULTURA – A pouca divulgação e a falta de acesso às diversas formas de artes estão entre as principais reclamações dos adolescentes em relação às políticas de cultura realizadas na Região Metropolitana no ano de 2008.


 


A estudante Kamylla Silva, por exemplo, diz que faltou divulgação das atividades culturais que ocorreram na RMB referentes ao teatro. “Gosto muito de teatro e gostaria de ter assistido a mais peças este ano. Acho que faltou mais repercussão dos espetáculos na cidade”, diz a adolescente. Para ela, estar inserida em um contexto cultural é fazer parte de um movimento que reforce a participação juvenil em atividades produtivas.


 


Sempre tive vontade de atuar como atriz. Tenho amigos próximos que escolheram o lado errado da vida e hoje estão nas ruas, fazendo o que não deve. E, ao mesmo tempo, tenho exemplos de amigos que resolveram se aproximar do teatro e não fazem coisa errada”, afirma.


 


Para a adolescente Amanda Soares, de 16 anos, a dança é que precisaria ser mais incentivada pelo poder público. Apaixonada por esse tipo de arte, a estudante acredita que ainda é necessário apoiar os grupos de dança que não têm acesso às políticas de incentivo cultural oferecidas pelo Estado.


 


Fico triste em ver que ainda são poucas as companhias que se destacam aqui na capital. Queria que todas elas tivessem um espaço para mostrar o trabalho que elas realizam. Assim, eu e muitas pessoas ficaríamos incentivadas ainda mais pela arte”, destaca Amanda.


 


Segundo a Secretaria de Estado de Cultura (Secult), o ano de 2009 será repleto de diversidade artísticas e culturais, como teatro, dança, música, fotografia e artesanato. O coordenador da Unidade Gestora do Programa Pará Mais Cultura, Alcyr Santos, da Secult, o público infanto-juvenil será o mais beneficiado pelas ações que serão desenvolvidas pela secretaria.


 


Crianças e adolescentes são nosso foco principal para as políticas públicas relacionadas à cultura. Projetos estão sendo pensados para que esse público se sinta privilegiado com cursos e oficinas”, afirma Santos.


 


O coordenador destaca ainda a aprovação de 60 projetos ligados ao Programa Pontos de Cultura, uma parceria entre o Ministério da Cultura (Minc) e governo do Estado, em que a população paraense terá a oportunidade de participar de atividades lúdicas e culturais em vários municípios do interior do Estado. Os projetos serão implementados no Pará a partir de 2009.


 


PARTICIPAÇÃO JUVENIL – A participação juvenil, na opinião de adolescentes paraenses, foi insuficiente em 2008. Mesmo acreditando que essa participação está diretamente ligada ao futuro do país, meninos e meninas dizem que a cada dia a juventude está mais distante e descrente de alguns setores da sociedade. 


 


Para alguns alunos de escolas públicas, particulares e integrantes de movimentos sociais, entrevistados pela Agência Unama, a opinião é unânime: ainda falta compromisso com as causas sociais por parte da maioria dos adolescentes. Para eles, isso ocorre porque faltam incentivos de políticas públicas que façam com que eles se dediquem a ações desse tipo.


 


Fonte:


Jornal Diário do Pará