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Na China, brasileiro se diz preparado para enfrentar crise

O maior exportador de sapatos femininos da China, com 35 milhões de pares vendidos em 2007, é um gaúcho descrito pela revista britânica The Economist como um ''empresário vitorioso da globalização''. Nascido em uma família de calçadistas em Sã

Hoje à frente dos negócios, Correa trabalha como agenciador -os clientes internacionais solicitam os sapatos e a Paramont cria amostras e vai atrás de fornecedores que possam produzir em tempo, qualidade e preço necessários.


 


Nos últimos anos, Correa virou sócio de quatro grandes fábricas chinesas e buscou fornecedores na Índia e no Vietnã. Ele fechou no ano passado a operação brasileira, que vinha definhando. Nesta entrevista, o empresário explica a crise que afeta o setor exportador chinês e como é fazer negócios no país.
 


Crise da nova China


 


''Mais de mil fábricas de calçados fecharam neste ano, outras tantas devem fechar. O rendimento apertou. Houve queda na demanda externa e os custos aumentaram muito.


 


O yuan se valorizou 20% em dois anos, os salários dos funcionários aumentaram e os custos trabalhistas também. Muitos empresários só conheceram as vacas gordas, têm administração antiquada: agora vem um momento de ajuste, de melhoria na gestão. A vantagem é que no Brasil passamos por várias crises, estamos preparados.''


 


Antiduping


 


''Nós nos adiantamos à crise. Comecei a procurar fornecedores há quatro, cinco anos, em outras Províncias chinesas, por conta do encarecimento de Guangdong. Começava do zero, com fábricas que não trabalhavam para o mercado externo, que precisavam dar um ''upgrade'' em seus produtos, mandava nossos técnicos supervisionarem a operação.


 


Também achei fornecedores na Índia e no Vietnã, não apenas por conta dos custos, mas porque, por exemplo, o que é produzido no Vietnã não é barrado por antidumping no México, onde a alíquota para produtos chineses é mais alta.''


 


Sem rivais


 


''Não há outra China. Mesmo no Vietnã, que tem 85 milhões de habitantes, pequeno para os padrões asiáticos, os salários estão disparando, há greves e a infra-estrutura não é tão boa. A China investiu muito''.


 


''A Província de Guangdong foi escolhida no início da abertura porque estava ao lado do oceano, era vizinha de Hong Kong, perto de Taiwan, ganhou grandes portos. As outras Províncias não têm como competir: 63% dos calçados do mundo são produzidos na China.''


 


Paciência


 


''Do momento em que o meu pai começou a pesquisar o mercado chinês até montar o escritório foram cinco anos. Ele contratou um taiwanês para chefiar, alguém que conhecia o mercado. Muitos empresários desistem da China por falta de paciência.''


 


''Vim para a China em 1996, quando a empresa já estava montada. É fundamental saber se cercar dos melhores parceiros, ter paciência e saber que o chinês sempre vai falar o que você quer ouvir, mesmo que não tenha condições de entregar o que você pede.''


 


Reação rápida


 


''O governo reage rápido. A restituição de impostos a produtos exportados, que vinha caindo, voltou a subir para dar mais fôlego ao exportador.''


 


''O pacote econômico deu um sinal de que o governo chinês não vai admitir um crescimento menor do que 8% nem que precise gastar bilhões. Há muito temor por uma crescente onda de desemprego, por aumento da violência, parece que até vão congelar o salário mínimo.''


 


Empregos


 


''O que acontece na China é bem diferente do Brasil. Dongguan tem 10 milhões de habitantes, 7 milhões dos quais são migrantes rurais. Em sua maioria, eles não trazem família. A mulher e o filho ficam no campo, e eles moram nos dormitórios das próprias fábricas.''


 


''Se ficam desempregados por um tempo e o dinheiro começa a acabar, eles voltam para o seu pedacinho de terra. Houve uma crise na mão-de-obra que agora começa a se reverter. A troca de emprego era muito alta -por pouco dinheiro as pessoas pulavam de emprego em emprego.''


 


Saída do Brasil


 


''Não dava para competir com os calçados sintéticos, muito mais baratos do que os brasileiros. Mas os chineses não sabiam fazer produtos de couro com qualidade. Importamos muitos técnicos do Brasil. Hoje, o calçado chinês tem a mesma qualidade do brasileiro. Eles aprendem rápido.''


 


''Meu pai cuida do pensamento estratégico, mas não mora na China, acompanha de longe. Ele está no Uruguai, com pecuária. Tinha uma fazenda em Bagé, que foi ocupada pelo MST, foi muito traumático. Aí ele se desfez da terra e foi [embora]. É mais sossegado.''


 


Mercado Chinês


 


''Até outubro, não senti diferença. Neste ano, teremos uma queda de 5% nas vendas, o que não é muito, comparado com outros, que perdem 20%, 30%. Variamos os clientes, hoje vendemos para a Austrália, Japão, México e a alguns países europeus 20% da nossa produção.''


 


''Vamos criar uma marca para o mercado doméstico de sapatos femininos de padrão mais elevado, de US$ 180. No futuro, 50% da produção chinesa será para o mercado interno.''


 


Vida na China


 


''Em Dongguan tem X-Tudo, pizzaria e churrascaria brasileira. Na empresa temos cardápios brasileiro e chinês na cantina. Não falta feijão. Meus filhos estudam em colégio internacional e já falam mandarim.''


 


''Nós nos sentimos muito protegidos, há muita segurança aqui. A vida noturna e a vida social não são comparáveis com as do Brasil, mas pelo menos Hong Kong está perto. Mas há muitos brasileiros que não se adaptam, vêm, não gostam. Não é fácil.''


 


Matéria modificada a 1h59min. 


 


Fontte: da redação, com informações da Folha de S.Paulo.